A nossa infância sem dúvida que foi marcada por vários tipos de animes, os que marcaram a minha, não quer dizer que sejam obviamente os mesmos que marcaram a vossa. Contudo, não acredito de todo, que estes animes vos tenham passado despercebidos, até porque quando foram lançados e exibidos na televisão, tiveram um enorme sucesso junto do público juvenil, fazendo ainda hoje as delícias dos mais graúdos, que olham com nostalgia para as personagens que tantas vezes viram ser transmitidas em formato televisivo.
Episódio atrás de episódio, faziam prender ao ecrã pequenas crianças que vindo da escola, e tendo muitas vezes trabalhos para fazer mandados pelos professores, queriam era ver os seus desenhos animados preferidos.
Volta e meia, aparecia a nossa mãe a dizer: “Vai já fazer os trabalhos de casa! Depois com calma vês os bonecos!”… Pois, mas nesse tempo, não havia a tecnologia que existe agora, nem box que grava os programas da televisão, nem nada destas modernices… De facto, o tempo voa, os que são da minha geração, ainda se lembram do tempo em que ainda não havia telemóveis, ou se havia, ainda pouco se conhecia, e também não havia internet, nem google chrome…
Atenção, não sou assim tão velha, quanto vocês possam estar a pensar, mas a verdade é que o mundo como o conhecemos agora, há uns quinze, talvez vinte anos atrás não era assim tão sofisticadamente tecnológico. Vivíamos na era das cassetes VHS e dos gravadores de vídeo. Felizes com pequenas coisas, até mesmo só por saber que ao chegarmos a casa estaria prestes a começar o nosso anime favorito.
Passando por uma vasta panóplia de animes, desde os clássicos até aos da atualidade, quem não se lembra de desenhos animados como a Heidi, o Marco, o Panda Tao Tao, a Abelha Maia, o Zorro, a Sailor Moon traduzido para Navegantes da Lua, o Samurai X ou Rurouni Kenshin, o Dragon Ball, o Saint Seiya, o Pokémon, o Digimon, entre muitos outros?
De histórias que nos faziam até chorar, ao percebermos o sofrimento pelo qual elas passavam. E de um vasto conjunto de animes, resolvi destacar precisamente estes dois pelas belas narrativas que eles nos contam e que aconselho vivamente a assistirem:
Arupusu no Shōjo Haiji, ou Heidi, como é conhecida na versão portuguesa, desenrola-se nos finais do século XIX e conta a história de uma menina que perdera os pais ainda bebé e que vivia com a tia, mas quando esta arranjou um emprego na cidade na casa da família Sesemann, teve de entregá-la ao avó paterno, pois não a podia levar consigo.
Mais tarde a sua tia viria buscá-la para integrar a casa de uma menina rica, de nome Clara que também tinha perdido muito cedo sua mãe e que por esse trauma tinha ficado paraplégica, servindo-lhe Heidi de grande companhia, já que Clara não podia sair de casa.
Assim, Clara e Heidi tornar-se-iam as melhores amigas e juntamente com Pedro, amigo de Heidi que vivia com ela nas montanhas dos Alpes suíços, antes desta viajar para a cidade de Frankfurt, viveriam grandes aventuras, em que a amizade verdadeira é sempre enaltecida como sendo um sentimento de grande valor.
Esta narrativa baseou-se no livro de Johanna Spyri, intitulado “Heidi”, escrito em pleno término do século XIX e cuja adaptação à televisão foi realizada em 1974, contando com um total de 52 episódios.
Já a história de Haha o Tazunete Sanzenri, ou Marco dos Apeninos aos Andes, como é conhecida na versão portuguesa, apelidado carinhosamente de Marco, possui uma forte componente sentimental, tal como a história de Heidi, no entanto os contextos são bem diferentes.
Marco vivia com a sua família no sul de Itália, em Génova, durante o período da depressão de 1881. O seu pai era médico, mas como se dedicava a cuidar de doentes extremamente pobres, levou a sua família a grandes dificuldades financeiras. Sua querida mãe vê-se obrigada a partir para a Argentina em busca de melhores condições de vida, empregando-se como doméstica, por forma a conseguir sustentar melhor os seus dois filhos. Marco vê assim a sua mãe partir, até que um dia, após deixar de receber notícias de sua mãe, depois de saber que ela tinha adoecido, este temendo o pior, viaja desesperadamente à procura de sua mãe, já que tanto seu pai como seu irmão estavam ocupados em seus trabalhos.
A viagem de Marco é extremamente longa e perigosa, tendo passado pelo Brasil, Buenos Aires, Bahia Blanca, Córdova até chegar ao seu derradeiro objetivo que era Tucumán.
Apesar dos contratempos que tivera pelo caminho, acabou por encontrar algumas pessoas de bem que o ajudaram na sua missão, tendo conseguido alcançar a pé Tucumán. Chegando ao seu destino cansado e faminto, mas contente por saber que ia encontrar a sua adorada mãe, que estava extremamente debilitada, e necessitando rapidamente de uma intervenção cirúrgica.
A sua mãe ao vê-lo rapidamente ganha forças e a operação de que tanto precisava é bem sucedida, terminando a história com toda a família junta, novamente em sua casa, revelando desta forma a grande importância do pilar que é a família e da união entre todos. Esta narrativa foi produzida em 1976, contando igualmente com 52 episódios.
Existem sem dúvida inúmeros animes, embora tenha focado os mais marcantes por razões óbvias, primeiro pelo facto do anime Heidi ter sido dirigido e elaborado por Isao Takahata, Hayao Miyazaki, e pelo estúdio Zuiyo Eizo, tal como Marco que também contou com a direção de Isao Takahata, além de Hajime Okayasu e do estúdio Nippon Animation, grandes nomes da animação japonesa, capazes de levar o telespetador a um estado de espírito de grande tristeza, e comoção, fazendo revelar a nossa própria fraqueza e o nosso lado mais frágil e sensível.
Mas sobretudo por possuírem histórias de grande sinceridade, verdade e de uma enorme componente sentimental, já que se tratam de dramas. Enredos cheios de grande ternura, amor e amizade, valores que sem dúvida deviam ser preservados, pois são o melhor que nós temos para oferecer e receber enquanto seres humanos que somos.
Escrito por: Mia Mattos