São imensas as histórias que têm como inspiração o clássico romance de William Shakspeare, Romeu e Julieta. Shinju ten no Amishima (Double Suicide, em inglês) de Masahiro Shinoda conta como dois amantes só se podem unir na morte. O filme é a adaptação da famosa peça de teatro de marionetas (bunraku) escrita em 1720 por Monzaemon Chikamatsu.
O filme começa com uma preparação de um espectáculo de marionetas. Vêem-se os marionetistas (kurago) encapuçados e vestidos de preto preparando-se para o início da representação. Na cena seguinte as marionetas são substituídas por actores de carne e osso (à semelhança da cena inicial de Dolls, de Takeshi Kitano) e começa o drama, no entanto, os marionetistas permanecem em cena alterando o cenário, movendo os adereços ou dirigindo a acção.
No filme, Jihei (Kichiemon Nakamura) é um mercador de papel que está casado com Osan (Shima Iwashita) e têm dois filhos pequenos. Apesar de amar a sua mulher, Jihei mantém uma relação secreta com Koharu (também interpretada por Shiima Iwashita), uma cortesã.
Apesar do forte elemento erótico no seu amor, a ligação entre os dois não é inteiramente física, é sim uma força de que não se conseguem livrar ou superar, apesar de Jihei saber que estes seus sentimentos e acções causariam a desintegração da sua família.
Double Suicíde é definitivamente uma experiência de rara beleza onde assistimos a uma mistura única entre o teatro e o cinema. A história manipula magistralmente o espectador no desvio da atenção e na simpatia entre os vários personagens. Uma vez que o espectador aceita os elementos do teatro na história, a presença constante do Kuroko, o “mise-en-scène” encenado, e a narrativa adicional, o filme flui sem esforço e sem piedade para a ruína dos amantes.
A banda sonora composta pelo brilhante compositor Takemitsu Toru é eficaz e equilibra perfeitamente as várias cenas do filme. Refiro que todas as músicas são tocadas com instrumentos tradicionais japoneses o que confere ao filme um ambiente mais “real”.
Para quem gosta de clássicos do cinema japonês este Shinju ten no Amishima realizado em 1962 a preto e branco é um filme obrigatório que merece ser visionado, não só pelo beleza das imagens como também por esta mistura do cinema com o teatro de marionetas tão enraizado na cultura tradicional japonesa.
Autor: Fernando Ferreira