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Ano natsu, ichiban shizukana umi

Pode-se dizer, que para além do universo anime, os filmes de Takeshi Kitano (北野 武) foram a minha introdução ao cinema japonês. Com muita da sua obra dedicada a histórias bastante violentas sobre o mundo dos Yakuza ou comédias simplesmente bizarras, há também uma certa beleza única em alguns dos seus filmes que se afastam do género pelo qual é mais reconhecido (Hana Bi e Kikujiro continuam a ser dos meus filmes favoritos de Kitano). Sendo este um dos filmes que me faltava ver da sua obra, fiquei bastante satisfeito ao descobrir outra obra especial de Takeshi Kitano.

Comparando com a restante filmografia de Kitano, Ano natsu, ichiban shizukana umi (あの夏、いちばん静かな海) é mais “estranho” (mas de uma forma enternecedora). Focar o enredo de um filme na história de amor entre um casal surdo foi sem dúvida algo inesperado para quem vinha a acompanhar a carreira de Kitano como realizador, sendo este apenas o seu terceiro filme. No entanto, pegando na ideia de um lixeiro surdo que encontra uma prancha de surf e pouco a pouco se vai apaixonando pelo desporto, Kitano monta um filme lindíssimo não só sobre o amor entre pessoas, mas também pelas paixões que guiam a nossa vida.

A relação entre Shigeru (Claude Maki) e Takako (Hiroko Ôshima) é o foco principal da história, com ambos os protagonistas a não dizerem qualquer palavra durante todo o filme. Apesar de não se exprimirem verbalmente, tal não afeta em nada a narrativa, com ambos os personagens a serem bastante expressivos sem o recurso à palavra. As cenas que observamos são simples, acompanhando os protagonistas a fazer compras, a olhar para o mar, a partilhar refeições ou a andar de um lado para o outro, tornando-se realmente enternecedoras pela forma como evidenciam o amor que sentem um pelo outro.

Para além dos protagonistas, há vários personagens secundários cuja narrativa individual se vai misturando com a narrativa principal, como os dois amigos de Shigeru que começam lentamente a ficar fascinados pelo mundo do surf (tornando-se a dupla mais cómica do filme), o dono da loja de material para surf que ganha interesse pelo protagonista ou o grupo de personagens habituais na praia.

Ano natsu, ichiban shizukana umi é um filme que para além de ser belíssimo, pode-se dizer que é bastante relaxante. Raramente há um excesso por parte de qualquer um dos personagens, mesmo nas cenas onde se calhar tal era mais justificado. Há uma tranquilidade que rodeia o ambiente de Ano natsu, ichiban shizukana umi que se torna contagiante, deixando-se o espetador levar pelo ritmo suave e melancólico desta história.

Essa tranquilidade presente no filme acontece também devido à filmografia, que ao optar bastantes vezes por planos-gerais nos faz sentir como se estivéssemos a observar esta história ao longe. A banda sonora, da autoria de Joe Hisaishi, é outro dos grandes destaques do filme, num filme que marca a primeira colaboração entre Kitano e Joe Hisaishi.

Takeshi Kitano não necessita de apresentações, é uma das personalidades mais famosas do Japão e a qualidade dos seus filmes fala por si. Foi, no entanto, curioso, que tantos anos após o primeiro contacto que tive com o seu cinema, ficar novamente maravilhado com uma das suas obras que me tinha escapado ao longo do tempo. Ano natsu, ichiban shizukana umi é sem dúvida recomendado e tornou-se um dos meus favoritos do realizador japonês. É notável como esta obra consegue retratar de uma forma tão simples uma das melhores histórias de amor que já tive a oportunidade de ver em filme.

Escrito por: Nuno Rocha

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