Masuoka nome do personagem principal interpretado por Shinya Tsukamoto (realizador do filme de culto Tetsuo: The Ironman), é um operador de câmara profissional, que devido à sua profissão consegue “ver” melhor do que qualquer outra pessoa.
Por causa desta sua obsessão, Masuoka grava um suícidio no metro de Tóquio. E decide a qualquer custo descobrir o que aquele homem suicida vio para lhe causar aquele acto. Nessa sua busca, descobre o mundo subterrâneo do metro da capital japonesa, onde vivem os “Deros”, um mundo mítico que está situado no centro da tierra e onde vivem seres estranhos que atormentam os Homens. Continuando a sua investigação descobre numa concavidade de uma rocha uma jovem atada por correntes, que a salva e a leva para sua casa para dar-lhe os cuidados médicos e ensinar-lhe as regras básicas de comportamento. À primeira vista, esta dócil rapariga tem um pequeno segredo alimentar, para sobreviver precisa de sangue humano.
Shimizu alterna os pontos de vista da acção do princípio ao fim, alternando o uso da videocâmara do protagonista de modo a criar uma vista subjectiva com a uma narrativa mais convencional sem utilizar a câmara digital. São óbvias as vantagens desta alternância de filmagens, a primeira delas todas e talvez a maisimportante é a redução de custos e cinematograficamente falando, ao usar a gravação digital na primeira pessoa consegue criar uma atmosfera mais próxima do espectador, colocando-o mesmo no centro da história.
De qualquer forma, todas estas situações de carência de meios ou da utilização de várias técnicas de filmagem são compensadas se existir uma história realmente interessante. Por isso, esta forma não é novidade no cinema japonês, que ao contrário do cinema ocidental não procura que o espectador empatize nem que procure a “catarsis” dos finais felizes, o que o cinema japonês quer do espectador é que observe e valorize a objetividade que vê no filme e não a subjetividade da suas emoções mais fáceis de provocar.
Quem conhece o nome de Takashi Shimizu também sabe que ele realizou outros filmes que tiveram algum sucesso no ocidente, como por exemplo “Ju-On 2” (2004), um filme que revolucionou o género de terror provocando uma “moda” de filmes que seguiram o mesmo padrão de fantasmas femininos. Marebito não está no mesmo saco das outras longa-metragens do realizador, aqui creio que chega mesmo a superar as espectativas e possivelmente mais dentro do seu género conseguindo assim um terror muito mais psicológico e uma história mais completa cheia de referências.
Marebito, ou The Stranger from Afar como é conhecido internacionalmente e que foi vencedor do BIFFF (Brussels International Festival of Fantasy Film) no ano de 2005, pode ser incluída dentro da nova corrente de cinema de terror japonês, corrente já apelidada por alguns criticos de “NVOJHM” (“nouvelle vague” do cinema de terror japonês”, não confundir com “New Wave Of Japanese Heavy Metal”) que segundo esses mesmos criticos é mais direccionada para títulos como por exemplo Ju-On, Dark Water ou Ringu (para citar ps filmes mais conhecidos), que se baseiam numa linha de terror psicológico bastante mais próxima a alguns títulos ocidentais.
Autor: Fernando Ferreira