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Trigun

Apesar de ser uma série muito boa no geral, é bastante desigual. O mais interessante de Trigun é como eles conseguiram fazer uma animação que mistura muito bem a caricatura e o realismo – cada um tem o seu efeito e é usado com mestria na hora certa. Especialmente as mudanças de humor e de sentimentos dos personagens são feitos com maestria, em pequenos detalhes da expressão facial.

Acho que foi a primeira vez que eu realmente gargalhei assistindo a um anime, principalmente nos primeiros capítulos. Mas não pensem que Trigun é um anime cómico, embora o humor continue fortíssimo por toda a série, existem momentos capazes de nos fazer verter uma lágrima.

Trigun é um excelente anime de 26 episódios especialmente feitos quem não gosta de monotonia. O ritmo é bastante variado, mas acontecem sempre algo em cada cena, que se sucedem com grande rapidez. Há cenas incríveis de tiroteios de tirar o fôlego. Às vezes o ritmo fica tão intenso não sabemos bem para onde olhar, mas também há momentos de calmos, quando as coisas ficam sérias e Vash ou os outros personagens refletem sobre suas vidas.
O que “pega” um pouco é a intensidade das cenas de morte e dos infindáveis ferimentos de Vash. Não que elas sejam graficamente fortes, mas a tensão dramática faz tudo parecer pior do que é.

Realmente, o ponto central da trama é uma história de amor, mas é um amor perdido no passado. Não se deve esperar interlúdios, mas há algumas cenas bem expressivas ao estilo japonês – olhares e silêncios.

Extremamente rico, na minha opinião, mas não sei se todo mundo vai apreciar isso (^_^), por que há tanto humor e acção que as coisas “sérias” parecem ter menos peso. No entanto, acho que há algumas cenas extremamente tristes quando se está prestando atenção nos conflitos internos das pessoas. Há vários questionamentos profundos escondidos (às vezes escondidos demais, na minha opinião) na trama do anime. Especialmente no que se refere às origens de Vash e Knives e a toda a concepção da criação do mundo e do valor da vida sutilmente apresentada na canção de Rem.

O anime começa com uma cena de Western num cenário futurista onde somos apresentados a duas raparigas da Agência de Seguros Bernardelli que procuram pelo perigoso bandido Vash the Stampede, ou deliciosamente pronunciado em japonês como “bashu za sutampido”). Há uma recompensa de 60,000,000,000$$ pela sua cabeça, vivo ou morto, já que ele foi o responsável pela aniquilação de uma cidade inteira. Ele também responde pelo apelido de “tufão humanóide”, pois parece causar apenas destruição por onde quer que passe, e a companhia de seguros, preocupada com seus gastos, envia Meryl Stryfe e Milly Thompson com a missão de encontrá-lo e evitar que ele cause mais desastres. Contudo, ninguém parece tê-lo visto pessoalmente e suas descrições diferem muito de pessoa para pessoa.

Quando elas finalmente conseguem encontrá-lo, Meryl não consegue acreditar que aquele rapaz com cara de bobo é o famoso bandido (embora Milly perceba a verdade logo de cara…). De qualquer maneira, elas decidem acompanhá-lo nas suas muitas aventuras. Vash parece atrair confusão como um ímã, mas ele também sempre arranja uma forma de se safar delas, devido à sua incrível velocidade e habilidade com sua arma. Vash ama a humanidade e está sempre pronto a ajudar os mais fracos contra os malfeitores e após muitas peripécias ele encontram outro estranho pistoleiro chamado Wolfwood, que compartilha o sonho de Vash de proteger os indefesos.

Contudo, o passado de Vash o persegue na figura de seu maléfico irmão gêmeo Knives e seu braço direito, Legato, este último, também o líder de um gangue de assassinos chamados os Gung-Ho-Guns. Knives ordena a Legato e os Gung-Ho-Guns que transformem a vida de Vash num inferno, ameaçando os inocentes e seus entes queridos. Vash é forçado a procurar Knives e a enfrentá-lo, embora isso vá lhe custar muito caro e por todo o planeta em perigo…

Também há muito mais coisas ligadas ao passado de Vash, Knives e Rem, o primeiro amor de Vash. Além disso, ainda há o facto de que Vash e Knives não são realmente humanos e que Knives despreza profundamente a humanidade, embora, no final, possamos ver que ele também está apenas procurando por seu lugar no universo.

Embora os personagens sejam bastante complexos, parece-me que a vontade de manter um ritmo acelerado da acção acabou fazer com que a apresentação dos personagens ficasse um pouco comprometida. Aos poucos vamos descobrindo o seu passado e as suas angústias, mas seria melhor se tivessemos mais tempo para conhecer os personagens melhor. Interessante é reparar como a nossa opinião vai mudando ao longo da série, conforme vamos conhecendo mais os personagens, pois eles são muito diferentes daquilo que aparentam.

Vash the Stampede (Onosaka Masaya, também conhecido por Jedite em SailorMoon ou Keroberus em C.C.Sakura) é um personagem intrigante, que consegue passar rapidamente de um perfeito idiota a um pistoleiro perigoso ou a uma pessoa pura e pronta a se sacrificar pelos outros, mesmo por aqueles que não merecem (e reparem como a arte faz essa passagem, simplesmente usando os óculos e a expressão facial). Ele é uma pessoa muito doce e um dos mais fortes candidatos na minha lista de “Melhor personagem de anime de todos os tempos”.

Millions Knives (Furusawa Toru, também Nakago em Fushigi Yuugi) e Legato Bluesummers (Seki Toshihiko, que também deu voz a Iruka de Naruto ou a Dr. Kyoya em Soul Taker série esta que está actualmente a ser transmitida na Sic R) são duas incógnitas para mim, e poderiam ter sido mais definidos, isto porque eles têm muito “material” para um estudo das motivações que levam as pessoas a actos extremos. Eles têm sangue frio nas veias e são completamente cínicos, desprezando a humanidade com um fervor que só se compara ao amor de Vash pelos inocentes. Há um forte vínculo entre Knives e Legato, mas eu não consegui descobrir de onde isso vem (imagino que isso esteja mais claro no manga). De qualquer forma, os dois são extremamente poderosos e estão determinados a fazer da vida de Vash num verdadeiro inferno.

Nicholas D. Wolfwood (Hayami Sho, que também deu voz a Yakushiji Tenzen em Basilisk) de seu nome completo é outro personagem muito rico e complexo. Não é fácil dizer se ele é “bom” ou “mau” ou apenas humano. Ele é responsável por muitas cenas hilariantes com Vash, mas também por uma das cenas mais tocantes da série, quando ele vai a uma igreja e conversa com Deus sobre perdão para seus pecados. Ele fez-me chorar de verdade, e isso não acontece com frequência!

Meryl Stryfe (Tsuru Hiromi, que deu vida a Madoka no anime Kimagure Orange Road TV) e Milly Thompson (Yukino Satsuki, que representou outros papeis em animes famosos como Inuyasha na personagem Kagome Higurashi e Chidori Kaname em Full Metal Panic!) também têm muitas facetas interessantes. No começo da série, são um bocado irritantes, mas esse é o seu papel, enquanto elas ainda vêem Vash como um criminoso perigoso ou como um completo idiota. Mas conforme o tempo vai passando e elas aprendem a conhecê-lo melhor (e ele a elas) e então apercebemo-nos que elas também são mais profundas e muito mais sensíveis do que aparentavam ser no ínicio da série.

Produzida no ano de 1998 pelo realizador Nishimura Satoshi e pelos estúdios Madhouse Production, Trigun é realmente uma das melhores séries de anime que eu já vi, e talvez não seja a melhor porque é demasiado compacta que acaba por deixar muitos “fios” soltos. Por exemplo, a importante revelação da verdadeira natureza e identidade de Vash e Knives que é apresentada rapidamente numa frase no último episódio!

Apesar disso, a acção é perfeita, o humor é fantástico, a arte de Yoshimatsu Takahiro é muito boa na maioria das vezes, os personagens são originais, profundos e captam a simpatia do público desde o início. A história também tem muitos níveis de entendimento e nos leva tanto às gargalhadas como às lágrimas. A música também é óptima, tem um ritmo forte de rock que “casa” perfeitamente com o tipo de história. A abertura, é feita ao som da música “H.T.” (humanoid typhoon, é como uma síntese do que se pode esperar da série: uma excelente pedida para todos os fãs de anime.

Autor:Selma Meireles

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