Esta série foi escrita pelo nosso Meguqueiro favorito, Urobochi Gen, por isso toda a gente me avisou que ia dar voltas e voltas. Mas não acreditei. Comecei a vê-la a propósito do meu clube, esperando detestá-la logo nos primeiros episódios, mas a verdade é que adorei. E agora vou explicar, com um detalhe difuso que me é característico, os comos e porquês.
Comecemos pelo universo e pela história: num futuro próximo, o Japão criou uma sociedade em que sensores podem ler o estado emocional e as capacidades das pessoas, classificando-as e orientando-as para o que melhor podem fazer. Por outro lado, também o índice de criminalidade pode ser medido e, assim, se a pessoa tiver potencialidade para cometer um crime é logo colocada sob tratamento ou isolada. Tendo isto em conta, existem equipas policiais para apanhar estas pessoas. A história segue as aventuras de uma das equipas, focada numa inspectora acabada de chegar. Na primeira parte acompanhamos a resolução de vários crimes e na segunda parte observamos a perseguição ao personagem que está por detrás desses crimes.
A história por si só é bastante interessante, apesar de recordar alguns trabalhos anteriores, tanto em anime (Ghost in the Shell: Stand Alone Complex) como filmes americanos (Minority Report). Mas esta “inspiração” é ultrapassada pelas diferenças nos personagens. Os de Psycho-Pass (ou Psycopath?) são únicos à sua maneira. Todos eles têm um passado que os levou ao estado em que estão, e a melhor parte é que em apenas um caso se recorreu a “flashback” para o explicar. A verdade é que a intensidade e qualidade do diálogo neste anime são de nota. Gostei bastante do desenvolvimento da personagem principal, Akane, que apesar de se apresentar como a “pessoa ideal para viver nesta sociedade”, estabelece relações afectivas incontornáveis que, falhando, a levam a tornar-se num outro tipo de pessoa, mais realista e terra-a-terra. Além do mais, é demonstrada a sua capacidade de aprendizagem e de resolução de problemas. Mas se na série foram todas pelo “bem”, num futuro deixarão de o ser: bem dizia o outro que os parvos aprendem com a experiência. Ginoza também sofreu um desenvolvimento interessante mesmo no final, sobretudo quando fazem a referência ao abandono dos óculos.
Uma nota para Makishima Shougo. É um vilão interessante e apropriado ao teor da série. Faz lembrar arquétipos como Light de Death Note, com uns traços do muito genial Johan de Monster, mas consegue manter-se único.
No entanto, é difícil de compreender como o seu ideal anarquista se envolve com os assassinatos e com a manutenção de psicopatas, sobretudo na primeira parte: eram mesmo necessários para causar o caos? O seu diálogo é muito interessante, cheio de referências a livros que eu não li (bem, alguns eu li), mas pareceu-me também um pouco pretensioso. Não da parte do personagem, mas da parte do autor (“olhem os livros todos que eu li!”) Perguntaram-me “já se tornou o teu husbando?”. E eu respondo que é muito difícil hoje em dia um personagem obter esse tipo de estatuto. Makishima Shougo nem chega lá perto.
A arte está interessante, com CG bem integrado e designs estruturados devidamente para acompanhar a noção de “futuro próximo” e de “isto vai ser possível”. As cenas de luta, que me costumam aborrecer, estavam fascinantes, mas não só pela qualidade da animação mas também pela banda sonora e pelo contexto em que estavam a acontecer, pois a maioria eram quase como jogos em que quem vence não será o mais forte, mas sim o mais esperto.
Achei os temas de abertura e encerramento extremamente apropriados, quase como se tivessem sido escritas para o anime, em especial o primeiro tema da abertura. Também fiquei a gostar do tema de encerramento, pois identifiquei-me imediatamente com a letra.
Produzido em 2012 pelos estúdios Production I.G, Psycho-Pass é um anime recomendado, nem que seja para pensarmos um bocadinho no estado da sociedade e como seria o mundo se esta fosse controlada pela medição nosso estado emocional e das nossas habilidades. Pessoalmente sinto que seria bastante opressivo e que nos tiraria toda a liberdade de pensamento e de desenvolvimento moral. Também acho que eu já estaria internada num cubículo a ver anime.
Escrito por: Carol Louve