Rebecca Miyamoto tem 11 anos e um «triple major» do MIT, um coelho branco (que costuma ser usado em experiências científicas), teme um feitio terrível, natural para quem tenha essa idade biológica. Como se não bastasse é constantemente vigiada por uns ociosos extraterrestres com vícios e virtudes bastante terrestres. Becky (o seu diminutivo), emigrou para o Japão para dar aulas na Academia Momotsuki, onde encontra os vários bizarros alunos e colegas que povoam uma das séries de animação mais hilariantes e disparatadas de sempre, Pani Poni Dash!
Quase de certeza que Hikawa Hekiru, criador do manga Pani Poni que foi a base desta série, decerto que não conseguiria prever que a loucura extrema iria tomar o corpo e mente das suas personagens numa série que recicla de forma magistral muita da cultura pop actual, não só japonesa, em episódios que até agora seriam improváveis de serem mostrados em TV, sobretudo porque é necessária uma atenção extrema (um um bom dicionário ao lado), para ser entendida por normais e ociosos espectadores da caixinha mágica.
Pani Poni Dash! é uma daquelas séries onde os seus criadores e animadores espremeram os miolos (desculpem a figura de estilo) de forma a que todas as frames contivessem alguma referência estilística/visual a algum filme, manga, livro ou personagem com alguma relevância pop, sempre apresentados nas situações mais caricatas e dementes possíveis. É certo que não existe violência gráfica nesta série, mas a forma quase cruel com que são tratadas essas referências, torna a série uma referência da Parodie Anime, sobretudo quando se apresenta aparentemente como uma série cute para adolescentes, onde existem as inevitáveis mascotes e raparigas adolescentes de saias curtas, mas onde quem assiste à série à procura desse tipo de imaginário fica desapontado porque é constantemente ridicularizado.
Se os primeiros episódios ainda tentavam ter alguma coerência narrativa, com uma história que iria dando pistas de ser relativamente linear e ‘sólida’, nota-se a partir do 6º episódio (ou algo parecido) é de facto o “non-sense” que toma conta da série, empenhada em destabilizar os cérebros e nervos dos telespectadores, apresentando um aparentemente rotineiro dia-a-dia da Classe 1-C, cheio de aventuras bizarras e poderes sobrenaturais apenas para mostrar as mais improváveis e hilariantes situações de comédia registadas em animação.
A série PPD! ficará para a história da animação japonesa como um produto quase exclusivamente feito para o gozo pessoal da sua crew de produção (a banda sonora já editada, com várias versões cantadas pelos vários Seiyuu que fazem as vozes dos personagens, uns dos melhores que vi/ouvi), que esperam dar, de uma forma única, um produto de entertenimento marcado por private jokes que gostaram de partilhar com o seu público. Se essa foi a intenção, desde já agradeço.
PPD! é francamente recomendado, não só aos fans de outras série de ‘reciclagem’ como Furi Kuri, mas também a designers, illustradores, estudiosos da cultura pop (não só japonesa) e fans hardcore de animação que tenham uma curiosidade extrema por encontrar novas formas de mostrar algo diferente usando fórmulas muitas vezes já gastas, mas que ganham aqui novas leituras. Isto é claro extensível a todo o público em geral que queira ver uma série que de tantas referências que contém, poderia ser um objecto para um mestrado sobre a actual cultura pop.
Apenas apelo à paciência para conseguir começar a deixar a série conquistar a admiração de quem possa ser curioso o suficiente para arriscar a sua visão.
Escrito por: Nuno Barradas