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PlanetES

Decorrendo num ambiente futurista, esta série mostra-nos uma época em que o espaço, seja em termos de recursos como de viagens, se tornou vital à existência humana.

O ano é o de 2075, altura em que a recolha de detritos espaciais se tornou um problema importante após um acidente grave em que um parafuso à deriva provoca a morte de vários passageiros ao embater contra a janela de um vaivém espacial.

A série em si foca-se depois no dia a dia de uma equipa cujo trabalho diário é a organização da recolha desses detritos, ou como quem diz, naquilo a que se pode chamar os homens do lixo do espaço. Que raio de ideia e ui que interessante (seguido de um suspiro sarcástico) deverá a ser a primeira reacção de muito boa gente perante a premissa desta série. Mas como já é habitual neste meio, e não só, nada é assim tão simples e por vezes o observar de certas rotinas diárias, de vidas digamos assim, pode ser tão ou mais interessante que qualquer coisa recheada de explosões e afins. Tudo depende não só dos gostos de cada pessoa, como da disposição da altura.

Se a início o foco está na chegada de uma nova recruta/astronauta à equipa, com o tempo começamos a ver alguns assuntos mais sérios, mesmo que por tempo limitado pois a 20 minutos cada episódio e com 26 em termos da série toda, seria complicado abordar-se certos temas mais a fundo sem que o todo se perdesse algures numa confusão de ideias.


Como tal, foi com alguma surpresa que comecei a deparar-me na série com temas como a morte por doenças como leucemia e cancro, ou com a questão do terrorismo, a par de outras como o amor e a procura de realizarmos os nossos sonhos, assim como a evolução/transformação que muitas vezes podem acontecer a estes últimos à medida que uma pessoa amadurece com a idade e começa a pensar mais a sério na sua vida, no que ela tem sido até ao momento, se estamos ou não satisfeitos com o que temos, se queremos ir ou não mais além.

Tendo em conta a premissa da série e o foco no dia a dia de várias pessoas, o ritmo de Planetes acaba por ser bastante calmo, sem se passar muita coisa em alguns episódios além da interacção entre as personagens, o que poderá ser um teste à paciência dos mais desejosos por cenas constantes de acção.

Em jeito de paradoxo ao que se disse acima, a série tenta introduzir através de algumas personagens momentos cómicos, mas muitos deles acabam por ser demasiado forçados, podendo fazer torcer o nariz a muitas pessoas também, quebrando algumas vezes o ambiente mais sério de outros momentos.


Planetes, mesmo após o que já se escreveu, encerra dentro de si alguns pormenores e detalhes curiosos. Um deles é a questão de não haver som no espaço e, ao contrário do que se vê em outras produções de ficção científica, comecei a notar aqui que sempre que o plano ia para o espaço e para naves a atravessar o mesmo que tudo ficava em silêncio. Comunicações dentro das naves ou entre os astronautas através dos fatos espaciais tudo bem, mas lá fora, o silêncio era a palavra de ordem, ao contrário da tendência de usar-se efeitos sonoros bombásticos de naves a passar, dos seus motores e por aí adiante.

Pormenores à partida pequenos como este mostram um certo amor em tentar transmitir ao espectador uma visão mais realista deste destino imaginário da humanidade em 2075, mas falta-lhe, aparte alguns casos mais específicos, personagens mais profundas e, por vezes, uma abordagem mais madura na narrativa para ir um pouco mais além da audiência dos fãs de anime, o que é uma pena.

Para quem gosta de produções de ficção científica aconselha-se na mesma vivamente uma vista de olhos a esta série, nem que seja pela premissa que é definitivamente fora do habitual. Mesmo com o ritmo lento os 26 episódios vêm-se num instante e o ambiente mais leve em comparação a outras obras mais sérias tornam-na, por vezes, mais fácil de digerir em sessões prolongadas em comparação com épicos como a magistral epopeia de Legend of the Galactic Heroes (um must a não perder e a falar aqui um dia).

Autor: Nuno Almeida

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