Anime baseado no mangá de Yoshitoki Oima (pelo qual ganhou os seguintes prémios: “80th Weekly Shounen Magazine Newbie Best Mangaka Award”, “New Creator Prize”, “Best Rookie Manga”, “Eisner Awards”). Inicialmente foi um mangá one-shot, em 2011. O tema principal é o bullying e, por ser um tema delicado, foi também complicado a autora conseguir publicar esta história. Só em 2013, é que pode desenvolver mais a história e publicar os 7 volumes.
Apesar de não ter nada a ver com o Hotaru no haka (Grave of the Fireflies) do Studio Ghibli, o facto é que senti o mesmo: passa-se o filme todo a sofrer e a chorar. Embora já tivesse lido parte do mangá, não estava preparada para tudo o que se passa no filme. Não deixa, no entanto, de ser um filme lindíssimo e poderoso. A história de Koe no katachi (聲の形) retrata 2 personagens principais (Nishimiya e Ishida) e várias secundárias ao longo de vários anos: desde o ensino básico ao secundário.
Nishimiya é surda. Assim que chega a uma nova turma, na primária, é “bullied” pelos coleguinhas, sobretudo pelo Ishida. Mostram-nos repetidamente a satisfação que o miúdo tem em gozar com ela, em fazer-lhe a vida negra, ao ponto que toda a turma já acha isso “normal”. Mostram-nos, com a delicadeza dos traços no desenho, o quanto a Nishimiya tenta agradar aos outros, o quanto tenta fazer amigos, apesar deste problema que tem de enfrentar todos os dias.
O filme dá saltos no tempo, para frente e para trás, conforme nos querem mostrar o que modelou certa personagem a tornar-se como agora é. Vemos que Ishida vai ser também “bullied”, pelos próprios amigos do tempo do básico. “Quem semeia ventos, colhe tempestades”, encaixa aqui perfeitamente.
Ishida cresce e volta a encontrar a menina surda, já no secundário. Entretanto, tornou-se muito mais modesto e bondoso, com as voltas que a vida lhe deu. E, com isto, recomeça a história entre os dois. Não quero com isto dizer que daí para a frente será um mar de rosas, longe disso. Aos poucos, cada uma das personagens vai crescer, batendo com a cabeça na parede, claro está.
As outras personagens não servem apenas de cenário, são parte integrante da história e, aos poucos, vão ganhando importância.
Um toque interessante e nada descabido: todas as personagens não-relevantes ao Ishida têm uma cruz colada na cara, isto é, vistos pelos olhos dele. No fundo, destaca, assim, as personagens que se vão tornando importantes na sua vida. Inicialmente, fazem-nos sentir pena de uma personagem, a seguir fazem-nos odiá-la, e depois pena outra vez, recorrentemente, jogam com o nosso coração.
Apesar das reviravoltas, das sequências mais óbvias, da tristeza, do bullying, este filme revela uma mensagem potente. Mensagem essa que será interpretada de forma diferente consoante as experiências de vida de cada um. Desenhado com um traço delicado, a animação consegue transmitir as emoções e os motivos que movem as personagens.
Aborda-se de tudo um pouco: a surdez, o bullying, o preconceito, a amizade, os amores, a inveja, o trabalho duro, o desespero, o karma, a redenção, a ternura, a raiva, a bondade, o perdão. Temos é de estar preparados para este tsunami de emoções. Eu não estava. Mas recomendo, forte e feio.
No MyAnimeList, deixei-lhe um 10/10 e a pontuação média é de 9/10 (avaliada por 47.638 utilizadores).
Escrito por: Inês Rocha Silva