Um dos realizadores mais aclamados da animação japonesa nestes últimos tempos é Satoshi Kon, quer pelo trajecto que tem tido quer pelas suas mais recentes longas metragens. Perfect Blue, um dos filmes mais conceituados no estilo thriller e o lindíssimo Millenium Actress (Sennen Joyu, no título original), fazem com que esta terceira obra intitulada Tokyo Godfathers (東京ゴッドファーザーズ, leia-se Tōkyō Goddofāzāzu) seja um título a ter em conta, já que foi um nomeados para os Óscares do ano de 2004.
Gin, Hana e Miyuki três vagabundos que vivem numa barraca num parque em Tokyo. Gin (Toru Emori), um bêbado de meia idade, sem família e ilusões, Hana (Umegaki Yoshiaki) é um transexual estremamente feio e Miyuki (Okamoto Aya), uma jovem que fugiu de casa em busca de uma vida melhor. Estes anti-heróis por excelência batem-se dia-a-dia contra a fome participando nas obras de caridade religiosa.
Na noite de vêspera de Natal, as suas vidas mudam: no meio do lixo, encontram um bébé encantador a que dão o nome de Kiyoko. O instinto “maternal” de Hana faz com que decidam não o entregar à polícia e os três decidem “adoptar” a criança, enquanto procuram a mãe biológica e descobrem porque terá ela abandonado o filho.
Nesta incessante procura da mãe, o trio vive inúmeras aventuras (o salvamento de um chefe Yakuza, uma tentativa de assassinato, um confronto com um grupo de jovens racistas, etc) que nos permitem conhecermos a fundo os trs personagens e as raz›es que os levaram a ter que viver na rua.
Sem darem conta, a sua vida tinha mudado de forma radical e agora sentem que encontraram algo por que vale a pena lutar. Por protecção divina ou por terem tido sorte em encontrar o bébé leva-os a que tenham uma nova oportunidade de recomeçar a sua vida.
O filme tem um ritmo trepidante, que se move constantemente entre o humor disparatado, a ternura e um toque de magia. Os “gags” são constantes e tremendamente divertidos, os protagonistas facilmente nos cativam e o argumento surpreende pela sua versatilidade. Divertido e emocionante em partes iguais, Tokyo Godfathers deixa no espectador uma sensação de felicidade díficil de encontrar e explicar.
Quem viu o ambiente obscuro e delirante de Perfect Blue dificilmente diria que este Tokyo Godfathers é também da sua autoria juntamente com o Masao Maruyama, director dos estúdios Madhouse (X, Vampire Hunter D e Ninja Scroll).
O aspecto visual do filme é poderoso. O “chara design” é bastante pessoal e ousado. Apesar de ter um traço realista, o lado caricatural dos personagens não foi posto de parte. Os cenários também são de um detalhe espectacular, é de destacar o ambiente invernal de Tokyo com neve nas ruas de um mundo de luxo convivendo a paredes meias com a pobreza dos protagonistas.
Sem dúvida que, Tokyo Godfathers é um filme de eleição e obrigatório para todos aqueles que gostam de bom cinema. Uma mostra de que o anime é um dos melhores veículos de imaginação e originalidade.
Escrito por: Fernando Ferreira