Certamente já todos vocês conhecem o Dia do Pai, no qual se celebram os pais e o seu papel na educação dos filhos, normalmente associado somente às mães. Em Portugal, o Dia do Pai comemora-se hoje, no dia 19 de Março, e de uma forma geral é um dia onde pais e filhos se juntam para fazer alguma atividade em família.
Mas como será que o dia é comemorado no Japão? Este artigo irá viajar até às origens do Dia do Pai, tratando o pouco do porquê e por quem foi criado, e irá depois mergulhar um pouco na celebração japonesa deste dia.
O Dia do Pai nasce, de certa forma, nos Estados Unidos da América (Grafton, West Virginia), no dia 05 de Julho de 1908 em consequência de um desastre que ocorrera numa mina em Dezembro de 1907, que deixara mais de 250 crianças órfãs de pai. Grace Golden Clayton, inspirada por Anna Jarvis e o seu Dia da Mãe, decide pedir ao pastor da igreja local que celebrasse uma missa dedicada a todos os pais que perderam a vida.
No entanto, a celebração do Dia da Independência (04 Julho) e a morte de uma adolescente de 16 anos, acaba por abafar o evento de Clayton, que não voltaria a ser mencionado por mais dois anos.
A 19 de Junho de 1910 acontece em Spokane (Washington) um evento organizado por Sonora Smart Dodd com o objetivo de celebrar William Jackson Smart, um veterano e pai viúvo de seis filhos. Novamente inspirada por Anna Jarvis, Sonora pensa ser injusto as mães serem celebradas mas as centenas de pais que cuidam dos filhos serem deixados na sombra.
O dia é comemorado até à década de 1920, altura em que Sonora deixa a cidade para estudar no Instituto de Arte de Chicago, regressando na década de 1930, altura em que o Dia do Pai começa a ganhar interesse a nível nacional, especialmente graças ao apoio de fabricantes de gravatas e cachimbos, entre outros produtos para homem.
Em 1972, após uma longa luta, o Dia do Pai é reconhecido pelo Presidente Richard Nixon como um dia especial permanente, celebrado no dia terceiro domingo de Junho. Por todo o mundo o dia foi sendo adotado apesar de não ser celebrado no mesmo dia em todo o lado. Por exemplo, em Portugal é comemorado sempre no dia 19 de Março.
No Japão o dia do Pai comemora-se desde a década de 1950 no terceiro domingo de Junho, (este ano calha no dia 19) e é conhecido como Chichi no hi (“Chichi” é usado quando abordamos o nosso próprio pai, sendo que “Otou-san” é comum quando falamos do pai de outra pessoa, ainda que o possamos usar igualmente para o nosso próprio pai).
Entre os presentes mais comuns para oferecer entre adultos estão: flores; perfumes; garrafas (às vezes personalizadas) de sake, whisky ou vinho; Wagyu (bife de vaca japonesa cujas marcas mais populares são a Kobe, Yonezawa e Matsuzaka); Unagi (uma enguia bastante usada na confeção de unadon/unagidon); ou caixas de chocolate. As crianças, tal como acontece em Portugal, usam os dons para criar presentes mais ‘pessoais’ como garrafas de cerveja feitas à mão, entregues muitas vezes durante o jantar onde é servido um prato de marisco.
Para completar este dia o Club Otaku dá-vos quatro sugestões de filmes sobre a relação entre pais e filhos, desde obras mais clássicas a filmes modernos, nomeadamente, Otona no miru ehon – Umarete wa mita keredo (1932) e Ukigusa (1959) de Yasujiro Ozu, Kikujiro no Natsu (1999) de Takeshi Kitano, e Soshite Chichi ni Naru (2013) de Hirokazu Kore-eda.
Otona no miru ehon – Umarete wa mita keredo (ou em inglês I Was Born, But…) foi o primeiro filme de Yasujiro Ozu a vencer o Prémio dos Críticos no Kinema Junpo, prémio que lhe seria atribuído mais cinco vezes.
A obra, que ainda faz parte do período do mudo, segue dois irmãos que se mudam com a família para um subúrbio de Tokyo. Lá eles fazem alguns amigos, e alguns inimigos. Entre eles está Taro, o filho do patrão do seu pai, que lhes mostra uns vídeos caseiros onde o pai aparece a fazer palhaçadas para entreter os colegas de trabalho.
Revoltados com o facto de o seu pai ser um “cobarde”, os irmãos confrontam o pai e fazem uma greve de fome até ele enfrentar os seus colegas. Contudo, depressa os jovens se apercebem que o seu pai na realidade é muito mais do que aparenta ser.
O segundo filme desta lista é igualmente de Yasujiro Ozu e trata-se de Ukigusa (Floating Weeds), uma obra que segue Komajuro, um actor de kabuki que visita a sua antiga amante, com a qual tem um filho, Kiyoshi. O rapaz não sabe quem é o seu pai e quando a verdade é revelada, Kiyoshi não reage da melhor forma. Como curiosidade, Ukigusa é um remake de Ukikusa Monogatari (A Story of Floating Weeds) de 1934.
[Review ClubOtaku] Apesar de não serem pai e filho biológicos, Kikujiro no Natsu de Takeshi Kitano foca-se na relação entre Masao e Kikujiro. Masao é um jovem que um dia descobre que a sua mãe, que nunca conheceu, vive em Toyohashi. No caminho ele encontra uma vizinha que obriga o marido, Kikujiro, a acompanhar o rapaz.
A sua jornada não começa da melhor maneira mas com o tempo Kikujiro começa a preocupar-se com Masao. Os dois conhecem várias pessoas, metem-se em vários sarilhos, e depressa a sua relação de quase estranhos torna-se numa verdadeira aventura entre pai e filho.
[Review ClubOtaku] Vencedor do Prémio do Júri durante o Festival de Cannes de 2013, Sochite Chichi ni Naru (Like Father, Like Son, ou em português Tal Pai, Tal Filho) de Hirokazu Kore-eda mergulha os personagens num dilema parental. Ryota é um arquiteto conceituado, pai de Keita. Um dia a maternidade onde Keita nasceu contacta-o explicando que houvera um erro e que o seu filho fora trocado. Para além do choque, Ryota vive agora num dilema. Qual é realmente o seu filho? A criança que educara e com quem partilha uma vida, gostos e ensinamentos, ou uma criança que, apesar de ser sua biologicamente, desconhece e pela qual não tem nenhum sentimento em especial.
Escrito por: Ângela Costa