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Mogari no Mori

É durante a época dourada do cinema underground japonês que nasce realizadora Naomi Kawase na histórica cidade de Nara. Esta atmosfera cultural, e o facto de ter sido criada pelos seus avós depois de ter sido abandonada pelos seus pais ainda em criança, marcaram o estilo cinematográfico de Kawase que se identifica pela ausência e a procura.

O cinema de Kawase é uma exploração aberta em busca do sublime, que oferece a realidade. Não com este filme, claro, este é sobre a morte e a vida. O filme começa com algumas árvores serem acariciadas pelo vento. O vento como fio condutor, como carícia protectora, como alimento.

Mogari no Mori (traduzido para português por “Floresta dos Lamentos”), conta a história de Shigeki (brilhantemente interpretado por Shigeki Uda) que há 30 anos sofre a morte da esposa e que desde essa data está internado numa pequena casa de repouso com outros residentes. Machiko (papel interpretado por Machiko Ono), uma das empregadas da residência, presta uma atenção especial a Shigeki.

Ninguém naquela casa sabe, mas Machiko está secretamente abalada pela súbita morte do seu filho. Depois de celebrarem mais um aniversário de Shigeki, Machiko decide levá-lo a passear pelo campo. Conduzem pelas pitorescas estradas secundárias até o carro ter despistado numa vala. Sem solução, decidem fazer uma caminhada de reconhecimento pelas redondezas.

Mogari no Mori, é uma história mais depurada que as anteriores e de certa maneira mais radical, de forma que Kawase expõe directamente os fantasmas que a assombram: o envelhecimento, a maternidade, perda e renovação da vida, ou a relação geracional. Também foi mais cuidadosa na construção dos personagens, nos diálogos, nas sequências e na sua relação com esse elemento que se converte num personagem importantíssimo: a Natureza. Kawase, filma-a como nunca a tinha filmado: o vento, as folhas, as árvores, a luz do sol, as montanhas, o rio, a chuva. Neste filme a Natureza envolve claramente os personagens, protegendo-os, abraçando-os, velando por eles.

A dor em comum permite um contacto não verbal entre os personagens, um entendimento e consentimento mútuo que os conduz a um caminho de revisitação e elaboração de um passado que insiste em se apresentar como fantasma, impossibilitando o presente e futuro.

O filme fala-nos do sentimento de Mogari como um sentimento de perda, de tristeza absoluta, de um luto por que as pessoas passam quando perdem alguém e todo o processo que contempla até a hora de liberar e aceitação da perda.

Um ponto também interessante, é o aspecto budista do filme, em que se pergunta mais uma vez “Se estamos vivos? E porque estamos?”… cada um tem as suas respostas, mas em Mogari no Mori vemos como alguém se sente vivo e morto alternadamente e apesar da pena interior a natureza se encarrega de nos mostrar a beleza e a grandeza à nossa volta, enquanto estamos a sofrer, a sentir, a crescer ou a suspirar…

Em resumo, Mogari no Mori é um filme contemplativo e poético, de grande beleza visual e significado simbólico poderoso. Um filme com pouquíssimos diálogos para ver com calma e apreciar os pequenos momentos. Nunca a máxima de Gottfried Leibniz, “Less is More” fez tanto sentido.
Uma boa opção, sem dúvida. Recomendo!!!

Escrito por: Manuel Alves

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