Todos sabemos a facilidade com que se criam e se espalham as lendas urbanas, que vão passando de boca em boca até formarem os “medos” de uma sociedade. Num país como o Japão, com um extenso legado de demónios e espíritos vingadores, as histórias de meter medo são muitas vezes aproveitadas para serem criados imensos filmes de terror.
Para isso, basta recordar “Ring” que depois de visualizarmos uma cassete de vídeo morreremos passado 7 dias, ou “One missed Call” uma voz que nos avisa a própria morte.
Outra dos mitos urbanos é a história de uma bela jovem concubina de um samurai. A sua beleza era apenas comparada à dua vaidade e por isso gostava de a mostrar a outros homens traindo o seu samurai. Um dia, o samurai decidiu acabar com toda esta situação e atacou a jovem cortando a boca de orelha a orelha e perguntando-lhe “Se ela agora ainda pensa que é a mais bela?”.
Desde então o espírito da mulher vagueia em noites nublosas com o rosto tapado com uma mascara que tapa a boca. Quando algum jovem tem o azar de se encontrar com ela, a mulher pergunta: “ Sou bonita?”. Se a pessoa responde que sim, ela tira a mascara e volta a perguntar: “E agora?”. Se a vitima volta a responder afirmativamente, a mulher corta a cara. Se responde que não, é bastante provável que o mate.
Nos anos 70 coincidindo com uma série de sequestros de crianças, dizem que a Kuchisake Onna foi vista inúmeras vezes. Do mesmo modo, o rumor começou a circular na Coreia do Sul durante o ano de 2004, influenciada em grande parte pela história japonesa.
É esta a história do filme Kuchisake Onna, realizada por Koji Shiraishi e que estreou no Japão no ano passado (2007). O argumento é simples, e os actores aparecem algo caricaturados e perante uma história destas estavamos à espera de mais momentos de tensão durante o filme. Sem dúvida, que a parte mais interessnte do filme é a primeira meia hora, altura em que a personagem principal volta à vida e começa a raptar as crianças. A partir daqui, o filme divaga entre as pesquisas dos professores para impedir que as crianças continuem a desaparecer e o drama dos familiares das vitimas.
O problema principal do filme é a falta de tenção em algumas partes do filme. Apesar da caracterização de Kuchisake Onna ser realmente perturbadora, os seus ataques não resultam como deveriam.
As interpretações de Eriko Sato e Haruhiko Katou estão bem articuladas à história. A bela modelo Eriko Sato (que foi a actriz principal em Cutie Honey) é a responsável por dar vida à mulher de cara cortada.
Kuchisake Onna, é um filme que não defraudará os fãs mais incondicionais do terror japonês, mas não resultará para o resto dos espectadores. A surpreendente caracterização da mulher serve para atrair os mais incautos espectadores mas rapidamente descobrirão que o filme terá cenas suaves e dramas familiares. Com uma história tão interessante e atraente, poderiamos estar a assistir a um bom filme mas no final sentimos que faltou algo, e que o filme não esteve à altura.
Autor: Fernando Ferreira