Capitão… Uma posição altamente respeitada. Apenas soldados trabalhadores, respeitáveis e intelectuais são realmente merecedores desta importante posição. Não há nenhuma possibilidade, em todo o universo, que o inverso de tal pessoa chegue a essa posição, certo?… Ou será que há? Senhoras e senhores, tenho a honra de vos apresentar um anime que segue exatamente esta mesma ideia de ter um homem intolerável e irresponsável com uma responsabilidade colossal nas mãos e que, mesmo assim, está-se nas tintas para com isso.
The Irresponsible Captain Tylor, ou Musekinin Kanchou Tylor no original, é uma série de anime que, durante 26 episódios de 24 minutos, segue a história do nosso atípico protagonista Tylor que, como o título descreve, é o mais irresponsável capitão que uma nave espacial pode ter. No entanto, nesta sua vidinha, Tylor claramente não começou a sua carreira como capitão. Foi apenas pura sorte, ou a falta dela. No início da série, o nosso simples macho alfa só queria uma carreira fácil dentro do exército com direito a dinheiro facilmente ganho enquanto trabalhava com a papelada, seguida de uma aposentadoria calma. Infelizmente para ele, depois de acidentalmente salvar o aposentado oficial Hanner de um duo terrorista, Tylor foi promovido a tenente comandante e designado para ser o capitão da infame nave espacial Soyokaze, consequentemente, assumindo o seu lugar nas linhas da frente da guerra interestelar entre as Forças Especiais dos Planetas Unidos e o Império Raalgon. Durante tudo isto, os seus superiores tentam encontrar uma maneira de se livrar da enorme ameaça interna para o exército que é o Tylor.
Embora seja desagradável para mim admitir isto, a progressão do enredo neste anime é quase inexistente. O anime concentra a maior parte de seu tempo a apresentar a tripulação e a mostrar como eles se comportam dentro da nave. Toda a tentativa de avançar com o enredo é comicamente desfeita ou posta de lado, principalmente por causa da maneira de como o nosso protagonista trata os seus subordinados. Há até um episódio em que o Tylor decide libertar um importante prisioneiro de guerra, já que este queria, revertendo o status quo depois de ganhar uma vantagem esmagadora na guerra, apagando qualquer tipo de progressão no enredo nos episódios anteriores. Seja como for, é respeitável da parte dos autores não quebrarem a plausibilidade da personalidade da personagem, para forçadamente avançarem o enredo.
A maioria dos episódios são independentes, não relacionados com o enredo, feitos para mostrar o quão bem a personalidade do Tylor choca com o resto da tripulação, produzindo incríveis momentos cômicos. Um mulherengo irresponsável no meio de soldados experientes que têm a tratá-lo como capitão? A comédia feita a partir desta base sente-se tão natural que eu não pude deixar de rir.
Irresponsável Captain Tylor também tem suas surpresas, embora seja apenas uma comédia. Uma das partes mais estranhas que o anime acaba por conceber é, surpreendentemente, manter uma barra de moralidade cinza entre ambos os lados do conflito; ambos os lados têm qualidades e defeitos durante a progressão do anime. Muito curioso que um anime maioritariamente focado na comédia consiga isto, enquanto outros títulos modernos que se levam muito a sério acabam por tropeçar na sua pretensão, como Akame ga Kill. Tylor ri-se deles de cima de um pedestal, não só por ser capaz de retratar a barra de moralidade em um tom de cinza, mas também por fazer isso quando não se leva demasiado a sério. O anime também consegue espaçar os graves momentos da guerra dos tranquilos momentos cômicos. Isso só é possível por causa do ritmo bastante bem manuseado de cada episódio; Há uma grande habilidade de realização em jogo aqui. Infelizmente, o anime termina inconclusivo e não encerra o enredo da guerra.
Para ser honesto, além de Tylor, o elenco restante é bastante fraco. Há algumas exceções, é claro, como Azalyn, Dom, Yuriko e Harumi, mas o resto são personagens uni-dimensionais que facilmente se descrevem com um ou dois traços de personalidade.
Por um lado, personagens como Tylor, Dom, Yuriko e Azalyn têm personalidades bem definidas, com as suas falhas, objetivos, habilidades, pequenos pedaços dos seus passados e algumas peculiaridades. Tylor não ter nenhuma meta que queira alcançar faz parte do seu caráter. Para ser honesto, o próprio Tylor parece uma paródia exagerada de Yang Wen-li, protagonista do emblemático Legend of the Galactic Heroes, o que resultou numa excelente escolha para o que o anime se prometeu a fazer.
Harumi, apesar de ter um desenvolvimento intrigante para um personagem de uma comédia, tem uma personalidade simplista e que, infelizmente, fica estagnada a meio da série, embora, felizmente, ainda mantenha uma presença forte.
No geral, a caracterização é simples, mas tem os seus momentos mágicos, enquanto que o desenvolvimento de personagem é escasso, mas não extingue a importância dos personagens da narrativa.
A animação mantém-se bastante sólida para uma anime dos primeiros anos 90, tirando alguns soluços que aparecem pela série. Os designs de personagens seguem os estereótipos dos animes dos anos 90 e como eu não pude encontrar qualquer variação em toda a série, os designs ficaram pelo genérico, embora eu aprecie bastante do estilo. Os cenários são esplêndidos e realmente ofereceram outra vida para a apresentação. Estes são tão detalhados quanto as naves espaciais, que também estão esplendidamente bem-feitas, com bastante abundância em detalhes. Em contraste, a animação não é tão impressionante e realmente não é algo que mereça destaque, mas, ainda assim, é sólida. No entanto, no último episódio, a qualidade de apresentação é muito superior em relação aos restantes episódios; Até se pode sentir o amor que os animadores colocaram no seu trabalho.
Acho que a única característica que se pode criticar negativamente é o som. É facilmente esquecível e às vezes mal inserido nos momentos escolhidos. Realmente deixou uma má impressão. Felizmente, como todos os yins têm um yang, mesmo em tal banda sonora há algumas faixas de ouro, sendo uma delas a peça de música clássica “Abertura de Guilherme Tell”, que foi usada uma vez em toda a série, quando a tripulação de Tylor estava enfrentando uma crise. Realmente dá a sensação de que está a ocorrer uma batalha ao nível do supramencionado LotGH no ecrã.
Irresponsible Captain Tylor é um anime que embora o critique desta forma, dificilmente o esquecerei. É uma série que recomendo a todos que andam à procura de uma boa comédia com uma história sólida, que contenha tantos momentos sérios como momentos cómicos, sem deixar um oprimir o outro. Para ser honesto, seria simplesmente perfeito se o anime fosse totalmente episódico. Estou ansioso para ver uma sequela que pudesse tirar todo o potencial que deixou nestes 26 episódios, mas não vejo como os 10 episódios de OVA que procedem esta serie pudessem fazer isso.
Escrito por: Diogo Pereirinha