Tendo jogado recentemente o excelente Yakuza 0, fiquei motivado para consumir mais conteúdo relacionado com o mundo dos yakuza. Acabei por encontrar este Korō no Chi (孤狼の血), um filme de 2018 realizado por Kazuya Shiraishi que se foca numa rivalidade entre gangues yakuza em Tóquio no final dos anos oitenta.
Korō no Chi tem como protagonistas Shōgo Ōgami (Kōji Yakusho), um detective veterano, e Shūichi Hioka (Tori Matsuzaka), um jovem polícia destacado para a divisão de Ōgami que se tenta adaptar aos estranhos métodos do seu novo parceiro. Ōgami é o típico polícia que não gosta de seguir as regras, abusando da violência e cultivando alguma intimidade com os criminosos locais de forma a ter uma relação privilegiada com estes. Hioka, por outro lado, abomina a forma de trabalhar de Ōgami e chama-o à atenção, sem grande sucesso, sempre que o vê a ultrapassar a linha. Após um recente homicídio que envolve a yakuza, a relação entre ambos vai evoluindo à medida que a resolução do caso vai avançando.
Um dos principais atractivos de Korō no Chi é a forma como a história é abordada. Ao contrário de muitos dos filmes sobre crime que têm um ambiente exageradamente sombrio, Korō no Chi é bastante influenciado pelos filmes de yakuza dos anos 70, especialmente pelos filmes de Kinji Fukasaku, optando por uma abordagem mais estilizada à história, com os yakuza do filme a serem retratados de forma bastante similar não só aos dos filmes de Fukasaku, mas também as personagens da saga de videojogos Yakuza.
O exagero na reação dos personagens, as cores vibrantes nas cenas mais intensas e a conjugação entre um excesso de violência e comédia negra tornam este filme numa excelente homenagem aos grandes filmes de yakuza da década de setenta. No entanto, Korō no Chi segue o seu próprio caminho e assume-se como uma obra que tem valor por ela própria e não só como um objecto de nostalgia.
Kōji Yakusho merece o maior destaque no meio do excelente elenco que compõe o filme, com o seu personagem de lobo solitário da polícia a ser bastante carismático. Embora seja um personagem violento, o “lobo” Ōgami tem bastantes momentos hilariantes ao longo do filme, especialmente quando tenta “ensinar” o seu jovem parceiro.
Embora não seja propriamente uma comédia, Korō no Chi conjuga bem vários géneros para fazer evoluir a história. O filme consegue criar um interessante novo universo, especialmente devido ao largo elenco que tem e a exploração que faz do mundo da corrupção no Japão. O enredo não é propriamente previsível, contando o filme com um bom número de reviravoltas que o tornam num dos melhores filmes mais recentes dentro do género.
Desconhecendo até ao momento de visualização deste filme o trabalho de Kazuya Shiraishi, sem dúvida que após ver Korō no Chi o interesse no trabalho deste realizador aumentou bastante. Com o primeiro filme desta saga a ter-se revelado um sucesso, tenho agora bastante curiosidade para saber a forma como a sequela, anunciada para este ano, vai abordar a continuação da história.
Escrito por: Nuno Rocha