O que farias se pudesses desfazer os erros do passado? Que caminho te arrependes de não ter seguido quando jovem?
Houve um aumento na quantidade de animes que adaptaram a denominada “redefinição temporal” nas suas narrativas. Alguns usaram bem a técnica e tornaram-se títulos memoráveis, como Steins; Gate, mas para outros foi a causa de sua queda, devido à sua má utilização na construção do argumento, como ERASED (Boku dake ga Inai Machi). No entanto, nenhum desses animes foram capazes de assimilar este tema, tão bem como Tatami Galaxy conseguiu.
Tatami Galaxy conta a história de um caloiro universitário chamado Watashi, que lamenta ter perdido dois anos de faculdade, sem ser capaz de apimentar a sua vida amorosa. Persuadido pelo seu colega misterioso, Ozu, junta-se a ele nas suas desventuras travessas a destruir outras relações dos seus colegas. Um dia, Watashi encontra o auto proclamado deus do acasalamento, enquanto jantava na sua loja de ramen favorita. Este revela-lhe que ele ou Ozu terão que juntar laços com Akashi, uma bela rapariga que é conhecida por Watashi. Embora não goste da ideia, ele acaba mais tarde por se apaixonar por ela.
A maioria dos episódios consistem na fórmula básica de ver Watashi a perder os seus dois primeiros anos de faculdade, depois de escolher um caminho diferente para, eventualmente, conhecer e juntar-se com Ozu para, consequentemente, deixar as suas expectativas de ter a melhor vida universitária por água abaixo.
É claro que, seguindo a regra do anime, cada episódio teria que ser a mesma coisa feita de uma forma ligeiramente diferente; seguindo o protagonista a escolher um caminho diferente para sua vida de faculdade e perceber se, desta vez, a sua vida e as suas ligações irão revelar-se como ele espera. Pode-se dizer que existe, embora inevitavelmente, muita repetição durante os episódios do anime, mas os produtores foram capazes de evitar que fossem aborrecidos, uma vez que não só aceleraram as cenas repetidas, mas também inseriram algumas pequenas piadas nas designadas cenas.
O próprio protagonista desconhece a “redefinição temporal” e, apesar das suas escolhas mudarem para evitar o resultado anterior, ele não tem nenhuma pista sobre como lidar com o próximo caminho sem falhar novamente. A razão para a “redefinição temporal” é desconhecida durante todo o tempo de execução, mas uma vez que o anime não focava na parte de “redefinição temporal”, mas em vez disso, nos seus personagens, suas vidas e o tema por trás da narrativa, o suposto erro pode ser desculpado.
Existem vários temas espalhados pela série, como isolação, auto-aceitação, alienação, entre outros. Porém o tema mais proeminente em toda a série é, sem duvida, a introspecção. Ao explorar o tema principal do título sobre a reparação dos erros do passado, o anime chegou a uma conclusão que, possivelmente, qualquer outra história de “redefinição temporal” não seria capaz de fazer. Não há um caminho errado ou correcto. Cabe à pessoa criar um caminho correcto estudando bem a situação em que se encontra. Nós só podemos realmente desfrutar da vida como ela é, aceitando os nossos erros passados e aprendendo com eles. Temos que passar a assumir a responsabilidade pelos nossos erros e não tentar mudar o passado.
Durante todo o anime, aparecem muitos momentos aleatórios que podem parecer fora de lugar e que são apenas usados como forma de pequenos momentos humuristicos, no entanto, todos aqueles momentos supostamente aleatórios estão directamente ligados ao anime… Cada momento tem uma razão para estar lá! Está tudo interligado! E isso é genial!
O argumento em Tatami Galaxy está muito bem estruturado. Para um anime com extensas linhas de diálogo e uma narrativa “veloz”, a história encaixa perfeitamente nos 11 episódios de 24 minutos que a série tem.
Os personagens são extremamente diferentes uns dos outros e todos têm caracterização rica, com especial destaque para as suas falhas, hábitos e objectivos. Juntamente com estas características também vamos descobrindo alguns comportamentos peculiares que os personagens acabam por revelar ao protagonista. As suas personalidades são fundadas o suficiente para não serem vistos unicamente como combustível de comédia. Todos eles ainda por cima desenvolvem como personagens! Todos eles, subtilmente ou não, passam por algum tipo de mudança ao longo do anime, sendo a mudança impactante ou amavelmente subtil.
Uma coisa que não deve ser esquecida, enquanto falando dos personagens, é que, durante o anime, é subtilmente apresentada a ideia de que a visão que uma pessoa um tem sobre o mundo encontra-se no próprio, e que outros sempre terão a sua propria intrepretação da realidade. Isto é mostrado da maneira mais eficiente, quando é mostrado que Ozu, que era visto como um homem com cara diabrete, na realidade não era assim e que, ironicamente, ele via Watashi como um homem de cara de diabrete.
A arte é criativa, dinâmica, artística e mistura alguns elementos fotográficos para enfatizar o estilo artsy do anime. É emocionante para o olho, sólida e única. O design das personagens utiliza uma estética bem cartoonesca e simplista, mas não descorando a representação da figura humana. Porém, nem tudo é perfeito e a meu ver, no que diz respeito aos cenários, a maior parte dos fundos desenhados são pouco detalhados, não conseguindo assim passar uma ideia de profundidade nos cenários.
Há poucos momentos durante os episódios onde a banda sonora esteja presente, isto porque temos os personagens em constante diálogo e ainda por cima em velocidade foguete. Por este motivo é acertivo não termos música para não fazer ainda mais “ruído” nas cenas do anime.
A banda sonora navega pelas sonoridades mais jazzy e smooth, mas não trazem nada de novo ao anime, ao contrário dos efeitos sonoros que foram esplendidamente bem colocados. Eles não só foram capazes de assimilar a singularidade artística do anime, mas também misturar perfeitamente com as cenas que estavam a ocorrer.
A estética do anime, o diálogo ultra-rápido, as personagens cativantes e as mensagens inspiradoras tornam Tatami Galaxy uma experiência única, criativa e envolvente, e um “must-watch” para toda a gente.
Escrito por: Diogo Pereirinha