«Mais rock, menos conversa» poderia ser o lema da banda que tem um homónimo no outro lado do mundo. Estes são japoneses e fazem música instrumental de qualidade com influência post-rock. O ClubOtaku esteve à conversa com os toe para falar do seu último registo, o EP “New Sentamentality” e deles próprios.
A primeiro aspecto que ressalta à vista ao escutar a música dos toe é a química que existe entre os membros, ou seja: cada membro parece saber intuitivamente aquilo que os restantes membros vão fazer, sem necessidade de comunicação verbal. Com este aspecto em mente, poderiam explicar o que é que vos inspirou a tocar música juntos, e como é que se conheceram?
Comecei a fazer música com o Mino, o outro guitarrista e foi assim que os Toe apareceram. Depois disso, convidei o Kashikura que tocava bateria noutra banda e depois chegou o Satoshi que era membro dos Emotional Hardcore Punk, banda à qual também perenci. Estes são os Toe, como os conhecemos hoje.
Outro aspecto interessante na música dos toe é o equilíbrio entre os diferentes instrumentos. Enquanto na maior parte das bandas, a bateria é apenas um elemento de suporte que acompanha os acordes da guitarra, nos Toe a bateria é um elemento indispensável para definir a identidade de cada tema. As guitarras e o baixo criam “texturas” e “ornamentos” musicais que expandem as frases musicais tocadas pela bateria. Poderiam explicar como ocorre o processo criativo nos toe, e como conseguem gerir o equilíbrio entre cada instrumento num tema?
Normalmente criamos uma tema a partir de um “riff” de guitarra ou uma pequena melodia, mas também gostamos da imagem sonora que a bateria ou o baixo nos dá. Como consequência desta situação, pensamos que a guitarra é um ornamento para a bateria e o baixo da nossa música.
Quando estamos a criar as nossas músicas, tentamos sempre capturá-las como ouvintes. Acreditamos que as coisas que queremos tocar e as coisas que queremos ouvir não são sempre a mesma coisa. Por isso, conscientemente creamos o que queremos ouvir ou testar num concerto. Penso que é assim que atingimos o balanço na música que mencionaste.
As diferentes partes que compõem as músicas dos toe estão montadas com a precisão de um relojoeiro suíço. Em média, quanto tempo demoram para criar uma música? Quando é que sentem que um tema está concluído? Quando existe um equilíbrio entre as diferentes partes que compõem a música? Ou, por outro lado, uma música nunca está completa, e os Toe divertem-se a modificar e reinterpretar as músicas durante os concertos?
Isso varia muito, mas tens temas que fazemos rapidamente no estúdio. Mas também tens músicas que estão por acabar à vários anos.
Nunca criamos músicas improvisadas. Nos concertos tocamos sempre coisas que já tenham sido criadas anteriormente, embora façamos sempre uma improvisação para estender os temas.
Notam-se várias mudanças de sonoridade entre o vosso álbum e o novo EP (New Sentimentality). No álbum o som é bastante líquido e cerebral, no sentido em que as partes de cada tema conectam-se de uma maneira fluida, quase natural. Mas existe nesse álbum uma forte tensão entre o aspecto humano e o tecnológico. Às vezes, existe a sensação que os Toe procuram tocar com a precisão de uma máquina. Noutros momentos, existe uma crueza de som (distorção, baterias com ritmos mais intensos) que revela o lado mais humano dos Toe. Mas no “New Sentimentality”, As músicas revelam um lado doce, com ritmos “tropicais” e latinos, ou com partes melancólicas que relembram a nostalgia e a época do Outono. O que vos motivou para efectuar esta mudança na sonoridade?
Não foi nada intencional. Aconteceu desta forma. As pessoas podem ter sentido essa mudança na nossa música, mas para nós, apenas tocamos o que queriamos ouvir. Nada mudou.
Lançaram um DVD, o “RGB”. Como foi o processo de concepção do DVD? Como é que os Toe se relacionam com as imagens na sua música? Criar visuais para os temas foi um processo fácil ou difícil?
Fazemos e tocamos música com o intuito de tocar ao vivo. E fazemos CDs porque gostamos de gravar, e também serve para “guiar” as pessoas aos nossos concertos e sentirem mais de perto a nossa performance.
Quanto ao DVD, fizemo-lo com um registo do nosso primeiro grande concerto, e para mostrar a toda a gente como é que são os concertos dos toe. Música e performance é tudo o que representa a banda. Contudo, pensamos que quando estamos a criar alguma coisa relacionada com a banda, tem que aparecer algo que expresse a atitude da banda, ou seja, não temos que fazer coisas que não nos pareçam bem.
O trabalho gráfico do CD foi feito pelo designer Makoto Nii, os videos e a concepção do DVD ficou da responsabilidade da Euphoria Factory.
Apresentamos a ideia base, mas depois queriamos que trabalhassem os Toe como sendo a matéria-prima para a criação artística. Pusemos toda a confiança no seu talento, e sentimo-nos com muita sorte por termos artistas tão talentosos como nossos amigos.
Podem dar uma idéia de como soam os novos temas? Seguem as pistas lançadas pelo “New Sentimentality”, ou vão noutras direcções inexploradas?
Nunca temos a certeza de qual será o caminho musical que iremos seguir, mas pensamos que devemos continuar a usar as sonoridades das guitarras clássicas, por isso talvez consideremos continuarmos a rota traçada pelo álbum “New Sentimentality”.
Uma das grandes dificuldades de uma banda “underground” é adquirir sustentabilidade financeira. Sentem que no Japão, foi difícil para os Toe obterem um estatuto que lhes permitisse dedicar mais tempo à banda? Ou, por outro lado, é ainda necessário ter trabalhos em part-time/full-time para sobreviver?
Todos os membros da banda têm emprego.
Uma das razões porque a nossa música não nos dá uma sustentabilidade financeira é que não criamos música comercial, mas apesar desta situação não nos sentimos mal, porque acreditamos que ao tornar a actividade da banda na fonte de rendimentos principal, de alguma maneira isso transformou-se numa barreira á nossa criatividade.
Pessoalmente, penso que não seria capaz de continuar criar música quando as nossas vendas de CD fossem a principal fonte de receitas da minha vida. Por isso, todo o dinheiro que vem da venda dos CDs ou dos concertos vai para comprar equipamento novo, pagar estúdios (as salas de ensaio no Japão são bastante caras), e para pagar às pessoas que nos ajudam nos nossos concertos.
Não é preciso dedicar-se à música a tempo inteiro para criar-se boa música. É nisso que acreditamos. Por outras palavras, tu podes ter outro trabalho e fazeres boa música. Relativamente aos Toe, os nossos trabalhos permitem-nos ter flexibilidade horária por isso não temos muitos problemas em sairmos em torneé.
O que acham da reacção dos fãs ocidentais no vosso myspace? Acham que há condições para uma tourné europeia/americana?
Estamos muito contentes por saber que as pessoas fora do Japão gostam da nossa música e o myspace têm-nos mostrado isso. Mas, neste momento o nosso CD está apenas disponível através de lojas virtuais: Amazon Japan e em pequenas lojas de discos aqui no Japão.
As edições japonesas importadas são relativamente cardas comparadas com as lançadas e distribuidas no Japão, por isso estamos à procura de editoras que possam distribuir e vender a um preço apropriado conforme o país. Ao que sabemos, existe uma editora americana que está interessada em editar alguns dos trabalhos dos Toe. E com isto, irmos fazer uma tourneé pelos Estados Unidos ainda este ano ou no ínicio do próximo.
Não temos planos para uma torneé pela Europa, mas queremos sinceramente dar uma série de concertos em vários países.
Por fim, qual é o peso das influências ocidentais versus japonesas na vossa música? É algo em que pensem, ou as influências revelam-se de forma subtil, sem pensar nisso? Acham que a cena musical underground japonesa aprendeu a equilibrar as influências ocidentais e orientais na sua música?
Quando falas de música japonesa não sei a que tipo de música te referes. Se à música tradicional japonesa, se à música pop, ou ainda à música Enka (uma espécie de música “country” japonesa). Estamos na era da Internet, onde qualquer pessoa pode influenciar, dominar e controlar todo o tipo de informação sem que olhemos para quem a coloca ou de onde a coloca. Além disso, as pessoas já não vêm a música de certos países como sendo mais “cool” do que a de outros países, mas vêm-na como uma música global. E penso que as pessoas da cena “underground” japonesa têm o mesmo pensamento.
E para terminar, querem deixar alguma mensagem para os fãs portugueses e aos leitores do ClubOtaku?
Esperamos poder fazer uma torneé europeia para breve. E claro que Portugal está incluído, e quando isso acontecer esperamos que todos nos venham ver. Obrigado por nos lerem!
Site Oficial: http://www.toe.st
MySpace: http://www.myspace.com/toemusic
Escrito por: Bebio Amaro