Este filme, O Jardim das Palavras (Kotonoha no Niwa, título original), é o novo trabalho de um realizador que eu admiro muito e que nunca me desapontou: Shinkai Makoto. A minha obra preferida dele é o Voices of a Distant Star, que é um ensaio em ficção científica.
Este Jardim afasta-se bastante dessa corrente apreciada pelo autor, aproximando-se mais da análise da vida diária e da história realista, mais próxima de nós – pessoas. O filme fala sobre um rapaz que falta às aulas nas manhãs de chuva e vai para um jardim onde se dedica a rabiscar aquilo que mais gosta: sapatos. O sonho dele é ser um sapateiro, mas dos que fazem os seus sapatos. A seu lado costuma sentar-se uma mulher que bebe cerveja e come chocolate.
À medida que o tempo passa, vão-se aproximando e desenvolvem uma relação afectiva dominada pelo elemento natural da chuva. Só se encontram em dias de chuva e a sua relação existe em função dela, de tal forma que ambos acabam por desejar que a chuva nunca termine, que todos os dias chova. Mas a natureza não é assim, se exceptuarmos esta Primavera tão agradável que temos vivido.
Como devem imaginar, o filme de 45 minutos é passado quase todo debaixo de chuva. No entanto, não é um filme cinzento e frio. Em vez disso existe uma luz quase purificada pela água que cai e todas as coisas têm um brilho reflectivo. Makoto é o especialista da “pornografia dos fundos” e não nos deixa ficar mal. O detalhe é fotográfico (a maioria dos “backgrounds” são baseados em fotografias tiradas no parque Shinjuju Gyoen) e, devido aos jogos da luz em movimento, não há uma única cena que seja estática.
A história é simples e bonita, um misto de reflexão sobre a solidão e história de amor. O final, razão pela qual não posso dar melhor nota a este filme, foi um pouco anti-climático, apesar de ser expectável devido às diferenças da natureza dos personagens.
O que mais estragou o final foi a música, um pop banal da autoria do desconhecido músico Daisuke Kashiwa que, apesar de dentro do tema, tirou o peso e a consequência de tudo o que se tinha passado anteriormente. Mas as outras músicas, um piano que cai como a chuva, melancólico mas doce, conjugam-se com o ambiente de forma bela e quase desejei que nunca acabassem.
Lançado este ano de 2013 e produzido pelos estúdios CoMix Wave Films, Kotonoha no Niwa é um filme muito bom e acho que não o devem deixar passar e vê-lo assim que puderem devido à qualidade da arte, que é exemplar.
Escrito por: Carol Louve