Surgidos como resultado da crise económica que varreu o Japão e sua filosofia de emprego vitalício, nos anos 90, os «freeters» (uma palavra formada pela palavra inglesa «free» e «Arbeiter», trabalhador, em alemão) flutuam entre trabalhos temporários.
Com salários de cerca de mil ienes (6 Euros) por hora, muitas vezes encontram dificuldades para pagar aluguer na capital japonesa (Tóquio), uma das cidades mais caras do mundo, onde um pequeno apartamento de 30 metros quadrados num bairro central pode facilmente custar 150 mil ienes (1,000 Euros) por mês.
Actualmente a economia no Japão está a recuperar, mas muitos dos “freeters” não conseguem aproveitar esta maré, depois de vários anos como trabalhadores sem quaisquer qualificações. A maioria das empresas em expansão prefere recrutar jovens acabados de licenciar, ou transferir os empregos básicos a países de baixos salários, como a China.
O Instituto do Trabalho japonês classifica e divide este fenómeno dos “freeter” em três grupos, o tipo moratorium que esperam por começar uma carreira, os “perseguidores de sonhos”, e os do tipo “sem alternativa”. Os dois primeiros tipos escolhem deliberadamente não se juntarem ao grupo das empresas rigorosas e conservadoras, em vez disso preferem tirar umas “férias” para gozarem a vida ou tentar realizar os seus sonhos que são incompatíveis com o standart de uma vida laboral japonesa. Muitos “freeters” esperam começar a sua vida de trabalho mais tarde de forma a conseguirem um bom ordenado para suportar a família, enquanto que as mulheres esperam casar com um marido que esteja financeiramente seguro para que também possa asegurar a vida familiar. Já os do tipo “sem alternativa” não conseguem encontrar trabalho depois de terem terminado a escola ou universidade, e consequentemente aceitam trabalhos de ordenados baixos para terem em troca algum dinheiro.
Toda esta situação leva a que a maior parte destes “freeters”, com idades entre 25 e 30 anos de ambos os sexos sejam considerados uns sem-abrigo. Apesar disso, eles vestem-se cuidadosamente tratando da sua aparência e conscientes da moda, parecendo um típico morador de Tóquio. Escolhem os cybercafés por ser mais barato que os hoteis, e com as mesmas ou melhores condições do que as que os hoteis oferecem: acesso à internet, uma boa quantidade de mangá, micro-ondas e um chuveiro para o banho matinal antes de começar mais um dia de trabalho temporário.
Outra situação ainda mais extrema que ocorre no Japão, são as pessoas que optam mesmo por ficarem “sem-abrigo”. A este estado foi dado o nome de NEET, uma classificação criada inicialmente pelo governo no Reino Unido, mas que rapidamente passou a ser utilizada em outros países, inclusive o Japão. A sigla é: “Not currently engaged in Employment, Education or Training”, (em português seria algo como “Actualmente sem Emprego, Educação, e Estágio”). No Japão, o termo compreende pessoas de idade entre 15 e 34 anos que são desempregadas, solteiras, não registradas na escola, não procuram trabalho ou estágios profissionais necessários para trabalhar.
Segundo alguns estudiosos consideram-nos um caso patológico, estas pessoas estão incapacitadas para interagir com as pessoas que as rodeiam, não é que não queiram tabalhar, apenas não conseguem fazê-lo.
Se os NEET são a rebelião silenciosa, os freeters são a parte activa desta rebelião, e dizem à sociedade que não pretendem trabalhar uma vida inteira e que não querem trabalhar como máquinas, são seres humanos e querem viver como tal.
A preocupação do governo não está centrada no indíviduo, seja ele um NEET ou um “freeter”, mas sim no aspecto económico do país. O maior pico registado até hoje foi de 2,17 milhões de trabalhadores temporários em 2003. A meta do governo é cortar o número de freeters para 1,74 milhões até 2010.
Escrito por: Fernando Ferreira