Kinji Fukasaku detinha um forte protagonismo dentro da elite do cinema de acção japonês com uma filmografia fortíssima consolidada desde 1961. As portas para o mundo abrem-se, curiosamente, com o seu penúltimo filme, “Battle Royale”, que recebe o apoio de milhares de fãs da cultura japonesa no ocidente, de alguma crítica nipónica e de um nome de peso, Quentin Tarantino, que exprimiu desde sempre o seu gosto pelo filme assim como pela cinematografia de Fukasaku que considera o ter influenciado em muitos dos seus filmes.
A crítica a esse mesmo filme pode ser encontrada neste site embora acredito que o mesmo não necessite de apresentações. Caso não seja o caso aconselho um salto ao artigo em questão e a descoberta de um dos mais poderosos filmes de acção saídos do cinema japonês nos ultimos anos.
Kinji Fukasaku sempre exprimiu o gosto que teve em trabalhar com aquela equipa e em particular com os 40 adolescentes com quem reforçou uma forte amizade. Essa familiaridade com os jovens e o sucesso repentino de «Battle Royale» vão fazer com que o septuagenário volte a pegar nas personagens do livro de Koushun Takami para criar uma nova história e tentar explorar ainda mais o universo bélico-social de «BR».
Tarefa hercúlea e para tal pede a ajuda do argumentista do anterior filme, Kenta Fukasaku, seu filho. Fukasaku, o pai, o morre em Janeiro de 2003, com 73 anos de idade e a meio das rodagens do filme. Para o substituir a produtora chama o filho Kenta e adiciona o propositado sub-título “Requiem” ao filme. Requiem para um realizador colossal, requiem para muitas das personagens…..requiem também para um conceito que em 2000 tinha dado tanto que falar e quem depois se afundou numa pueril e desinteressante sequela.
O final do primeiro filme não deixava, de facto, muita manobra para continuar a repetir o mesmo esquema de reflexão das personagens ligado à crítica social ou política. Mas a decisão de levar a obra para um ataque à luta contra o terrorismo dos norte-americanos não seria talvez a melhor solução para um tema proposto mas é verdade que o mesmo poderia dar material suficiente para uma obra politicamente mais contundente e interessante. Mas o filme tem graves problemas que se manifestam desde que o próprio título aparece.
Três anos depois do último programa BR, Shuya Nananahara junta todos os anteriores sobreviventes numa ilha deserta onde forma um grupo terrorista denominado de «Wild Seven» cujo o objectivo é lutar contra o governo criador do programa. Shuya Nanahara é o homem mais procurado do Japão e considerado um perigoso líder da organização terrorista. Até aqui tudo bem, a premissa revela uma diferente abordagem que se torna apelativa com algumas cenas arriscadas que num misto de ingenuidade política parecem levar a obra a um caminho sinuoso de polémica.
Até que entra o programa. Incapazes de entrar com o seu próprio exército na ilha onde Nanahara e o seu grupo se escondem (porquê incapazes ???) o governo japonês volta a escolher uma turma de estudantes do secundário aleatóriamente para combaterem o mesmo. Desta vez eles não são obrigados a matarem-se uns aos outros mas derrotar Nanahara e terminar o clima de terror que os «Wild Seven» instauraram no governo nacional. Para impedir que os mesmos passem para o lado dos terroristas o famoso colar destruidor é agora distribuído aos pares, ou seja, cada participante está ligado a um outro, os dois colares destroem-se outra vez quando um deles está a tentar escapar, quando um morre ou quando os dois se afastam um do outro a uma certa distância.
Longe da observação dada às personagens no primeiro filme, BR2 é um festival de desinteresse. Uma introdução desorganizada que pretende mostrar quão políticos eles são, quão liberais, quão a favor da liberdade dá lugar a cenas desconexas que não nos ligam a nenhuma personagem. A sala de aula do anterior BR é substituída por uma jaula e Kitano por um actor que sofre de over-acting de tanto se esforçar ser Kitano. Ainda há tempo para tentar repetir o desembarque na Normandia de «O Resgate de Soldado Ryan» até chegarmos à segunda parte do filme onde somos invadidos por teorias anti-conspiração e governamentais.
É certo que o governo japonês reflecte a hipocrisia do governo norte-americano na resolução dos seus problemas sociais enquanto os «Wild Seven» são terroristas em forma de soldados da paz que estão só a querer trazer justiça ao mundo. Tudo isto durante mais de duas horas é cansativo e desncessário, tanto que tudo é suportado por diálogos péssimos, uma total desprezo na estrutura e um over-acting de todos os actores que chega a roçar o rídiculo.
180° separam este segundo filme do primeiro. Tudo o que anterior fez é despedaçado agora sem deixar escrúpulos. A saga chega aoa fim da pior forma embora a conclusão do filme até tenha um ligeiramento “quê” que quase consegue salvar os feitos anteriores mas não larga o desprezo que já temos por estas personagens e suas batalhas.
Autor: Francisco Silva