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Beck

À semelhança de muitas coisas na vida, as histórias de ficção sempre foram e sempre serão algo intrínseco a nós próprios pois mexem com o que de mais íntimo temos. O anime não é uma excepção, muito antes pelo contrário.

Ao começarmos a ver BECK, temos a sensação que aparentemente estamos diante mais um anime como tantos outros, cujo o nome é capaz de lembrar a muitos o famoso cantor de nome homónimo.

Mas esta série não é como as outras, é diferente, muito diferente. BECK é mais uma série saída do famoso estúdio MADHOUSE que passou na televisão Japonesa entre 06 de Outubro de 2004 e 30 de Março de 2005 e que nos conta a história de Tanaka Yukio, também conhecido por Koyuki (um diminutivo do seu nome que perceberão quando virem a série), um rapaz de 14 anos que leva uma vida aparentemente pacata e aborrecida.

A dada altura Koyuki, sempre com as suas boas intenções ao rubro, salva um cão muito estranho (o Beck) de ser apedrejado por um bando de miúdos. É então neste momento que se cruza pela primeira vez com Minami Ryuusuke, um jovem de 16 anos que parece ter o dom de atrair as pessoas até si, como dizem os que o conhecem. A vida de Koyuki vai então levar um novo rumo, levando-o a descobrir uma paixão escondida pelo mundo da música e um talento que só foi possível desvendar com o companheirismo dos amigos que criou ao longo desta jornada.

BECK apresenta-se-nos com um desenho de personagens muito sóbrio e adulto, contrariando o tradicional desenho onde as miúdas têm o cabelo azul, com um penteado que desafia as leis da física e olhos roxos. Aqui temos personagens simples, parecidas o mais possível com o ser humano. Há quem ache até que as personagens são feias, mas têm uma coisa essencial e que dá vida a este anime: emoções. As personagens têm um conteúdo emocional muito grande e conseguem transmiti-lo, especialmente Koyuki, que passa por uma série de acontecimentos atribulados e que ganha de imediato a nossa empatia. Mas isto não se resume apenas e exclusivamente a ele. O background do Ryuusuke também alimenta muito o mistério que permanece até ao final.

A loucura permanente do Chiba e do Saitou-san e a atitude mais séria do Taira e do Sakurai dão também muita vida a tudo isto. As raparigas têm também um papel importante no desenrolar da história, principalmente Minami Maho, a irmã mais nova de Ryuusuke que vem constituir-se como uma sólida ajuda a Koyuki. Em BECK não há facilidades, as personagens sofrem para subir na vida como artistas, para se afirmarem ao mundo e serem reconhecidos pelo seu talento e empenho. Se esperam ver piadas muito cliché, nosebleed devido a panty shots e outras tantas coisas ao qual o anime em geral já vos habituou, esqueçam BECK.

Existem as tradicionais cenas de putos de secundário como não poderia deixar de ser, existe o colega de escola bronco que se preocupa mais em espreitar as miúdas do que com as aulas, a miúda sensação que a escola toda venera, mas tudo isso é apenas um complemento, um reflexo da sociedade Japonesa.

Outra excelente característica desta série é a sonoridade. Desde a opening até ao ending, BECK tem uma das bandas sonoras mais potentes e viciantes de sempre. Claro que isto depende dos gostos de cada um, mas um bom apreciador de certos estilos musicais irá entender melhor que ninguém.

BECK faz referências a artistas e bandas ocidentais famosíssimas como por exemplo o próprio Beck, Sid Vicious, Bob Marley, Freddy Mercury, Kurt Cobain, The Beatles, Ramones, Red Hot Chilli Peppers, The Pixies entre outros. Mas a música propriamente dita, tanto de BECK como das demais bandas que aparecem ao longo da série, ficou a cargo de bandas Japonesas já com uma projecção internacional significativa como por exemplo The Pillows. Menos conhecidas fora do Japão temos YKZ, Typhoon24, Tropical Gorilla, Meister, Beat Crusaders entre outros, que não é por isso que são piores, muito antes pelo contrário pois qualquer uma destas bandas tem um potencial excelente e uma sonoridade muitíssimo boa.

O “opening” intitulada “Hit in the USA” ficou a cargo dos Beat Crusaders e o “ending”, “My world down” é interpretado pelos Meister, que de todas estas bandas foi a que mais me surpreendeu. A música é sem dúvida o outro pilar fundamental nesta série, pois sem ela, BECK não era possível. Se porventura derem com vocês a cantarolar algumas das músicas não se admirem.

A nível de animação não há muito a salientar, se bem que em certas partes não é a melhor. Se tivermos bem atenção, as personagens quando tocam guitarra ou baixo, os movimentos dos dedos nem sempre são os correctos, isto é, parecem artificiais e sem coordenação. Vão notar ainda mais se tocarem algum dos referidos instrumentos. Fora isto, a série em geral não tem cenas muito rápidas que sejam susceptíveis de receberem um trabalho mais cuidado. Os próprios concertos estão muito bem conseguidos embora saibam a pouco e nos deixem quase que a pedir por favor para darem mais.

BECK surpreendeu. Chegou, viciou e foi-se embora com um final sensaborão, um pouco amargo e com muitas pontas soltas. Mas ficou na memória, pela história, pela profundidade emocional, por todo um conjunto de pequenas coisas que mexem connosco. E claro ficou o bichinho de querer tocar qualquer coisa…

Não me canso de referir BECK como uma das melhores séries dos últimos tempos e até à data, de 2005, a qual recomendo a quem esteja farto do mesmo anime de sempre. Se ficarem com saudades, o manga é a solução para o vosso mal pois leva a história muito mais adiante para grande felicidade de muitos fãs, eu incluído. Uma segunda temporada em breve? Nunca se sabe, rezem! =)


Autor:Pedro Soares

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