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Air


Passaram quase dois anos desde que vi esta série. Já na altura queria escrever uma review mas não consegui. Não consegui perceber se gostava ou não desta série. Agora percebo.

Baseado num jogo, Air conta a história… Desculpem, tenho de repensar as minhas palavras porque mesmo depois de ver a série duas vezes, não sei como resumir a história. Já agora, se querem ver a série mas não desejam ler nenhum spolier, leiam apenas o parágrafo final da minha review.

Bem, durante os primeiros 7 episódios, Air centra-se em Yukito Kunisaki, um rapaz sem casa e aparentemente sem história que chega a uma nova cidade, tentando fazer dinheiro com o seu pequeno espetáculo de rua – que, já agora, consiste em fazer mover um boneco através do poder da mente. A partir daqui, começa a ficar ligeiramente estranho: Yukito está à procura da “rapariga no céu”. Ela pode ser qualquer uma das miúdas que ele conheceu na cidade: Kano, Minagi ou Misuzu, uma rapariga um tudo nada peculiar mas muito carinhosa que vive com a sua mãe adoptiva, Haruko Kamio. Durante este primeiro arco, ouvimos a
história de cada uma das raparigas e dos problemas que têm de enfrentar.

A “rapariga no céu” está amaldiçoada e quando Yukito percebe quem ela é, já é tarde. Depois disto, o ritmo é completamente quebrado e entramos no flashback que tenta explicar o porquê desta maldição, que remonta a uma deusa que estava condenada a morrer e renascer de cada vez que gostasse de alguém. Os episódios finais são sobre a relação de Misuzu com a sua mãe adoptiva e as tentativas
destas de fazer com que Misuzu melhore.

O principal problema deste anime é a história. Li que a história original tinha um volume equivalente a três ou quatro obras de shakespeare, o que me assustou,
uma vez que esta adaptação tem 13 episódios. 7 desses são bons, explorando as vidas de cada uma das raparigas que Yukito encontra. Todas as personagens que entram nesses episódios são bem desenvolvidas, tendo cada uma motivos sobremaneira interessantes para as suas acções. Misuzu é das raparigas mais queridas que já vi num anime. A maneira infanil como ela se comporta, cheia de sonhos e soltando um “gao” (o som que os dinossauros fazem, segundo ela) de cada vez que se atrapalha, é cativante e faz-nos gostar imenso dela. O que, percebo, tenha sido intencional, uma vez que ela acaba por ter um destino trágico. Sim, ela *é* a rapariga no céu, ou o correspondente dela.

Entristeceram-me verdadeiramente os últimos episódios (e também o 7º) porque ela
realmente não merecia o que lhe aconteceu. Já agora, de notar que ela tem uma espécie de ataque de pânico de cada vez que se está a divertir muito ou a gostar do tempo passado com alguém. Entristece-me igualmente a maneira como o flashback foi metido na história, porque foi totalmente desnecessário. Pelo menos eu achei que a explicação poderia ter sido mencionada sem recurso a dois episódios passados 1000 anos antes. O que ainda me acaba por chatear mais é que o flashback, embora totalmente desnecessário e criador de um abismo entre a
história que julgavamos conhecer e a que realmente se passou, foi interessante e provavlemente teria gostado muito mais de ver um anime só sobre essa parte (creio que há um OVA, mas depois da desilusão que esta série foi não arrisco outra vez).

E depois disto, se já não estivessemos suficientemente confusos, os últimos episódios esquecem completamente Yukito e as outras raparigas que até então tinham partes relevantes na história. Felizmente que a mãe adoptiva de Misuzu acaba por salvar a última parte do anime – Haruko deixa-nos com um aperto no coração…eu senti a perda dela. É criminoso dar cabo de um anime com
tanta qualidade. Teria preferido que os 13 episódios fossem sobre apenas UM dos arcos, e não sobre os 3. Aliás, se se perdem 7 episódios a construir uma história decente com um climax tenebroso, porquê voltar atrás e começar com uma situação completamente diferente? Para mais, só admito ter que ler artigos a explicar os eventos de um anime, se este – como é o caso de Utena ou Lain, por exemplo – tiver metáforas dificeis de compreender. A história dessas séries, para mim, tem um seguimento razoavelmente fácil de perceber, embora o que ela
representa seja bastante complexo. Isto não se passa com Air, infelizmente. É a segunda vez que vejo uma série muito boa a ser destruida nos episódios finais – a primeira vez foi com Kare Kano.

O potencial desta série é percebido imediatamente nos primeiros segundos do genérico. Aparte o de Azumanga Daioh e poucos outros, este foi um genérico que me ficou na cabeça. Tanto por ser lindíssimo como pela música fantástica que o acompanha. No resto do anime, as músicas passam bastante despercebidas, mas a do genérico marca presença e mesmo depois de anos sem ver esta série, lembrava-me dessa música.

Depois de passarmos essa parte, notamos rapidamente a qualidade da animação: é soberba. Aposto que os valores gastos neste campo foram bem grandes, porque Air têm uma qualidade tão espantosa que até deve ultrapassar alguns filmes e OVAs. Concedo que o chara design não agrade a toda a gente, até porque os olhos têm características muito marcadas que podem desagradar a algumas pessoas, mas de resto não há nem um ponto menos bom no que toca ao “artwork”. Os movimentos são
extremamente bem desenhados e somos presenteados com o cão mais kawaii da história do anime, de seu nome, Potato. As seiyuu são de notar, especialmente a voz de Misuzu, já que tem uma ternura tão imensa que nos dá vontade de entrar no ecrã e abraçar a miúda.

Todo a série tem um ambiente de Verão, de tardes passadas na varanda a beber limonada e a conversar com os amigos, que nos deixam quase a flutar, não fosse a carga dramática tão grande. Se tencionam ver a série, façam-no pela qualidade animação e não ficarão desapontados.

Ainda que a simbologia do céu, do Verão, das penas e das amizades seja cativante, esta série não vai assegurar uma qualidade de plot semelhante à da animação. Se esperam algo mais do que 13 episódios de “eye candy”, então esta série não é para vocês.

Autor:Mafalda Melo

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