Uma das obras de Komi Naoshi menos apreciadas pelos leitores do público masculino, criticada pela falta de personagens do sexo feminino e por um suposto homoerotismo. Na minha perspectiva, Apple é agradável e supreendente. Trata da história de Aramiya Satoshi, um jovem de 17 anos, com uma vida aparentemente relaxada, que vive na periferia de Tokyo.
Tudo isto estaria dentro dos padrões da normalidade não fosse Satoshi um Apple, uma forma de vida diferente, gerada para salvar a Terra de uma crise tremenda, dotada de fantásticas habilidades físicas, capaz de se transformar em qualquer tipo de organismo vivo, desde um elefante a uma minúscula bactéria.
Satoshi é constantemente perseguido pelas forças do exército, porém, de habituado que está e graças às suas extraordinárias capacidades, é capaz de derrotar um batalhão enquanto prepara o pequeno-almoço. Tudo isto em tempo recorde, não vá a sopa miso ficar demasiado tempo ao lume… Antes de entrar em casa para, finalmente, degustar a sua refeição em sossego, Satoshi depara-se com uma criança que o enfrenta, arrogante, acompanhado por dois adultos que o tratam por “mestre”.
É, na verdade, Grimm, o inventor da famosa teoria que diz que a Terra seria salva da catastrófica crise pelos Apple. O menino-prodígio quer levar Satoshi para sua casa, para que este viva protegido, mas o jovem recusa prontamente, justificando-se com a felicidade que tem ao viver à sua maneira, sozinho. Grimm fica perplexo com a serenidade de Satoshi perante o perigo da morte, caso este não cumpra a sua função de salvar a Terra.
Assim sendo, o rapazinho decide prontamente que ficará a viver com Satoshi, o que não agrada nada ao rapaz solitário que, de espírito puro e com o seu positivismo, não se prende ao medo da sua condição. Contudo, incapaz de negar o que quer que fosse àquela criança, Satoshi passa a ter um companheiro de casa com uma simples condição: nada de mordomias, se Grimm quiser alguma coisa, terá de ser ele próprio a construí-la. Ao fim de duas semanas de convívio, a criança mimada começa a habituar-se ao estilo de vida de Satoshi e este, por seu turno, apercebe-se de que a tranquilidade da solidão não vale tanto como uma companhia amiga.
É a Grimm que o Apple confessa os seus sonhos proféticos em que salva a Terra agarrando um raio, sentindo-se ele mesmo transformar-se em luz. Enquanto a criança tenta desvendar a provação pela qual o amigo terá de passar, chegam de novo as forças do exército, desta vez mais confiantes, mais poderosos. Aí se desenrola a contenda que poderá matar aquele que estaria destinado a salvar a Terra. Conseguirão, desta vez, fintar os poderes do Apple e apanhá-lo? Será que já é tempo de acabar com a catastrófica crise que consome o planeta?
Interrogações à parte, e discordando por completo do que se diz nos créditos finais da edição de Nihil Sin Nefas, não me parece que este one-shot de cinquenta páginas tenha algo de homoerótico, antes parece deixar uma mensagem bastante vincada do valor e força que uma amizade pode alcançar.
Autor: Joana Fonseca