“Light Yagami” (Tatsuya Fujiwara), filho de um inspector da polícia, é um jovem e brilhante estudante de direito, com um forte sentido de justiça. Contudo, encontra-se desiludido com o sistema judicial, pois vários delinquentes permanecem impunes após a prática de crimes horrendos. Certo dia, “Light” encontra um misterioso livro negro, pertencente a um Shinigami (literalmente “deus da morte”) chamado “Ryuk” (Shido Nakamura). Na realidade, o estranho achado é um objecto com um imenso poder mortal. Escrevendo o nome de uma pessoa nas páginas do livro, de acordo com certas regras, a mesma morre de ataque de coração passados 40 segundos.
Vendo uma oportunidade de debelar as lacunas da polícia e dos juízes, “Light” começa a fazer justiça pelas próprias mãos, escrevendo o nome dos criminosos que escapam às mãos do sistema. Com o tempo, começa a dar utilizações mais elaboradas à sua arma, descobrindo que consegue provocar mortes da maneira que lhe apetece e no tempo que lhe convier mais.
Trabalhando sob o pseudónimo de “Kira”, e tendo “Ryuk” a seu lado, “Light” provoca um verdadeiro massacre entre os criminosos de todo o mundo. A sua popularidade cresce imenso, principalmente entre os jovens, mas também chama a atenção da polícia que não pode permitir que alguém faça justiça de forma tão atroz. No entanto, as autoridades são impotentes perante a forma de actuação de “Light”, até que “L” (Ken’ichi Matsuyama), um jovem e brilhante detective, oferece a sua ajuda. O duelo entre as duas poderosas mentes começa, num típico jogo do gato e do rato.
O humano cujo nome seja escrito neste livro de notas morrerá;
A nota não terá efeito a não ser que a pessoa visualize a face do destinatário da morte quando estiver a escrever o seu nome. Assim, as restantes pessoas que partilhem o mesmo nome não serão afectadas;
Após a aposição do nome do destinatário, se a causa da morte for escrita num espaço de 40 segundos, a mesma efectivar-se-á;
Se a causa da morte não for especificada, o destinatário morrerá de ataque de coração;
Quando a causa da morte seja especificada, os detalhes da mesma deverão ser escritos nos 6 minutos e 40 segundos seguintes;
O humano que tocar neste livro consegue ver e ouvir o deus da morte que é o dono original. Não é necessário ser o possuidor actual do livro;
Este livro será propriedade do mundo humano, a partir do momento que toque no seu solo;
O humano que usar este livro não poderá ir nem para o céu, nem para o inferno;
Se a ocasião da morte for escrita 40 segundos após a sua causa, o tempo em que ocorre o decesso pode ser manipulado;
Mesmo que não seja o actual possuidor deste livro, poderá escrever na mesma o nome da pessoa a morrer, desde que o reconheça;
Este livro só é efectivo durante 28 dias, contados de acordo com o calendário humano. Este princípio é conhecido como “a regra dos 28 dias”;
Os indivíduos que percam a posse deste livro, igualmente perderão a memória de o terem usado;
Caso algum dia voltem a tocar no livro, todas as memórias de o terem usado retornarão.
Numa tradução livre, e por esse motivo, provavelmente dotada de algumas imprecisões, o conjunto de regras acima exposto, são as relativas ao uso do livro de notas da morte, o objecto que constitui o cerne da trama do filme objecto do presente texto. É sempre importante saber por que linhas nos cosemos, e por essa razão, entendi como fulcral que os leitores desta crítica percebessem verdadeiramente o que significa o uso daquele instrumento mortal.
Desta vez, o aclamado realizador japonês Shusuke Kaneko traz para a tela a adaptação “de carne e osso” de uma das mangas mais aclamadas de sempre do Japão, intitulada “Death Note”, da autoria de Takeshi Obata e Tsugumi Ohba. A banda desenhada venderia, imagine-se, 20 milhões de cópias só no país do sol nascente. Assim como seria previsível que a história teria honras de anime, igualmente aguardar-se-ia que a transposição para a sétima arte fosse também efectuada. Na realidade, quando nos referimos a “Death Note” é mais correcto falar em películas, porquanto “Death Note” para ser completamente apreendido, terá de ser conjugado com “Death Note: The Last Name”, que constitui a segunda parte da história. À semelhança de outras sagas que mereceram a atenção deste blogue, optou-se por respeitar as opções das companhias cinematográficas, dos produtores e realizadores, e por agora focar-me-ei apenas na primeira parte. Fica desde já a promessa que o próxima texto a colocar aqui no “My Asian Movies”, versará acerca de “Death Note: The Last Name”.
Apesar da sua premissa original e naturalmente apelativa para os fãs do lado mais sombrio da sétima arte, “Death Note” acaba por ter um argumento simples, facilmente perceptível e quase sempre bem conduzido. Trata-se de um clássico caso em que alguém tem o poder para fazer algo de grandioso no mundo, mas cujos caminhos que envereda acabam por corromper um objectivo magnânimo e justo. Já alguém dizia que “o poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente.” No caso de “Light”, a premissa ajusta-se que nem uma luva, pois partindo de um propósito inocente, embora algo justiceiro e errado, acaba por embarcar em atitudes que a “emenda sai pior do que o soneto”. No início trata-se de matar criminosos, que cometeram ilícitos hediondos. A certa altura, quando se vê confrontado com a perseguição que as forças policiais lhe movem, acaba por utilizar os mesmos métodos contra qualquer um que lhe possa fazer frente ou que esteja perto de descobrir a sua identidade. Isto causa uma transformação no outrora bem intencionado “Light”, tornado-o num ser mau, cuja perniciosidade acaba mesmo por surpreender o seu fiel companheiro, o deus da morte Ryuk.
Não é de admirar a aura negra e gótica do filme, atendendo à trama por onde navega. Apesar de este aspecto ser omnipresente na película, “Death Note” está longe de ser uma obra sangrenta, e aqui, consoante a perspectiva de cada um, poderá residir uma das falhas mais evidentes desta longa-metragem. Considerando que a esmagadora maioria dos alvos de “Light” falece de ataque de coração, e tendo o mesmo o poder de escolher as causas da morte, pergunta-se o porquê da falta de imaginação. Existem pessoas que clamavam por imolações, por enforcamentos, etc, etc,etc. Quanto a mim, julgo que a opção resultou bem, porquanto o epílogo do filme resulta claramente mais evidenciado. Correndo o risco de enveredar por um “meio spoiler”, entendo que tal capta muito mais a atenção do espectador, quando o rapaz decide finalmente fazer uso de todas as potencialidades do livro que tem nas mãos. E acentua claramente o seu intelecto e personalidade, acentuando o o caminho maligno e calculista pelo qual enveredou.
Quanto às actuações, é normal que “Light”, interpretado por Tatsuya Fujiwara (que viria a ser sobretudo por “Battle Royale”) e “L”, corporizado por Ken’ichi Matsuyama tenham o protagonismo quase total. Tatsuya Fujiwara desempenha de uma forma competente o seu papel, cumprindo a missão de parecer tanto sombrio, como tremendamente inocente. Matsuyama não fica atrás do seu oponente, e consegue explanar um “L” que por vezes parece um ser diminuído e alienado, mas que acaba por ser um “mastermind” da mais elevada craveira, demonstrando estar bem à altura de Fujiwara. Mesmo assim, e embora isto soe contraditório, quem acaba por impressionar mais é o totalmente computorizado “Ryuk”. Tirando o facto de a sua face lembrar imenso “Joker”, o arqui-inimigo de “Batman”, as suas movimentações roçam a perfeição e o seu carisma é bastante considerável.
Apesar de ter sido realizado há relativamente poucos anos, “Death Note” já se tornou um filme de culto para muitos, tendo-se tornado numa das películas japonesas mais bem sucedidas de sempre, quer dentro de portas, assim como um pouco pelo mundo inteiro. A tal facto não será alheio a bem sucedida mescla composta pelo pendor juvenil, pela faceta de thriller e os aspectos mais obscuros e sobrenaturais, corporizados sobretudo no bem conseguido demónio “Ryuk”. É dotado de momentos de tensão bem urdidos, em especial na derradeira parte, conseguindo desta forma abrir o apetite para “Death Note: The Last Name”. A sua visualização impressionaria tudo e todos, incluindo a conhecida banda rock “Red Hot Chili Peppers”, que forneceria o tema “Dani California” para o genérico do filme.
Sem dúvida uma obra a conferir! No entanto, é preciso não esquecer que a mesma terá de ser acompanhada por “Death Note: The Last Name”.
Autor: Jorge Soares (http://shinobi-myasianmovies.blogspot.com/)