Desconhecendo o trabalho de Natsuko Imamura (uma das escritoras japonesas mais premiadas da actualidade) antes de ler a obra, foi ao procurar por um novo livro que acabei por me deparar com Murasaki no sukaato no onna.
Colocando-nos no papel de um stalker, Murasaki no sukaato no onna é uma obra cativante que nos cola do princípio ao fim, tendo vencido o prestigiante 161º prémio Akutagawa.
Diariamente, uma mulher com uma saia roxa faz a mesma coisa. Vai até ao parque local e deixa-se absorver pelos seus pensamentos enquanto come um doce, tentado as crianças locais que lá brincam despertar a sua atenção. No entanto, é observada por alguém misterioso (o narrador do livro), que nos conta detalhadamente a rotina diária da mulher com a saia roxa.
Murasaki no sukaato no onna inicia com o narrador a observar a mulher por quem está obcecado, caracterizando-a de forma misteriosa e caricata. Ao longo da obra, o narrador vai fazendo tudo para que esta curiosa mulher suceda na vida, desconhecendo-se as motivações e identidade de ambos os personagens. O narrador parece estar em todo o lado, sabendo todos os detalhes mais sórdidos da vida da mulher de saia roxa e tentando influenciar as decisões desta sem que ela se aperceba.
Murasaki no sukaato no onna consegue com sucesso colocar-nos na pele de uma pessoa com uma obsessão doentia. O narrador faz da mulher com saia roxa uma figura quase mitológica, parecendo até em certas partes da obra que esta é apenas um fragmento da sua imaginação.
O livro analisa também o comportamento das pessoas que preenchem a vida de ambos e como as suas atitudes vão mudando ao longo da obra. Murasaki no sukaato no onna satiriza o comportamento humano e as relações de conveniência que criamos nos locais de trabalho. A fragilidade destas relações é enorme e são facilmente destruídas por interesses próprios ou pelo instinto de salvaguardar a nossa pele no local de emprego.
Murasaki no sukaato no onna é uma daquelas obras que é difícil de largar, onde a história se desenrola a um ritmo acelerado, enquanto nos questionamos sobre a identidade do narrador e as razões para esta obsessão doentia. A protagonista do livro está longe de ser perfeita, o que ainda nos cria mais dúvidas sobre esta relação.
É uma obra que não esclarece todas as questões que levanta, mas que nos deixa a pensar sobre as motivações dos seus personagens após a viagem alucinante que é a sua leitura.
Escrito por: Nuno Rocha