Nestes últimos tempos o nome de Junji Ito tem andado na boca dos fãs portugueses, não só por causa da recente edição do mangá publicado pela editora Devir, mas também pela recente série transmitida na Netflix.
O autor de obras icónicas como Uzumaki ou Gyo viu recentemente vários dos seus contos serem transformados em episódios animados. Ao longo de 12 episódios, podemos ver 20 contos da vastíssima obra do grande mestre do terror que podem ser encontrados em vários mangás já lançados pelo autor nos Estados Unidos pela editora VIZ, no Brasil pelas editoras Pipoca e Nanquim ou Devir ou ainda em Espanha, na ECC.
Como falámos anteriormente este anime agrega vários contos publicados em versão mangá e dos quais destacamos por exemplo: “Balões no Ar” (terceiro episódio), Quatro x Quatro Paredes” (quarto episódio) e “Cabelos Longos no Sótão” (quinto episódio), entre outros. O facto de serem histórias independentes dá ao espectador uma liberdade para assistir os episódios por qualquer ordem e também conhecer o vasto espectro de diferentes tipos de narativas que Junji Ito consegue criar.
No entanto, em Histórias Macabras do Japão temos alguns episódios divididos em duas histórias o que faz com que cada uma tenha metade do tempo face a um episódio normal (22 minutos) e é aqui que começam os pontos negativos. Os melhores contos ficam prejudicados ao dividirem o tempo do episódio com outro e também este combo “dois em um” leva o espectador a fazer comparações entre episódios o que não é bom neste tipo de série.
Quanto ao estilo de animação (produzido pelo Studio Deen) o design de personagens é fraco comparado com a brutalissima arte de Junji Ito e fica muito àquem do que muitos fãs esperavam. Isto porque, há uns anos saiu também uma série baseada nos contos de Junji Ito e os fãs criticaram severamente a série, pelo que era de esperar que esta fosse muito melhor.
A animação em geral é fraquíssima (parece mesmo que quiseram despachar o mais rápido possível para cumprir prazos da Netflix), a paleta cromática e o uso da cor às vezes não faz sentido nenhum ou é mal usada. Contudo há excepções. Existem alguns episódios que estão bons e há poucas coisas a apontar, por este motivo não entendemos a incoerência entre os vários episódios.
O formato de antologia permite perceber como a obra de Junji Ito brinca com diferentes géneros, da comédia ao drama, do pesadelo às mutações corporais e com um toque de terror. Mas a decisão narrativa da Netflix prova-se também uma armadilha ao cair em altos e baixos na qualidade dos episódios.
Em conclusão, Histórias Macabras do Japão não oferece nada de novo aos fãs do mangaka, contudo é sempre uma experiência ver a obra deste ímpar autor em formato animado e para os que nunca tiveram o contacto com o autor penso que poderá ser uma boa porta de entrada, mas nunca descurando ler um mangá dele. Por isso, se têm umas boas 4 horas livres, não hesitem e dêem uma oportunidade.
Escrito por: Fernando Ferreira