Como adepto de boxe, a primeira vez que ouvi falar deste Megaro Bokusu (メガロボクス) fiquei um pouco de pé atrás. Nem sempre a junção de um desporto com tecnologia futurista corre bem, mas felizmente esta série superou bastante as minhas expectativas.
Num Japão futurista, os cidadãos dividem-se em dois tipos, os registados e os não-registados. Para os não-registados, que não possuem qualquer identificação oficial do governo, a vida é difícil. Dependendo muitas vezes de uma vida relacionada com o crime, é entre estes cidadãos de segunda-classe que se encontra o protagonista de Megaro Bokusu, Junk Dog, um boxer com algum talento que ganha a vida a participar em combates viciados com a ajuda de Nanbu, o seu treinador.
Quando um dia quase atropela Yukiko Shirato, a herdeira do império Shirato e fundadora do campeonato mundial de Megalo Box “Megalonia”, Junk Dog inicia uma rivalidade com Yūri, um famoso lutador de Megalo Box que também trabalha como guarda costas de Yukiko. Motivado por esta nova rivalidade, Junk Dog dá início a um plano para participar na Megalonia e poder lutar no maior palco de todos contra o seu rival, numa história que envolve crime, máfia, excelentes cenas de luta e vários piscares de olho a uma das séries de boxe mais clássicas de sempre.
Embora não seja a versão tradicional, o boxe nesta série não se desvia demasiado do desporto em que se influencia, com a tecnologia a não chegar a níveis ridículos e a adaptar-se bastante bem à história que a série constrói. As regras do desporto também são bastante parecidas com as do boxe tradicional, não afastando aqueles que possam ser mais puristas quanto às influências da série.
Megaru Bokusu tem sido alvo de algumas comparações com Cowboy Bebop, mas na minha opinião esta anda mais perto de Trigun, com um herói solitário que vai encontrando apoio em algumas pessoas que lhe são próximas para alcançar um objetivo que dá sentido à sua vida. Além disso, a forma como a história é contada distancia-se de Cowboy Bebop, sendo Megaro Bokusu muito mais focado no objectivo principal do protagonista. São séries bastantes diferentes, ambas excelentes (embora Cowboy Bebop seja sempre Cowboy Bebop), cujas comparações são desnecessárias.
Mas voltando apenas a Megaro Bokusu, a série é na minha opinião excelente a vários níveis. A animação é incrível, adotando um estilo mais tradicional que com a ajuda da tecnologia existente hoje em dia se torna um deleite para os olhos. Seria bom que mais séries continuassem a adotar este tipo de animação, que a nível pessoal é uma das minhas favoritas devido ao ambiente realista que cria. A música é excelente, misturando vários estilos, desde o hip-hop, passando pelo electrónico e com algumas pitadas de jazz, adequando-se perfeitamente a todos os momentos, especialmente a música épica que passa em alguns dos combates mais marcantes da série.
Embora Junk Dog seja o personagem em que a série se foca mais, esta está recheada de vários personagens secundários bastante interessantes e com uma história bem trabalhada que ajuda a contextualizar os pequenos papéis que têm. Esta opção de realçar o background de alguns personagens menos importantes é sem dúvida um dos pontos fortes da série, despertando o interesse do espectador e dando uma maior consistência ao mundo criado.
Megaro Bokusu é uma excelente série, sem dúvida uma das melhores de 2018. Não é propriamente uma série para crianças, sendo bastante violenta e abordando alguns temas mais adultos como a solidão, perda e trauma. A história é curta mas muito cativante, os personagens são bastante carismáticos e revela-se excelente em todos os níveis técnicos.
Criado para celebrar os cinquenta anos de Ashita no Joe, Megaro Bokusu é uma série que à primeira vista parecia uma homenagem um pouco estranha à série em que se inspira. No entanto, e devido a uma história bem construída que envereda pelo caminho certo, Megaro Bokusu é sem dúvida uma excelente série e uma homenagem devida a Ashita no Joe.
Escrito por: Nuno Rocha