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Legend of the Galactic Heroes

Seria possível para uma série de anime ser extremamente coerente, enquanto possui uma ampla gama de personagens que permanecem relevantes durante toda a narrativa, sem ficar contraditória no seu estágio mais avançado e manter a sua qualidade por mais de 100 episódios? A maioria das séries de anime discorda… mas esse não é o caso Legend of the Galactic Heroes, “Ginga Eiyuu Densetsu” no original. Sendo o enorme anime que é, este OVA de 110 episódios poderia muito bem se ter transformado num tremendo desapontamento, se a direção não lhe desse o devido tratamento. Sendo de um estúdio pouco aclamado e por ter sido lançado por mais de 9 anos, também ajudaria LotGH a ser um exemplo para a desgraça. Felizmente, não o foi.

Desde o seu início, a história retrata uma pequena parte da longa guerra travada entre duas grandes superpotências intergalácticas: República Democrática da Aliança dos Planetas Livres e o Império Galáctico; enquanto o pequeno planeta de Phezzan, uma superpotência econômica, observa as disputas entre as duas fações.

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Uma premissa como esta poderia facilmente ser quebrada se a direção da serie estivesse inclinada para um dos lados, deixando um deles no lado bom, enquanto o outro está no lado maléfico, fazendo com que a barra de moralidade estivesse estritamente preto no branco. Porém, durante a sua duração, nunca há qualquer evidência de que jamais haja uma abordagem inclinada para um lado específico. Cada um dos lados é descrito como tendo as suas próprias virtudes e defeitos, vantagens e desvantagens, e ambos têm demonstrado como esta guerra tem tremendo impacto sobre um e o outro. Além disso, ambos sofrem perdas bastante importantes durante o enorme comprimento da série.

Sendo a história de múltiplas camadas que é, LotGH apresenta também como o poder económico de Phezzan pode afetar ambas as forças. O primeiro quarto da série realmente foca não só sobre a forma de como as interações entre estes grupos estrangeiros trabalham, mas também como as pessoas de cada poderio agem internamente. Por exemplo, enquanto FPA (Free Planets Alliance) afirma ser uma respeitável democracia justa, o seu governo sofre de corrupção política. Da mesma forma que a FPA, o Império Galáctico, também mantém uma grande taxa de nobres corruptos, que sobem no poder por causa de suas ligações e dinheiro. Tendo em conta Phezzan, enquanto tenta manter uma imagem de um poder de interesses unicamente económicos, o seu Líder mostra clara vontade de puxar as cordas por detrás da guerra para a sua vantagem financeira enquanto, por detrás das sombras, adora e auxilia o culto Terraista, composto maioritariamente por lunáticos que adoram o agora longínquo planeta Terra como a origem de toda a vida, facilmente fazendo qualquer tarefa que os seus líderes religiosos ordenem, sendo ela pragmaticamente violenta ou não.

Há um excelente equilíbrio das virtudes e defeitos de cada lado para a barra de moralidade ser tão cinzenta quanto possível. Há sempre um prenúncio para qualquer coisa que se pudesse aparentar forçada. Toda ação tem uma consequência; mesmo se uma escolha tivesse que ser feita para assegurar o bem-estar de milhões de pessoas, enquanto milhares de outras têm as suas vidas tiradas, haverá consequências não só para aquele que terá que reagir, mas também para aquele que sofreu por ter tomado tal decisão. Toda ação é levada a sério e há sempre consideração nas suas consequências, a menos que o personagem fazendo isso esteja numa situação ou tenha um caráter que esclareça o seu possível mau manuseamento da situação.

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Como qualquer tipo de trabalho de entretenimento na existência, LotGH tem os seus problemas. Por mais pequenos que sejam, eles realmente afetam o anime de uma forma negativa. A maior parte dos problemas da série destacam-se a partir da sua velocidade de progressão e exposição de informação. O grande problema com estes dois é que eles acabam claramente de mexer um com o outro e, por vezes, arruínam a experiência para alguns espectadores. Pode parecer horrível, mas para ser honesto, sem este tipo de exposição, a série seria 3 vezes maior e 1/3 seria episódios de preparação completamente arruinando a experiência em um nível muito maior. LotGH usa exposição geralmente em ações de pouca relevância, relativamente ao que vai acontecer durante o episódio. São acontecimentos que, para manter o tom realista do anime, tinham que acontecer.

Não só é Legend of the Galactic Heroes gigantesco no seu enredo, mas também na quantidade de personagens que apresenta. LotGH é capaz de apresentar mais de 50 personagens, sendo que todos estes têm relevância no enredo e, no mínimo, uma muito satisfatória caracterização e desenvolvimento de personagem. Toda a caracterização dada para cada personagem no início da série, é feita dentro dos primeiros 15 ou mais episódios, sem deixar progressão da narrativa de lado. Como existem tantos personagens nesta serie que valem a pena ter uma menção mas como, ao mesmo tempo, se podia estar a escrever um livro sobre todos eles, vou limitar o meu foco a apenas três deles que eu acho essencial serem mencionados.

Yang Wen-li poderia muito bem ser eleito como presidente do mundo. Um homem desajeitado que só queria estudar história quando criança, mas que por causa de problemas econômicos acabou por entrar no exército para ter seus estudos pagos. O pobre rapaz seria então reconhecido como um gênio militar que ascenderia rapidamente na sua classificação. Não que tenha sido a sua intenção; Ele limitou-se a usar estratégias que ele acabou por estudar já que, infelizmente, a maioria da história da raça humana está preenchida de conflitos. Encontrando-se em uma posição tão alta, ele pelo menos tenta recomendar aos seus superiores planos que, sem falhar, terão sucesso; mesmo que estes acabem por não ouvi-lo.

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Reinhard von Musel era um filho de uma família de nobres pobres que, em tenra idade, teve a luz de sua vida, a sua irmã Annerose von Musel, tirada dele pela Kaiser, reclamando-a como sua concubina.

Reinhard prometeu que um dia iria conquistar o universo inteiro com as suas mãos, para que ele nunca mais pudesse ser um rapaz imponente novamente. Siegfried Kircheis é o melhor amigo de Reinhard em todo o universo e prometeu a Annerose que ele iria protegê-lo não importa o que acontece-se. Kircheis poderia ser facilmente confundido como uma sombra de Reinhard, seu braço-direito ou apenas como seu conselheiro já que este o chama sempre à atenção das suas falhas, sempre que estas o fazem escolher o caminho errado a prosseguir. Ele, às vezes, até sente-se oprimido por Reinhard. No entanto, Kircheis é, na verdade, considerado por Reinhard como um tutor que ele mesmo tende a seguir sempre que ele se sente receoso ou preocupado.

Tente-se agora imaginar este nível de caracterização em mais de 20 personagens e tentar explicar tudo isso. Ao longo deste épico, todos estes personagens vão aprendendo com seus eventuais erros, amadurecem com eles ou às vezes destroem-se por causa dos eventos que acontecem nas suas vidas inseguras.

Não tão felizmente, existem alguns personagens que escapam à regra; Os primeiros adversários de Reinhard e Yang tendem a ser mais virados para políticos unidimensionais corruptos que podem ser vistos num desenho animado habitual de domingo de manhã. Porém, como estes são tão poucos personagens de uma gama de mais de 50 bem executados, eles podem ser facilmente esquecidos. O mesmo se pode aplicar aos lunáticos do culto da Terra, mas como os criadores pretendem passar uma mensagem através disso, este defeito é completamente justificado.

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Embora datado, para o seu tempo, a arte e animação da série estão muito bem executadas e destacam-se da maioria dos títulos de anime da época, já que estas realmente tendem a melhorar ao longo do tempo. Há cenários muito bem desenhados, bem como memoráveis designs de personagens. O único problema que se pode reclamar é como os artistas não usaram qualquer tipo de simbolismo para distinguir a classificação entre soldados da FPA. Mesmo isso sendo sacrificado para o realismo, era algo que tornaria a experiência mais cativante. Os designs das personagens foram muito bem escolhidos pois estes tinham a missão transmitir um senso de realismo, tendo em conta o tipo de narrativa em questão, e não os habituais exagerados tropos de anime. As cores de cabelo estavam, maioritariamente, dentro do espectro de cores de cabelo natural, assim como as proporções corporais estavam realistas.

A banda sonora, porém, pode ser considerada o aspeto mais bem escolhido dentro da apresentação da série. Musica clássica intemporal a ser tocada durante todo o curso da série, realmente funde com toda a estética. Os genéricos da serie foram maioritariamente simples, mas o terceiro, onde entra a o tema “Sea of Stars”, pode ser aclamado como um dos melhores genéricos de anime já produzidos. O troféu dourado, no entanto, vai para cada genérico de encerramento que este anime teve. Eles criaram uma das peças mais cativantes de audiovisual que se podia ter feito num tema de encerramento.

Fora a série central, a franquia possui 3 filmes e duas séries spin-off, que retratam com maior clareza a chegada dos personagens principais à sua posição inicial no anime.

Concluindo, por muito aclamada que a serie de Legend of the Galactic Heroes, seja, esta também possui os seus problemas. Porém, estes tornam-se insignificantes perto das excelentes personagens e de uma narrativa espetacular que explora os seus temas políticos e militares perfeitamente, ao incluir paralelos pendentes entre o poder militar e a política, muitas vezes tomando como influência alguns dos momentos mais importantes da humanidade.

Escrito por: Diogo Pereirinha

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