Quatro anos depois de ter recebido o Prémio Nobel da Literatura, Yasunari Kawabata (o primeiro japonês a receber este prémio) morre com 73 anos depois de uma vida bastante atribulada. Nasceu no século XIX (1899), na cidade de Osaka e desde criança sonhava ser pintor mas optou por tornar-se escritor depois de ter publicado alguns contos durante o tempo em que frequentou o liceu. Ainda jovem foi marcado por acontecimentos trágicos ficando órfão com três anos. Perdeu o resto da família ainda muito novo, a avó com apenas sete anos, a irmã com nove anos e o avô com catorze.
Face a estas enormes contrariedades da vida ruma para a capital japonesa onde ingressa na Universidade de Tóquio para estudar Literatura, durante este tempo forma, juntamente com Yokimitsu Riichi, um jornal de letras ” Bungei Jidai” que ajudava a promover um novo movimento literário (Shinkankakuha) que, segundo Kawabata e Yokomitsu, tinha como principais preocupações a apresentação de “novas sensações” na literatura.
Kawabata começou a ganhar reconhecimento com alguns contos publicados após ter terminado o seu curso, vindo a ser finalmente aclamado em 1926 com “Izu no Odoriko” (“A Dançarina de Izu”, título com que foi editado em Portugal pela Vega Editores), uma história que explorava o erotismo do amor juvenil.
O seu primeiro romance foi “Yukiguni” (“Terra de Neve” também editado em Portugal pela Don Quixote), começado em 1934 e publicado gradualmente de 1935 a 1937. “Terra de Neve” é uma história de amor entre um homem da cidade de Tóquio e uma gueixa de uma povoação remota onde este encontra um refœgio do stress da sua vida citadina. Este romance colocou Kawabata imediatamente na posição de um dos escritores japoneses mais importantes e promissores, tornando-se o romance num clássico instantâneo e que é, hoje, considerado uma das suas mais importantes obras-primas.
O seu estilo de escrita distingue-se por uma linguagem suave, mais abstracta que descritiva, onde predomina a subjectividade em relação é objectividade, aproximando-se muitas vezes da prosa poética.
Após o final da Segunda Guerra Mundial Kawabata continuou a publicar romances como Senbazuru, Yama no Oto (“A Casa das Belas Adormecidas” editado pela Assírio & Alvim), Utsukushisa to Kanashimi to e Koto (“Kyoto” em Portugal pela Dom Quixote). No entanto o romance que Kawabata considerava ser o seu melhor foi Meijin, publicado entre 1951 e 1954.
Kawabata foi ainda presidente do Pen Club japonês por muitos anos após a guerra. Apesar de, no seu discurso de aceitação do Prémio Nobel, ter condenado a prática do suicídio, acabou por fazê-lo em 1972, dois anos após o suicídio por “seppuku” de Yukio Mishima, de quem é considerado mentor.
Autor: Fernando Ferreira