O funcionário da Universidade de Chiba, no Japão, teve fechados no seu armário, durante quase meio século, 250 desenhos, acetatos, pinturas e esboços pertencentes à Walt Disney, que foram sendo danificados pela humidade e pelo mofo, ao longo dos anos.
Os trabalhos vão agora ser devolvidos à Disney, depois de terem sido restaurados nos EUA e feito parte de uma grande exposição que foi vista em todo o Japão.
Mas como foram parar tantos desenhos e pinturas da Disney a um armário de vassouras, esfregonas e produtos de limpeza de uma instituição de ensino superior nipónica, e depois esquecidos?
A história começa em 1960, quando A Bela Adormecida ia ser estreado no Japão. Para promover o filme junto do público nipónico, fervoroso entusiasta do universo Disney, o criador do rato Mickey seleccionou pessoalmente uma larga amostragem de arte do filme, desde acetatos até folhas do storyboard, para ser exposta em 17 lojas da cadeia Mitsukoshi, abrangendo outras tantas cidades.
Walt Disney juntou-lhes mais acetatos e desenhos de outros clássicos da série Silly Symphonies, incluindo O Lobo Mau e os Três Porquinhos, e de longas-metragens como Pinóquio e Fantasia.
Quando a digressão terminou, Disney doou os trabalhos ao Museu Nacional de Arte Moderna de Tóquio. Só que os responsáveis pela instituição não acharam a colecção digna de constar do seu acervo, e entregaram as 250 peças à Universidade de Chiba, para incentivar o estudo das artes visuais.
Mas como em Chiba apenas se estuda engenharia, medicina e ciência, os seus directores olharam para os bonecos, para as pinturas, para os acetatos e para os esboços, e não sabendo o que fazer de tanta Bela Adormecida, e do Grilo Falante, e de árvores e flores com olhos, narizes e bocas, encafuaram os trabalhos no armário do zelador, onde só foram descobertos, por acaso, há quatro anos.
A universidade contactou então a Disney para lhe comunicar o achado. A colecção foi enviada para os EUA e restaurada pelos peritos da Disney Animation Research Library, após o que voltou ao Japão, com mais 350 peças emprestadas pelo estúdio, formando a exposição itinerante “The Art of Disney”, que percorreu triunfalmente vários dos maiores museus nipónicos em 2006 e 2007.
No final, a Universidade de Chiba propôs à Walt Disney a devolução dos trabalhos. O estúdio, decidiu retribuir o gesto com a doação de um milhão de dólares (643 mil euros) e de cópias digitais de cada acetato, desenho, pintura e esboço.
“A entusiástica resposta à exposição itinerante deu-nos uma nova noção do valor histórico e artístico destes trabalhos”, disse Toyoki Kozai, o presidente da Universidade de Chiba. É caso para dizer que mais vale tarde do que nunca.
Fonte: Diário de Notícias