Ao vasculhar o catálogo da Netflix, esta série chamou-me à atenção. Atraído pela premissa, acabei fascinado pela forma como Boku Dake ga Inai Machi (僕だけがいない街), série anime baseado no manga homónimo de Hajime Ninomae, aborda a temática das viagens no tempo.
Satoru é um rapaz de 29 anos, aspirante a mangaka, que trabalha numa pizzaria enquanto não consegue concretizar o seu principal sonho. Satoru tem um poder peculiar, quando pressente que algo de mau vai acontecer consegue voltar atrás alguns momentos no tempo de modo a impedir que tal coisa aconteça. No entanto, o enredo principal da série não anda à volta destes pequenos saltos temporais.
Quando Satoru se vê envolvido num caso de homicídio relacionado com alguns casos de rapto que aconteceram quando era criança, dá inesperadamente um grande salto no tempo e volta até aos tempos de escola, tomando então a decisão de mudar o passado e impedir que tais crimes aconteçam.
Com um aspecto “fofinho”, Boku Dake ga Inai Machi está longe de ser uma série “leve”. Após voltar atrás no tempo, Satoru muda completamente a abordagem que teve perante os colegas na sua infância. Essa mudança de comportamento, conciliada com a experiência de um homem de 29 anos no corpo de uma criança de 11, permite-lhe reparar em várias situações alarmantes à sua volta.
A série foca-se bastante na relação que tem com a mãe e principalmente na relação com Hinazuki Kayo, a primeira vítima dos casos de rapto que assombraram a sua infância. A partir da relação com Kayo, a série consegue desenvolver várias temáticas emocionalmente fortes como a violência doméstica, a solidão e depressão na juventude e a forma como as relações sociais contribuem para a nossa auto-estima.
Avançando lentamente e com várias reviravoltas, Boku Dake ga Inai Machi manteve a minha total atenção durante os seus doze episódios. Embora já tivesse algumas suspeitas sobre quem seria o culpado, estas só se confirmaram já nos episódios finais.
Além de ter gostado bastante do enredo e o final me tenha de certa forma surpreendido, o que mais me marcou na série foram os seus personagens. Satoru está longe de ser o único personagem que se destaca, com outros elementos a terem uma presença forte e fulcral na história. A mãe do protagonista, Fujinuma Sachiko, é introduzida de forma algo misteriosa, mais vai aumentado o seu protagonismo até se tornar uma das personagens mais fortes. Há também vários personagens interessantes entre os amigos de Satoru, onde Kayo e Kenya se destacam perante os restantes.
Boku Dake ga Inai Machi conta também com alguns pormenores engraçados. À medida que a história avança e Satoru altera a linha temporal, o genérico de abertura vai sofrendo mudanças. Mas mesmo que não tivesse esta particularidade, valia sempre a pena assistir ao genérico inicial devido à música ser da autoria dos Asian Kung Fu Generation.
Alternando entre várias linhas temporais, mas sem nunca perder o fio à meada, Boku Dake ga Inai Machi é sem dúvida uma abordagem muito interessante a esta temática. Inicia e conclui esta história de forma consistente em doze episódios, não se alongando para complexidades desnecessárias. Foi sem dúvida uma boa surpresa e uma série que recomendo a espreitar no catálogo da Netflix. A série conta também com uma adaptação live-action produzida pela Netflix, que, segundo consta, é mais leal ao manga original que a adaptação a anime.
Escrito por: Nuno Rocha