Nestes últimos anos temos assistido a um boom de literatura japonesa a ser publicada pelas editoras nacionais. São vários os escritores a verem os seus livros em português, mas há um que se destaca de todos os escritores japoneses, Haruki Murakami. A Companhia das Letras, a editora que tem os direitos deste autor, lançou recentemente vários livros com capas novas que são um regalo para os olhos. Foi por este motivo que me aventurei a ler o “Crónicas do Pássaro de Corda”, um romance com mais de 800 páginas.
A história segue Toru Okada, um homem comum, cuja vida tranquila começa a desmoronar após o desaparecimento do seu gato e, posteriormente, da sua mulher, Kumiko. O ponto de partida parece do mais banal possível, mas rapidamente mergulhamos num mundo surreal e onírico, onde os sonhos, as memórias e a realidade se misturam. Nesta viagem diária de Toru, vamos conhecer uma série de personagens excêntricas e profundamente simbólicas, como Malta Kano, uma vidente, e Creta Kano, a sua irmã, que carrega traumas profundos. Há também Noboru Wataya, cunhado de Toru e uma figura enigmática que personifica o mal na narrativa.
A escrita de Murakami é hipnotizante, repleta de descrições sensoriais e metáforas instigantes. O ritmo da narrativa é deliberado, alternando entre momentos de introspecção e reviravoltas inesperadas. A repetição de motivos, como o som do “pássaro de corda” e a presença do poço (elemento essencial nesta história), contribuem para criar uma atmosfera irreal e onírica.
Apesar da escrita de Murakami ser bastante fluída, a complexidade do enredo que ele cria pode ser desafiador para os leitores que não estão habituados a ler as suas obras. Algumas questões permanecem sem resposta, o que pode causar frustração ao leitor. No entanto, é precisamente essa ambiguidade que torna este livro de Murakami uma obra tão rica e aberta a interpretações que a tornou para muitos dos críticos um dos melhores livros deste escritor japonês.
Crónicas do Pássaro de Corda é um romance fascinante que explora os recônditos da mente humana. Murakami convida-nos a refletir sobre a perda, o desejo e o poder da memória, numa narrativa que desafia as fronteiras entre o real e o imaginário.
Em resumo, uma leitura indispensável para os amantes de literatura contemporânea e do realismo fantástico.
Escrito por: Fernando Ferreira