Ouvi histórias deste anime. Sobretudo das «fangirls» que se acumulavam, orando através de gritos histéricos sobre o grau de «kawaii» encontrado nas personagens e suas acções. É aqui e agora que vos pergunto, fangirls: mas vocês não têm senso comum?
Já adivinharam a minha impressão? Ainda bem. Gravitation é um monte de balelas espalhado por 13 episódios. Conta – para nossa desgraça – a história de um rapazito, de seu nome Shindou Shuichi que, com o seu melhor amigo Nakano Hiroshi, forma uma banda chamada Bad Luck. Ele tem a ambição de poder ser tão bom como o seu ídolo (de quem agora me escapa o nome, mas não me vou dar ao trabalho de pesquisar) que o inspirou, primeiro que tudo, a cantar e a escrever canções. Naturalmente, Shuichi é desleixado e dá demasiado nas vistas, enquanto que o seu amigo Hiroshi é mais calmo e concentrado. No dia antes de gravarem a sua primeira canção, Shuichi tem um encontro inesperado com Yuki Eiri, um escritor, por quem se apaixona imediatamente, embora ao principio ele pareça estar apenas obcecado.
É exactamente aqui que os problemas começam. Epah, quando é que alguém vai começar a respeitar a regra simples de “rapaz =/= rapariga”? Digo isto porque Shuichi, aparte a sua possível genitália e falta de um peito abundante, é uma rapariga. Não quero soar sexista, mas ele é uma miúda no pior sentido da palavra. Eu tenho muitos amigos do sexo masculino, e alguns, puxando do meu maço de clichés, são bem “sensíveis” – e no entanto, nenhum deles se comporta como Shuichi. Eu sei que é suposto ele ser bastante novo mas…nem isso justifica a sua “paixão” (que é estabelecida aos 14 minutos do primeiro episódio) ou os seus processos mentais pelos quais ele chega à conclusão que a maneira mais fácil de alegrar Yuki é vestir-se de mulher. Simplesmente não acho plausível que num dia ele tenha percebido que amava o outro gajo. Para mais, se Yuki o odeia tanto, porque é que, depois do nosso rapazito se atravessar à frente do carro dele, ele o convida imediatamente para sua casa? Yuki, compreendam, é o típico homem frio e mauzão que fuma e só tem cervejas no frigorífico e, fora os beijos (que são outra parte que me irrita) parece desprezar Shuichi. Por falar nele…será que ele tem família? É que o nosso “herói” foi viver para casa do seu amor e não houve nem uma menção da família dele, o que é minimamente estranho, visto que é suposto ele ter…16 anos, talvez. Percebo que tenha sido mais fácil deixar isso de fora, mas se a história já não era particularmente credível, esta foi a última estocada. Para já não falar nos momentos “cómicos”, que para além de não o serem ainda danificam o restava da coesão na história. E os beijos? Isto é “fanservice” tão óbvio quanto o “fanservice” de DearS o era. Só que o de DearS divertia.
Os autores deveriam ter pegado no exemplo de Onegai Teacher, que balança suficientemente bem comédia e drama, focando os problemas de um jovem que vai viver para casa da pessoa de quem ama. Aqui sentimos que nada, até os concertos e a pretensa evolução da banda até chegar ao estrelato, faz sentido, de tal forma que todo o passado negro de Yuki – que, diga-se, é a melhor parte da série – perde importância face à mediocridade a que fomos expostos.
Até para a animação de Onegai Teacher (que não é nada do outro mundo) esta série perde, porque, apesar de ter saído em 2000, o estilo é demasiado simples. Agora, há simples (Someday’s Dreamers ou mesmo Maria-sama ga Miteru) e há mau. Os traços são desleixados e os movimentos são muito mal feitos, especialmente nos concertos. Eu sei que já mencionei 938538 animes, mas Full Moon wo Sagashite é o exemplo de como animar bem uma personagem a cantar – infelizmente, os autores desta tortura nem sequer se preocuparam em dar detalhe a essas cenas.
Nem a música me desperta interesse. Se não tivesse tomado um café de manhã tinha adormecido a meio da série (bem, confesso, que não foram poucos os episódios em que fiz fast forward). Acho mesmo que o único ponto bom é ter 13 episódios, mas mesmo assim, se pensarmos bem, o material decente que esta série tem daria um OVA razoável. Nem a isso fomos poupados.
Fangirls deste mundo, tenham atenção porque eu estou irritada. Muito irritada.
Autor:Mafalda Melo