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Gojoe

Japão, século XII, era Heian. Após uma longa guerra pelo poder, o clã Heike consegue derrotar os rivais Genji, mas os seus problemas não findaram. Numa ponte perto de Quioto, conhecida como Gojoe, vários soldados dos Heike são mortos continuamente por uma força que é tida como sobrenatural.

“Mushashimo Benkei” (Daisuke Ryu), anteriormente um temível guerreiro e agora um monge budista, tem uma visão que o incumbe de pôr termo a um demónio que representa um grande perigo para a paz no Japão. Ouvindo falar dos acontecimentos que se passam em Gojoe, decide que o mal a combater se encontra naquele local.

Chegado a Gojoe, “Benkei” faz amizade com “Tetsukichi” (Masatoshi Nagase), um antigo armeiro que desistiu da profissão, preferindo agora recolher as armas dos guerreiros caídos em batalha. Posteriormente, o duo acaba por descobrir que o demónio de Gojoe é afinal humano, tratando-se do principe “Shanao” (Tadanobu Asano), o herdeiro do clã derrotado dos Genji e um fabuloso espadachim.

Os mais atentos ao conteúdo deste espaço sabem muito bem que gosto bastante de um “chambara”. O mesmo poderia dizer por exemplo do “wuxia”. Isto não quer dizer que não existam outros tipos de filmes asiáticos que toquem o meu ser, e me façam sonhar. E o cinema oriental, graças a Deus é tão vasto e criativo, que nos possibilita um sem número de escolhas, muitas delas com sobeja qualidade. Contudo, no que toca à minha pessoa, não há nada que me anime mais (cinematograficamente falando) que um “swordplay” de elevado gabarito técnico e emocional.

“Gojoe” é baseado numa popular lenda japonesa, com algum fundamento histórico, no sentido de as personagens que a compõem terem realmente existido. A parte mitológica resume-se mais ou menos a isto: O brilhante general “Yoshitsune Minamoto” e o intrépido monge “Benkei” encontram-se para combater na ponte de “Gojoe”, à saída de Quioto. “Benkei” é derrotado, e impressionado com a superior técnica do seu jovem oponente, decide tornar-se seu discípulo e segui-lo fielmente. Impregnado de simbolismo, a estória visa elevar a coragem do jovem herói “Yoshitsune” que supera o seu mais forte adversário, ao mesmo tempo que ganha a sua estima e devoção.

images/cinema/gojoe/gojoe_1_b.jpg|images/cinema/gojoe/gojoe_1.jpgimages/cinema/gojoe/gojoe_2_b.jpg|images/cinema/gojoe/gojoe_2.jpgimages/cinema/gojoe/gojoe_3_b.jpg|images/cinema/gojoe/gojoe_3.jpg

“Gojoe” apesar de se ter baseado na lenda muito sumariamente supra exposta, reinventa completamente a estória, conforme podem se aperceber na sinopse. “Shanao” é uma eficaz máquina de matar (“Yoshitsune” foi o nome que posteriormente o principe “Shanao” adoptaria), que pensa apenas em obter vingança pela derrota do seu clã, sendo “Benkei” o único que o pode parar. Não avanço mais, sob pena de desvendar partes importantes do enredo, mas sempre se poderá afirmar que nenhum tipo de amizade os adversários irão nutrir um pelo outro, nem tão pouco “Benkei” irá se tornar discípulo de “Shanao”.

Embora se possa identificar a crueza, crueldade e algum “gore” nos combates desfilados no filme, aspectos tão característicos do género, sempre se poderá dizer que as lutas são um tanto ou quanto confusas e mesmo caóticas, o que muito ajuda os movimentos psicadélicos da câmara de Ishii. Não estamos perante o típico focar estático dos oponentes, em que através de momentos súbitos dos combatentes, tudo acaba em segundos. A banda-sonora pouco convencional, feita de ritmos “techno” e com alguns “riffs” de guitarra, em muito ajuda a aura hipnótica posta no digladiar. Embora seja de reconhecer algum mérito, e até anuir perante um ou outro momento excitante, tenho de confessar que este tipo de técnica não colheu muito o meu agrado.

A interpretação dos actores é demente, porque as personagens são dementes. Ishii quer fazer um “chambara” pouco convencional, logo os actores terão invariavelmente que se comportar como uma cambada de loucos. “Shanao” parece um demónio num corpo de um homem, que chega ao cúmulo de votar ódio ao budismo e acreditar em duas únicas divindades: o poder e a vingança; “Benkei”, pelo contrário, deixa para trás uma vida de crime e morte, para se tornar num homem santo. No entanto, vê-se forçado a conjurar o que de pior existe em si para pôr cobro à maldade de “Shanao”. O melhor que “Gojoe” possui são as boas interpretações do seu “cast”, composto por nomes sonantes do cinema japonês, tais como Tadanobu Asano, Daisuke Ryu ou Masatoshi Nagase.

“Gojoe” é sem dúvida um “chambara”, embora com características pouco convencionais e demasiado experimentalista. Isto faz com que a película não seja muito do meu agrado. Não sou obrigado a gostar de tudo o que represente inovação, essa é que é a verdade. Aviso, porém, que esta opinião menos favorável do filme é minoritária perante a crítica especializada, da qual eu não faço parte. Sou apenas um fã de cinema asiático, que gosta de partilhar um par de ideias com todos vós, sem excepção.

Por isso pesquisem, leiam os textos que empolam “Gojoe” como um dos produtos mais excitantes do cinema japonês pós-ano 2000, vejam o filme e critiquem-me à força toda posteriormente por ter “vistas curtas”. Quanto a mim, prefiro deparar-me a título meramente exemplificativo, com um suave Yôji Yamada ou um épico Kurosawa. Estas modernices é que não…

Autor:Jorge Soares (http://shinobi-myasianmovies.blogspot.com/)

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