A avaliar pela quantidade de pessoas que encheram completamente o Anfiteatro II da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, não me enganaria se dissesse que todas aquelas pessoas gostariam de estar a frequentar o curso leccionado por Kei Suyama. Actualmente lecciona história, teoria e técnicas de produção de anime na Faculdade de Belas-Artes Departamento de Anime da Universidade de Tokyo Kogei (a primeira instituição de ensino superior japonesa com estudos em animação), e possui uma pós-graduação em Literatura Infantil pela Universidade Feminina de Shirayuri tendo desenvolvido estudos complementares de literatura infantil no Japão e no estrangeiro.
Durante a palestra intitulada “A Animação no Japão Nova Geração de Artistas Japoneses de ANIME” foram apresentados os vários trailers de filmes de animação recentes e explicadas as tendências significativas do “anime” no Japão. A audiência teve a oportunidade de ver e ter contacto com algumas obras de realizadores conceituados como o caso da recente longa-metragem «Paprika» de Kon Satoshi («Perfect Blue» e «Seinnen Joyu») e que recentemente foi exibido em Portugal no Fantasporto e Monstra.
Em seguida, The Girl Who Leaped Through Time («Toki wo Kakeru Shojo» no título original), de Hosoda Mamoru começou por ser mostrado em salas de cinema muito pequenas, num circuito muito “underground” mas aos poucos foi criando uma legião de fãs e que agora é um dos grandes tírulos deste ano e foi eleito o Melhor Filme de Animação no Japanese Academy Awards 2007 e o primeiro lugar na secção dedicada ao cinema de animação no 39º Sitges International Film Festival da Catalunha (Barcelona). Ambos os filmes utilizam a técnica mais antiga da animação, o uso do celuloide, todo o trabalho ainda é realizado à mão.
Os dois trailers mostrados a seguir já utilizam o uso do computador para criar toda a animação, «5 Centimetres per Second» («Byousoku 5 Senchimeetoru»), de Shinkai Makoto, um artista que tem vindo a fazer uma carreira praticamente solitário, cria toda a animação no seu G4; «Mindgame», de Yuasa Masaaki, e «Tekkonkinkreet», de Michael Arias talvez sejam os mais criativos no uso de todas as possibilidades da animação. Nestes podemos ver todo o tipo de técnicas: animação tradicional, uso do computador, imagem real… enfim tudo é válido para procurar novas linguagens e estéticas na animação.
A segunda parte da conferência foi dedicada aos vários trabalhos criados por jovens produtores japoneses de “anime”, alguns deles realizados por alunos de Suyama que participaram no ICAF (Festival de Animação Inter-Universidades) realizado no Japão, e que serve como uma montra para os rodutores e estúdios conhecerem o que se faz de novo e poderem contratar novos elementos para as suas equipas. De destacar alguns desses trabalhos, «Piece», uma elegia ao pixel com uma mensagem bastante politizada, «Birthday», um aniversário muito especial e «Uchi-Nichi» (O dia da Vaca), o grande “vencedor” da conferência que arrancou imensas gargalhadas aos presentes.
Kei Suyama falou do presente da animação e do futuro e dos seus alunos de licenciatura, que de certeza vão ser nomes importantes no futuro breve da animação japonesa. Aliás alguns deles mesmo estando a frequentar a universidade desenvolvem projectos para clientes extra escola.
Antes de terminar a conferência Suyama respondeu a algumas questões da audiência. Falou-se sobre todo o processo de criação que um aluno percorre para fazer a sua animação, as questões legais do uso da música nos animes, na perda de identidade da nova animação japonesa com a ausência de abordagem da cultura japonesa e também sobre o estado da indústria animatográfica.
A organização desta conferência ficou a cargo da Embaixada do Japão em Portugal e da Japan Foundation, e também do curso livre de japonês da Faculdade de Letras de Coimbra. Esperemos que mais actividades como estas se repitam mais vezes quer sejam elas sobre animação ou outras temáticas da cultura japonesa, porque de certeza que não faltaram pessoas interessadas para assistir.
Autor:Fernando Ferreira