Takashi Miike tem uma carreira bastante prolífica. Contando já com mais de 100 filmes realizados, nem todos são propriamente pérolas cinematográficas, variando a qualidade dos filmes do realizador japonês bastante. Felizmente, Hatsukoi é um dos bons.
Leo (Masataka Kubota) é um jovem bóxer que após perder o seu primeiro combate por K.O. decide ir ao médico para descobrir porque perdeu os sentidos. Infelizmente, Leo é informado que tal se deve a um tumor terminal que tem no cérebro. Abalado por esta informação, Leo começa a vaguear pelas ruas de Tóquio até dar de caras com uma rapariga, Monica (Sakurako Konishi), a ser perseguida. Após atacar automaticamente a pessoa que a persegue, Leo descobre que Monica é uma jovem prostituta com problemas de toxicodependência que tem constantemente alucinações. Leo promete-lhe então que a leva a casa para a ajudar a controlar os ataques psicóticos que tem, uma decisão que acaba por marcar a noite de ambos.
Apesar de serem os protagonistas do filme, Leo e Monica acabam por não ter um tempo de ecrã tão longo como seria de esperar, devido ao filme focar-se bastante na luta entre duas facções da máfia local e os vários membros dentro destas organizações que tentam retirar algum proveito desta rixa.
Um dos pontos fortes do filme é o seu grande leque de personagens surreais, onde se destacam uma assassina de topo japonesa, um poderoso líder dos yakuza que é um exército de um homem só, um líder da máfia chinesa que apenas com um braço é mais letal que a maior parte dos seus adversários, um polícia corrupto na pior noite da sua vida, um jovem yakuza que encontra um sem-número de contratempos no seu plano e a namorada de um traficante de droga que jura vingança após a morte do seu amor.
Hatsukoi encontra os seus pontos altos de comédia no absurdo, pois os personagens são colocados constantemente em situações indesejadas que acabam inevitavelmente num desfecho hilariantemente violento. Miike é um mestre da violência, e num filme que é até bastante mais suave comparado algumas das suas outras obras, continuam a estar presentes bastantes cenas em que a violência demonstrada no ecrã se emparelha perfeitamente com os propósitos cómicos do realizador, onde podemos contar com mortes comicamente sádicas, muitos litros de sangue e bastantes membros a voar pelo ecrã.
Numa obra que não parece ter tido um grande orçamento, devido a algumas das opções tomadas durante o filme, Miike retira o máximo dos cenários e personagens que tem à sua disposição. Consegue neste filme criar um pequeno universo que dá vontade ao espectador de saber mais sobre a origem dos personagens, dando a quase todos o seu momento de protagonismo, seja de forma tragicamente cómica ou através das tresloucadas cenas de acção em que estes aparecem.
Para acompanhar o ritmo do filme, que se vai tornando mais frenético à medida que o enredo avança, Hatsukoi conta com uma excelente banda sonora da autoria de Kôji Endô, cujas músicas “jazz”/“rock” se adequam perfeitamente ao ambiente criado pelo realizador, especialmente na parte do clímax do filme em que a conjugação visual-sonora é sublime.
Hatsukoi é um filme cativante e uma prova que Miike ainda tem muito para dar ao mundo do cinema. Este filme mostra principalmente a vitalidade do veterano realizador japonês, que continua a não ter medo de arriscar nas suas obras, procurando sempre uma nova forma de surpreender a audiência, tendo em Hatsukoi uma aposta ganha.
Escrito por: Nuno Rocha