A literatura japonesa é conhecida por abranger imensas áreas sendo o terror das mais influentes. Arrisco mesmo a dizer que o terror está para a literatura e cinema japonês como a ficção científica está para os países anglófonos. No pico do ressurgimento literário do terror no Japão, Koji Suzuki escrevia uma série de três livros que contavam a história de uma maldição: Ring, Spiral e Loop; seguiu-se o sucesso do público e da crítica e, consequentemente, o desejo de adaptar os livros ao cinema.
Para tal foram só escolhidos dois livros: Ring ficaria a cabo de Hideo Nakata, Rasen de Joji Iida. O que nos interessa, os filmes de Nakata, foram os únicos a ter sucesso fora do Japão, melhor, a ter culto fora do Japão.
A premissa é simples, no meio da sociedade juvenil onde os rumores se propagam a grande velocidade, um em especial ganha a atenção de muita gente: uma cassete de vídeo anda a circular pela cidade, quem a vê recebe um telefonema a dizer que dentro de uma semana vai morrer….uma semana depois a pessoa morre mas sempre com uma cara de pânico e terror.
Uma jornalista chamada Reiko (Nanako Matsushima que é mais conhecida por ter feito a voz de Azusa Fuyutsuki em GTO) investiga o caso depois de uma sobrinha ter morrido dessa maneira. O resto do filme envolve-se no círculo de acontecimentos que só acabam perto do final do segundo capítulo (Ringu 2 que saiu um ano depois e que se trata de uma sequela do primeiro filme e não da história do livro original).
Tudo leva a Sadako, uma rapariga misteriosa com grandes cabelos compridos que tapam a sua face, sem unhas e com poderes inexplicáveis. Terror puro e invisível como nunca se viu.
É, de facto, complicado explicar o terror deste filme, ou melhor, não é qualquer um que vai ter medo; o que não se vê assusta pouca gente e só alguns irão tremer quando a certa altura a mãe se vê na pior das situações: proteger o seu filho. Mas servirá só isso para agradar ou meter medo? Não, psicologicamente Ring é fortíssimo, não admira.
Deixar o medo provir dos sentimentos das personagens é algo muito arriscado que Nakata consegue concretizar com uma realização simples e eficaz, nada arrogante e sempre pronta a surpreender, ou não seria este o filme que já deu uma prequela (Ring 0: birthday), uma série de televisão (Ringu: saishuu-shô), um remake coreano (Ring Vírus), um remake americano realizado por Gore Verbinsky (realizador de Piratas da Caraíbas: A Maldição do Pérola Negra) com Naomi Watts e que já teve uma sequela (realizada por Hideo Nakata).
Ring é sem dúvida um título a reter, pode-se dizer (com arrogância) que não se tem medo, pode-se admitir que assustou de facto mas de qualquer modo é necessário constatar que, mesmo quem não treme com a presença de Sadako fica sempre envolvido no belo plot e na interessante psicologia. Seria obrigatória descobrir antes de ver a versão americana mas a publicidade da DreamWorks deu os seus frutos por todo o mundo.
Quem não tiver problemas com o francês que arranje as edições francófonas em DVD (incluíndo uma caixa com os 3 filmes japoneses, em forma de…cassete de video); quem não puder que compre as pobres edições inglesas (Tartan e seus péssimos DVDs). A New Age fez ainda uma edição portuguesa do primeiro filme (com uma capa que ofende os fãs) mas que desconheço a qualidade.
Sadako still lives in our hearts.
Autor: Francisco Silva