Os desportos de combate são bastante populares no Japão, contando o país do sol nascente com um número razoável de atletas de destaque nesse meio. Fugindo das luzes da ribalta, este Hyakuen no koi (百円の恋), filme realizado por Masaharu Taketendo em 2014, conta com uma abordagem diferente ao mundo do boxe.
Ichiko Saito (Sakura Ando) é uma mulher de trinta e dois anos que pouco alcançou em termos pessoais na vida. Vivendo com os pais, que gerem um pequeno negócio de venda de comida, Ichiko passa os dias a fumar, comer e jogar consola. Entrando em conflitos constantes com a sua irmã Fumiko (Saori Koide), que se divorciou recentemente e voltou a mudar-se para casa dos pais, Ichiko decide sair de casa após se envolver num confronto físico com a irmã.
Arranjando trabalho em part-time numa loja de conveniência perto do seu novo apartamento, Ichiko começa a ficar atraída por Yuji Kano (Hirofumi Arai), um praticante de boxe que vê todos os dias num ginásio a caminho de sua casa. Yuji visita frequentemente a loja onde Ichiko trabalha para comprar bananas, o que se virá a tornar numa das motivações para a protagonista do filme praticar boxe.
Hyakuen no Koi não é uma história de amor, embora o amor faça parte desta história. É mais uma comédia negra com grande foco na sua protagonista, destacando as motivações que a levam a querer tornar-se uma atleta de boxe de competição e os obstáculos que tem de ultrapassar para lá chegar. Ichiko não deseja tornar-se campeã mundial, nem tão pouco uma referência nacional do desporto, quer apenas provar a si própria que, apesar da sua idade, ainda tem capacidade para atingir algum nível de sucesso.
Os personagens deste pequeno bairro são, tal como a protagonista, um pouco bizarros. Os colegas de trabalho da protagonista são na sua maior parte detestáveis e as pessoas com que ela vai travando conhecimento ao longo do filme não são propriamente um poço de virtudes.
Sakura Ando faz um trabalho magnífico como actriz principal do filme, sendo o seu personagem alvo de uma transformação física e psicológica notável. Ichiko começa por ser uma pessoa sem qualquer carisma e pouco agradável, mas à medida que vamos acompanhando a sua dura jornada (não só a nível físico, como também psicológico), acaba por se tornar um personagem memorável. O trabalho de representação de Sakura Ando neste filme permitiu-lhe arrecadar o prémio de melhor actriz nos Kinema Junpo, Blue Ribbon e Japan Film Critics Awards.
Apesar de ser uma comédia, Hyakuen no Koi é um filme bastante duro, havendo algumas partes constrangedoras que criam bastante desconforto ao espectador. É um filme que avança propositadamente de forma lenta e com poucos diálogos, com o objectivo de criar uma maior intimidade com a protagonista que aparece praticamente em todas as cenas.
A abordagem diferente que faz ao mundo do boxe vale só de si a visualização do filme, mas essa não é a única razão pelo qual é recomendável. Mesmo para os que não são adeptos dos desportos de combate, Hyakuen no Koi é interessante por ser uma história de superação daqueles que partem dos locais mais invulgares. A protagonista não procura a glória dentro do mundo do boxe, é apenas algo que decide fazer e que serve como uma forma de escape para conseguir lidar com os seus problemas pessoais.
Contando com uma banda sonora de qualidade e um trabalho de interpretação notável da sua protagonista, Hyakuen no Koi é um filme que vale a pena ver. Este filme realizado por Masaharu Taketendo foi a obra escolhida para representar o Japão nos candidatos ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2016.
Escrito por: Nuno Rocha