Não será surpresa que, ocasionalmente, os artistas de manga japoneses se inspirem nos seus congéneres americanos. Assim era o caso nos anos 80, em que os comics estavam em grande destaque. Nessa altura Masami Yuki começa uma serialização de uma história sobre uma alienígena de nome Birdy que chega à Terra em busca de um criminoso intergaláctico, mas que acaba, acidentalmente, por ferir gravemente (e fatalmente pelos termos da ciência humana) um aluno de secundário de nome Tsutomu. Como responsável pela situação, Birdy passa a “alojar” a consciência de Tsutomu na sua mente, e sob um disfarce permite ao rapaz seguir a sua vida normal enquanto o seu verdadeiro corpo é reparado, enquanto de noite continua a tentar descobrir o plano criminoso.
Com um super-herói disfarçado quer pelos poderes deste alienígena que é invulnerável a balas e que usa os punhos a favor de quaisquer outros tipos de armamento, “Tetsuwan Birdy” não estaria fora de lugar em um qualquer fascículo da Marvel ou da DC. No entanto, Masami Yuki interrompeu a história para se ocupar com outros projectos – eventualmente dando origem à série Patlabor. No ínicio dos anos 90, os estúdios MadHouse fizeram um OAV que resumia e dava conclusão à história original (editado na América sob o nome “Birdy the Mighty”), e assim se esperava que a história de Birdy terminasse.
Tal não veio a acontecer. Em 2003 Masami Yuki recomeça a trabalhar num manga de Tetsuwan Birdy, recomeçando a história desde o início. Em 2007, o na altura desconhecido estúdio A-1 (criado pela Sony para os projecto do grupo Aniplex) começa a trabalhar numa animação chamada “Tetsuwan Birdy: DECODE”. Esta animação, pela terceira vez, narra uma outra, ligeiramente diferente do manga, história de como Birdy e Tsutomu se encontram, e dos inimigos que enfrentam. Isto não é, no entanto, uma adaptação sem uma certa dose de controvérsia.
Em comparação com o OAV, as personalidades são diferentes (fisicamente e psicologicamente), marcadamente resultando num Tsutomu que é muito mais dócil e permissivo em relação ao que lhe acabou de acontecer, e muito mais passivo durante as batalhas. Birdy é agora também mais paciente e menos ignorante da vida na terra (por exemplo, tem um “emprego” e conhecimentos) ao contrário da relativa ignorância que mantinha anteriormente.
Ao mesmo tempo, o objectivo da história foca-se em factores humanos. Embora o tema seja o mesmo, a procura de um criminoso e da sua arma, uma grande parte da história é sobre o relacionamento dos personagens principais com as coisas que lhe são importantes. Também há um foco maior sobre o planeta de origem de Birdy e as suas origens. A história move-se então, de um foco mais próximo de ficção cientifica “hard” com coisas como movimentos políticos e sociais a terem um impacto definitivo em como os personagens reagem. No geral a série oferece uma grande quantidade de coisas em que pensar, incluindo as motivações pessoais e a capacidade de felicidade individual após um acontecimento desastroso.
Claro que no final, Birdy continua a ser o mesmo personagem, e as cenas de luta tomam lugar de destaque. A série é dirigida por Kazuki Akane, conhecido por ser o criador de Noein, e aqui as batalhas e o trabalho de animação de Norio Matsumoto transparecem, assim como de muitos animadores “convidados” a dar a sua ajuda. O resultado é uma série com uma grande quantidade de estilos de animação que por vezes pode ferir a sensibilidade de alguém que procura uma série com um padrão mais constante. Igualmente, a banda sonora é fiel e com um certo tom orquestral mas não particularmente memorável.
No geral, não será uma série que agrada a todos, principalmente ao partir do princípio que a série continua o tema da animação original dos anos 80. No entanto, a qualidade da história e a tentativa de fazer algo novo não devem deixar de ser consideradas como um factor significativo para dedicar algumas horas a esta série.
Escrito por: Nuno Sarmento