Uzuki Nareno (Takako Matsu) é uma jovem que deixa a rural “Hokkaido” no extremo norte do Japão, para estudar na universidade situada na capital Tóquio. Embora à primeira vista se pudesse pensar que a motivação principal da adolescente fosse a licenciatura, posteriormente nos apercebemos que a escolha da universidade e da cidade não foi inocente, pois Uzuki está apaixonada por um rapaz da sua terra natal, que se encontra precisamente a estudar na faculdade escolhida.
A adaptação à grande cidade não é fácil, atendendo a que Uzuki é extremamente tímida, embora possuidora de uma amabilidade a toda a prova. Chega a ser alvo da chacota dos colegas e assediada por um pervertido numa sala de cinema. Aos poucos a vida começa a melhorar, com Uzuki a fazer os primeiros amigos e inclusive a aderir ao clube de pesca da universidade. E encontra o tal rapaz a trabalhar numa livraria…
O ponto forte de “April Story” (Shigatsu Monogatari na versão original) é sem dúvida a extrema simplicade e honestidade da estória e da representação dos actores.
Não podemos deixar de nos sentir cativados pela inocente Uzuki e o seu esforço em adaptar-se a uma realidade completamente nova, com pessoas que pouco lhe ligam, tudo em nome de um rapaz que mal sabia da sua existência na escola secundária.
O dia-a-dia da jovem é preenchido pelas coisas banais que todos os estudantes universitários fazem, com a grande excepção que Uzuki não tem muitos amigos e passa o dia a rondar a livraria onde o rapaz trabalha.
A ida ao cinema em que é assediada por um maníaco qualquer e a ignorância a que é votada pela vizinha da porta da frente, igualmente não contribuem para um início feliz da vida da rapariga em Tóquio. Os seus passeios de bicicleta acabam por ser um escape para esta difícil fase inicial.
No meu caso pessoal não pude deixar de sentir uma especial empatia com a situação de Uzuki, pois eu também por motivos académicos tive que deixar o conforto da minha terra natal, a cidade do Funchal na ilha da Madeira, e deslocar-me para um meio diferente e maior, a capital do país Lisboa. E deparei-me com as dificuldades inerentes à situação, embora rapidamente tivesse conseguido ambientar-me e achar sinceramente que foram os melhores seis anos da minha vida, mesmo com os normais “altos e baixos”!
Voltando de novo à análise do filme, a rapariga aos poucos começa a integrar-se, muito devido a uma colega que de início gozava-a e posteriormente começa a criar uma certa empatia com Uzuki. A entrada para o clube de pesca e a crescente confiança que começa a adquirir com a vizinha, contribuem decisivamente para que Uzuki se sinta melhor com a sua nova vida.
Como aqui já foi veiculado, a honestidade com que a estória de Uzuki nos é apresentada constitui o “must” do filme, e embora isto possa soar a contraditório, a simplicidade do enredo faz com que “April Story” acave por ser uma película pouco comum. Não esteja o caro leitor à espera dos costumeiros e intrincados enredos, com bandas-sonoras de puxar lágrima ao olho. Nada disso! Iwai quis contar uma estória simples e com pessoas que todos nós podemos fazer analogias com outras que fazem parte do nosso quotidiano.
E assim como a sempre presente simplicidade é o ponto forte desta película, acaba por outro lado por consubstanciar-se na sua principal fragilidade. O filme é curto demais, com apenas 67 minutos, foca-se única e exclusivamente em “Uzuki”, não desenvolvendo em concreto nenhuma das outras personagens. Talvez seja o meu próprio gosto por filmes mais elaborados que faça com que eu não aprecie tanto “April Story” como gostaria.
De qualquer forma é um filme que se aconselha o visionamento.
Autor: Jorge Soares in My Asian Movies (http://shinobi-myasianmovies.blogspot.com/)