Este filme é uma estranha biografia de um dos mais lidos e amados poetas do Japão moderno, Kenji Miyazawa. Criador de Night at the Galactic Railroad, Miyazawa distingue-se pelas suas histórias carregadas de simbolismo e pelos seus personagens serem normalmente animais. Pegando nisto, o realizador deste filme escolhe para caracterizar o autor, um gato. Ele e todas as pessoas que o rodeiam. Este gato vai vivendo a sua vida, análoga ao seu equivalente real, rodeado de outros gatos e cães e outros bichos que tais.
Infelizmente, não descurando a sua grande imaginação e belas histórias, Miyazawa aparenta não ter tido uma vida especialmente interessante ou então decidiram omitir algumas das histórias de vida verdadeiramente excitantes. Por isso, o filme “não tem” grande coisa por onde pegar. Tenta caracterizar a vida e as relações de Miyazawa com os outros, mas estas não parecem ser muito profundas. Há poderosos momentos que ilustram o processo criativo do autor e estes estão muito bem concebidos, mas fora isso é um filme mediano.
O design de personagens e mesmo o desenho de cenários parecem um pouco mal-tratados, dando-nos a ideia de que estes desenhos foram feitos um bocado à pressa. Mesmo assim, há que ressalvar o processo criativo, em que se utilizam uma série de técnicas originais, tudo o resto está abaixo do normal.
A banda sonora de Spring and Chaos é boa, talvez porque seja maioritariamente composta por temas de música clássica e que facilmente reconhecemos. Destaca-se a versão japonesa do Ave Maria de Shubert.
Como nota de curiosidade, o título original deste filme de animação é Īhatōbu Gensō Kenji no Haru. O nome de Spring and Chaos, de um dos poemas de Miyazawa retirado do livro Haru to Shura. A palavra “Ihatov” no título original é uma palavra em Esperanto inventada pelo próprio Miyazawa, para identificar a cidade onde vive na região de Iwate.
Em suma, Spring and Chaos (1996) é uma interessante homenagem ao autor, mas não vai mais além do que isso. Para ver quando não tivermos mesmo mais nada para ver.
Escrito por: Carol Louve