A TRAJETÓRIA DOS HERÓIS QUE CONQUISTARAM O MUNDO
Das quatro linhagens mais importantes do género Tokusatsu, há uma que hoje podemos considerar extinta. Falamos claro dos saudosos Metal Heroes, que tiveram uma passagem marcante pelo Brasil, onde criaram um grande grupo de fãs.
Apresentados ao mundo no ano de 1982, com a estreia do inovador Polícia do Espaço Gavan (Uchuu Keiji Gavan), as séries protagonizadas por heróis com armaduras de metal hoje vivem apenas na lembrança dos fãs. O Brasil teve o privilégio de acompanhar 10 (de 15) destas séries, sendo que nenhuma delas obteve o mesmo sucesso de Jaspion (Kyoju Tokusou Jaspion). Outras séries que fizeram bastante sucesso por aqui (Brasil) foram Sharivan, Shaider, Spielvan (conhecido como Jaspion 2), Metalder, Jiraiya,…
A saga dos heróis de metal manteve-se até o ano de 1989, onde tivemos as aventuras do Policia de Aço Jiban (Kidou Keiji Jiban), também exibido no Brasil com enorme sucesso. No ano seguinte, a Toei, empresa que detém os direitos das séries, lança um novo padrão para o género, apresentando o Esquadrão Winspector (Tokkei Winspector), que ao invés de mostrar um guerreiro solitário, contava com um trio de heróis que dariam início ao chamado Rescue Heroe, classificação utilizada para sub-dividir o universo dos Metal Heroes. Com o sucesso da série, em 1991 tivemos a sua continuação directa: Solbrain (Tokkyu Shirei Solbrain), última série do género a ser exibida no Brasil.
Os esquadrões de resgate ainda teriam uma terceira versão, Tokusou Excee Draft. Com o desfecho dos Rescue Heroes, os Metal Heroes tiveram seu novo representante em 1993, Tokusou Robo Junperson. Já em 1994 foi a vez de Blue SWAT, série que mais uma vez apresentava um trio de heróis.
O fim dos heróis de metal começou a sentir-se no ano de 1995, com a chegada de Jakou B-Fighter, uma série protagonizada por um trio de heróis que mais nos fazia lembrar besouros metálicos. Apesar deste facto, a série teve um sucesso considerável e deu origem à segunda versão “sabanizada” em cima do género Metal Heroe: Battle Borgs (A primeira foi V.R. Troopers, onde as séries utilizadas na ocasião foram Spielvan e Metalder). Felizmente, a versão americano resumiu-se num fracasso total.
Por fim, no ano de 1996 tivemos a última série Metal Heroe, que na verdade era uma continuação de B-Fighter: Jakou B-Fighter Kabuto. Depois disso, tivemos apenas seriados infantis como Kabutak, Robotack e Moero! Rococon, que não podem ser considerados oficialmente como Metal Heroes.
O RENASCER
Muitos fãs até hoje lamentam e ao mesmo tempo não entendem o motivo que levou a Toei a suspender a produção deste tipo de série. Na verdade, a empresa que detém os direitos dos Metal Heroes é a mesma detentora das séries Super Sentais e Kamen Riders, outras duas importantes marcas do universo Tokusatsu.
O género dos Kamen Riders, muito mais tradicional e importante que os Metal Heroes, pelo menos quando falamos em termos de Japão, também chegou a dar a impressão de que também iria acabar, depois da morte de Shotaro Ishinomori, criador de todas séries Riders até então. Mas no ano 2000 surgiu um novo representante da família dos homens-gafanhotos: Kamen Rider Kuuga.
A série que ressuscitou a mais tradicional linhagem de super heróis japoneses ao lado da família Ultra deu início ao que podemos chamar de nova geração dos Kamen Riders. Kuuga acendeu novamente a chama dos motoqueiros mascarados e com isso, a Toei passou a estabelecer um novo padrão anual, passando a lançar a cada temporada uma nova série Super Sentai (tradição que dura desde 1979) e uma nova série Kamen Rider.
Em 2001 tivemos a estréia de Kamen Rider Agito, série que seguia os mesmos padrões de Kuuga, o que fez todo mundo acreditar que esta seria a nova cara dos Riders. Mas no ano de 2002 veio a grande surpresa: Kamen Rider Ryuki. Muitos protestaram contra o novo Rider que em nada lembrava os originais, devido ao seu visual e principalmente o enredo da série. Mas reclamações à parte, Ryuki atingiu aquilo que a Toei buscava: audiência e lucros com a venda de merchandise
Já no ano de 2003, chega finalmente a série que nos faz lembrar outra vez o género Metal Heroe: Kamen Rider Faizu. Se Ryuki já tinha lá suas raízes metálicas, Faizu chegou para assumi-las por completo. O Kamen Rider no melhor estilo Jiban lembra até o Robot Rider da série Kamen Rider Black RX, que também já foi exibida no Brasil. Talvez essa tenha sido a real intenção da Toei, criar um Kamen Rider com as características dos Metal Heroes, como uma espécie de fusão dos dois géneros.
Pelo facto da marca Kamen Rider ser mais tradicional e importante do que a dos Metal Heroes, é natural que a empresa mantenha este nome como garantia. Já os enredos também seguem o tradicional clima dark que vem se mantendo desde o primeiro Rider, de 1971.
O que nos faz realmente acreditar que o Metal Heroe está mesmo encarnado nos Riders actuais é a sensação de estarmos a ver algo familiar. O mais novo Kamen Rider, Blade, é um bom exemplo disso. O seu visual lembra-nos um Rider (devido aos olhos redondos) e ao mesmo tempo um Metal Heroe, pelo visual da armadura em si.
Talvez isso não passe de um consolo. Não gostaríamos de acreditar que o género que nos mostrou e trouxeram Jaspion, Jiraiya, Jiban, Winspector e tantas outras séries deixem de existir por completo.
Para quem ainda se recusa a aceitar o fim desta linhagem, os novos Rider servem de alento. Se um dia os Metal Heroes terão seu retorno definitivo só a Toei poderá nos dizer, mas enquanto este dia não chega, podemos crer nesta hipótese de que existe vida após a morte através da reencarnação, pelo menos quando o assunto é Tokusatsu, um universo no qual nada é impossível.
Autor:Bruno S. Neto