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AnimeEntrevistas

[Entrevista] : Waboku

Se pensam que existem muitas séries de anime no Japão (no sentido restrito referindo-nos às séries “comerciais”), é porque nunca tomaram grande atenção ao “outro anime”, ao anime de autor e independente.
Nesse grupo está Waboku, um jovem e promissor talento pertencente à nova geração da animação japonesa que em muitos dos casos não fica nada atrás de outras animações mais profissionais. O ClubOtaku esteve à conversa com ele e contou-nos um pouco do seu trabalho e de como está a saúde da animação independente no país do Sol Nascente.

Antes de começarmos a entrevista, podes dizer-nos quem é Waboku?
Sou um criador de animação no Japão. Realizo atividades criativas relacionadas com animação e ilustração com base na visão decadente do mundo.
Os meus hobbies são Fotografia, Mahjongg e Dardos.

Como é que começou o teu interesse pela animação?
A minha primeira motivação foi dada pela minha irmã mais velhas que gostava de animação.
Depois disso, quando o YouTube e o Nico Nico Douga iniciaram o serviço de streaming e eu comecei a ver surgiu-me naquela altura a ideia que ser “Filmmaker poderia ser uma coisa boa no futuro!”.
Eu gostava de desenhar quando era criança, mas desde essa altura que comecei a ter uma perspectiva diferente da animação da que tinha anteriormente.

Estiveste em alguma escola de arte para seres artista ou aprendeste tudo sozinho?
Estudei cinema na Universidade das Artes em Tóquio, mas também fiz muitos trabalhos como freelancer e depois entrei numa empresa de animação. E assim tornei-me num artista de animação.

Sobre o teu processo criativo. Primeiro fazes os esboços em papel ou começas imediatamente a desenhar em formato digital? E que software usas para criares as tuas ilustrações e animações?
Desenho com lápis e lápis de cor no papel quando estou a fazer o “storyboard”. As ilustrações e os “backgrounds” desenhos em papel e depois pinto-as digitalmente. Mas também posso trabalhar tudo em digital excepto quando tenho que fazer animação com desenhos.
Uso o basicamente a versão mais recente do Adobe Photoshop e Flash (animação).

Onde vais buscar a inspiração para as tuas animações?
O meu trabalho tem bastantes colaborações com a música, por isso penso que encontro grande inspiração na música.
Outras vezes encontro-a também em diversos programa de televisão.

Que tipo de personagens gostas mais de criar?
No meu caso, gosto de criar personagens que tenham facilidade de movimentos, por esse motivo crio personagens que excluem o máximo possível o design como por exemplo variações de cores e acessórios são complicados, evitando assim obstáculos na minha animação. Ao fazer este tipo de design, divirto-me e vem-me à ideia: “Parece movimento interessante!”.

Que conselhos darias para os jovens artistas que queiram fazer animação?
Se querem fazer animação, tomem mais atenção à vossa identidade do que aos aspectos técnicos. Ter bons “skills” de desenho não é tudo, penso que também é muito importante estudar esquemas de cor, composição e movimento.

Como é que é a industria de animação independente no Japão?
Li num artigo que os jovens criadores de animação estão numa situação onde a produção do trabalho final na faculdade ou escola de arte é o seu trabalho de estreia e para muitos o seu trabalho final pois dificilmente continuarão este caminho no mercado laboral. Somente algumas pessoas tornam-se profissionais de animação e continuam a fazer obras. Por isso como resultado, o “ratio” de competição é baixo e toda as pessoas têm a possibilidade de terem sucesso.
Por isso quando eu olho para o Ugoira (criação de animação/pixiv), e vejo trabalhos independentes como maior qualidade do que algumas obras “profissionais”, fico com sentimentos mistos.

Que tipo de comunidades existem no Japão para os criadores e fãs de animação?
Eu acho que o site Pixiv é a maior comunidade para os criadores e fãs. Ou talvez o Twitter…
Eu não estou familiarizado com estas comunidades, mas acho que também não há muitas mais comunidades populares no Japão.

Em 2015, a tua curta-metragem “EMIGRE” ganhou inúmeros prémios e atraiu muitos interesses. O que é que as pessoas dizem da tua animação?
A maior parte delas dizem “Bonito!”. Outros dizem “Tristeza…”, “Estranho!”. Não entendo o que eles querem dizer… 🙂

Os teus trabalhos tem uma forte componente musical. Achas que a música dá mais poder a uma animação do que os diálogos?
A música é mais emocional do que os diálogos, o clímax de uma história e força do som unem-se e ecoa no público. Acho que é possível a imagem incutir uma mensagem mais direta no público do que o diálogo. Por esse motivo é necessário saber limitar a direção do filme. Porque colocar apenas uma canção num filme sem diálogo, é necessário que a audiência compreenda toda a mensagem por expressões faciais e a língua de corpo.
Espero poder usar boa música e bons diálogos, mas sinto que não é uma coisa fácil de fazer todas as vezes que faço um trabalho.

Depois de “EMIGRE” lançaste duas animações curtas sob o nome de NENENE com o projecto musical Terarist. Podes fala-nos um pouco mais deste projecto?
NENENE United é uma empresa de gestão de artistas. Estou lá desde 2016.
Os dois elementos do projecto “Terarist” também estão na empresa. Em conversa a empresa disse: “Se podemos fazer filmes e música nossa, porque não fazer um trabalho de produção independente como propaganda da empresa”. E foi assim, que o projeto “Waboku x Terarist” começou. Já produzimos “VOYNICH” e “Celebrator”. O terceiro projeto está em planeamento.

Quem são os teus realizadores preferidos. E porquê?
Na animação mais “comercial” tenho um grande respeito pelo Mr. Koji Morimoto (www.kojimorimoto.com).
Ele tem a noção de fazer bom uso de restrições (linhas/cores) que muitas vezes tornam-se obstáculos para fazer animação, mas ao mesmo tempo consegue fazer personagens encantadoras. Fui influenciado mais ou menos por ele.
Em relação à animação independente gosto de Koji Yamamura (www.yamamura-animation.jp).
O seu trabalho é oposto ao de Koji Morimoto, e faz-me sentir a beleza pela quantidade de recursos.

Quais são os teus próximos passos profissionalmente?
Estou a planear uma exposição do meu trabalho para este ano e penso que se for bem sucedida pode ser um grande passao para o meu projecto Waboku.
E claro também estou a tentar terminar o meu projecto actual.

Qual é o significado de “Waboku”?
“Waboku” escreve-se assim 和睦 em japonês, e tem um signficado de paz.
Foi o nome que escolhi para simbolizar dois conceitos “sem causar conflitos” e “afastar a luta”.

Para terminar, podes deixar umas palavrinhas para os leitores do ClubOtaku.
A animação independente não se limita ao Japão, obras-primas são produzidas diariamente em todo o mundo. A animação comercial e da televisão também é boa, mas recomendo que procurem animações independentes em canais como o VIMEO ou YouTube. É bom variar de vez em quando!

E já agora, o meu novo vídeo irá ficar online no dia 7 de Abril (por volta das 19:00 Hora Japão).
É uma fusão entre o trabalho vocaloid do produtor Loin com o mundo animado de Waboku. Criei um conceito e personagens diferentes dos meus trabalhos anteriores.
Espero que muitas pessoas vejam este vídeo musical (https://twitter.com/waboku2015/status/849578103940595713)

Sites:
http://www.nenene-united.com/
http://wabo2.tumblr.com/

>> Versão em inglês/English Version (Download .PDF)

Entrevista por: Fernando Ferreira

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