Kubo And the Two Strings (Kubo e as Duas Cordas) é o mais recente filme de Travis Knight, que conta com a participação de grandes nomes de Hollywood como Art Parkinson, Charlize Theron, Matthew McConaughey, Ralph Fiennes, Rooney Mara, George Takei, e Cary-Hiroyuki Tagawa. Apesar de não ser uma produção japonesa, Kubo inspira-se profundamente na cultura e folclore japonesas e chinesas, algo visível pelo vestuário, pelas construções, pela música, entre outros elementos, razão pela qual decidimos partilhar com vocês esta review.
A obra de Travis Knight segue um rapaz, Kubo, que vive numa pequena aldeia onde divide o tempo entre cuidar da sua mãe e criar pequenas narrativas, inspiradas na história do seu pai, com ajuda do seu Shamisen mágico e papel de origami. Quando o pôr-do-sol chega, Kubo regressa a casa onde passa alguns momentos com a mãe, que o avisa repetidamente que não deve sair durante a noite ou as suas tias acabarão por encontrá-los.
A vida pacífica do protagonista muda radicalmente, no entanto, durante as celebrações do Festival dos Espíritos que lembra o Zhong Yuan Jie ou Yu Lan Jie, um evento budista no qual se acredita que os mortos visitam os vivos. No final das comemorações, à noite, lanternas de papel são colocadas no rio para guiar os espíritos de volta ao “Paraíso”. Nunca tendo conhecido o seu pai, Kubo decide tentar comunicar com ele através da lanterna mas em vão (e por uma boa razão). Este pequeno mas compreensível deslize acaba, contudo, por levá-lo a ser encontrado pelas duas tias, e a sua aventura começa.
Com a ajuda da Macaca e do Besouro, Kubo procura pela única armadura capaz de derrotar o seu avô, o Rei Lua (um ser mágico cego à beleza dos mortais), que consiste na Espada Inquebrável, na Couraça Impenetrável, e no Capacete Invulnerável.
A banda sonora e a fotografia chamam bastante a atenção. A banda sonora é composta por musicas orquestrais como é habitual das produções americanas mas possui igualmente várias músicas criadas através do Shamisen (instrumento musical tradicional japonês). A fotografia vai-se transformando consoante a história, sendo colorida e clara (utilizando o amarelo, o vermelho e o laranja) no início do filme e tornando-se mais sombria e fria (em tons de azul, branco e preto) com o seu fim, altura em que mistura cores quentes e frias (Kubo consegue derrotar o vilão e apesar de muito ter sido perdido, existe tristeza mas também felicidade e esperança).
Em termos estéticos Kubo e as Duas Cordas diferencia-se imediatamente da maioria das obras de animação atuais pelo uso de stop motion, em vez do CGI a que estamos mais do que habituados. Os bonecos e ambientes possuem uma estética agradável, bem construída e única que não passa despercebido quer para os adultos quer para os mais novos – mais um excelente trabalho da LAIKA.
Por falar nos mais novos, a obra possui uma narrativa talvez não aconselhável a crianças mais pequenas devido à enorme carga dramática (ver a morte dos pais, realização de que Kubo terá de enfrentar o mundo sozinho) e à forma “assombrosa” com que são caracterizados os vilões, especialmente as tias (um tom sombrio, frio, e calculista).
Curiosamente, a mensagem final do filme é ela também muito oriental e pacífica. Apesar de todo o mal que o Rei Lua infringe no neto (matar os seus pais, roubar o seu olho tentando ainda cegá-lo para sempre, para que viva consigo na escuridão), é lhe concedida uma oportunidade de redenção não apenas por Kubo mas também por toda a aldeia, ainda que destruída por ele.
Kubo e as Duas Cordas é uma obra que consegue na perfeição conjugar drama, comédia e acção, e vale a pena ser visto por toda a família. Em Portugal o filme ainda se encontra em exibição (a dobragem portuguesa está bastante boa, ainda que Besouro ter sido traduzido para Barata e claro de algumas piadas se terem perdido), por isso, não percam!
Escrito por: Ângela Costa