“Mina Saeki” (Yumiko Shaku) é uma jovem que se encontra radiante por ir casar com o amor da sua vida, o detective “Kanzaki Kohei” (Shosuke Tanihara). Este anda na peugada de um assassino em série, que tem por hábito arrancar o coração das suas vítimas, sendo as mesmas raparigas bonitas na flor da idade.
No dia do enlace, a tragédia acontece, pois “Mina” torna-se na quarta vítima do misterioso homicida, e acaba por falecer em plena cerimónia, nos braços de um desamparado “Kanzaki”. “Mina” enceta uma viagem pós-morte, onde acaba por se deparar perante o “portal da fúria” e encontra a actual guardiã “Izuko” (Eihi Shiina), que lhe propõe três escolhas: a 1ª passa por aceitar a sua morte e entrar no paraíso; a 2ª reconduz-se a vaguear pelo mundo como um fantasma; finalmente a 3ª consiste em assombrar o assassino, com a particularidade de posteriormente ir bater ao inferno.
Apesar de lhe ser facultado doze dias para decidir, a escolha parece ser óbvia. Contudo, “Mina” descobre através de “Izuko” que aqueles que matam, mesmo que justificadamente, têm o inferno como destino, sem qualquer capacidade de escolha por outra opção. A preocupação aumenta, quando “Mina”, como fantasma, descobre que o noivo “Kanzaki”, está decidido a encontrar o assassino e fazer justiça pelas próprias mãos.
“Mina” acaba por descobrir que os seus assassinos foram “Tatsuya Kudo” (Takao Osawa), um “playboy” milionário, e a sua secretária, a temível espadachim “Rei Miwa” (Kanae Uotani). A razão porque “Kudo” assassina jovens raparigas, deve-se à realização de um ritual satânico, que visa convocar demónios, de forma a que estes reavivem a sua esposa que está entre a vida e a morte. A particularidade é que as mulheres mortas por “Kudo” são reencarnações de antigas guardiãs do “portal da fúria”. Caberá a “Mina” impedir que “Kudo” leve a cabo os seus propósitos, e ao mesmo tempo impedir que o noivo “Kanzaki” condene-se ao tormento eterno.
Quando se fala do realizador Ryuhei Kitamura, temos rapidamente que chegar a algumas conclusões. O homem é um eterno adolescente!!! Calma, não estou a depreciar o pobre do Kitamura, pois não o conheço de lado nenhum (embora não me importasse de trocar duas ideias com ele acerca de cinema), a não ser dos filmes claro! O facto de eu atribuir um carácter marcadamente juvenil ao realizador japonês funcionará aqui mais como um elogio sincero. Passo a explicar.
Pessoalmente e à primeira vista, não me lembro de um realizador tão “cool” como Kitamura. As películas dele detêm aquele cunho, muitas vezes superficial, mas que nos regala a vista e eleva a emoção, fazendo-nos passar um bocado bem interessante.
Em 1º lugar, o gosto pelas elaboradas “katanas”. Kitamura adora espadachins emblemáticos, portadores das distintivas lâminas, nos seus filmes. Não interessa que a época da película em questão seja a do Japão feudal, à semelhança de “Azumi”, ou num futuro indeterminado, com laivos de horror, como “Versus”. No primeiro caso que mencionei tínhamos a ingénua, mas mortal “Azumi”, interpretada pelo ídolo japonês Aya Ueto. No segundo, o prisioneiro “KSC2-303”, a quem o quase irrepreensível Tak Sakaguchi deu corpo. Um filme de Kitamura, sem uma “katana” de beleza deslumbrante, gravada com caracteres bem gravados, e um(a) portador à altura, simplesmente não faz o género do realizador. Ele gosta é de impressionar!
Em 2º lugar, a pose e a caracterização das personagens. Quem vê os filmes de Kitamura, tem que estar preparado para encontrar figuras inesquecíveis, caracterizadas de uma forma normalmente espectacular. Tudo mais uma vez para o regalo da vista. Não se esteja à espera de representações de antologia. A aposta parece ser feita em função do que vai parecer, em detrimento do que vai ser interiorizado.
Kitamura é um miúdo (mais uma vez, repito a ideia), apesar de contar com 39 anos (faz 40 em Maio). Os seus filmes fazem os espectadores retornarem à adolescência em que os ídolos “pop”, as saídas à noite, os primeiros amores e os copos desnecessários parecem marcar a nossa vida (Socorro, querem ver que eu ainda não cresci!!!). No fundo, tudo se parece reconduzir ao viver exclusiva e unicamente pelas emoções fortes e pela odisseia da primeira impressão. Não há aqui espaço para grandes teoremas filosóficos, ou devaneios intermináveis. A “katana” e a aparência “fixe” podem representar aquela roupa nova que nos faz sentir as pessoas mais sexys do mundo inteiro. A pose ou frase mais emblemática, torna-se naquele cigarro ou cerveja que nem nos apetece consumir, mas que o fazemos para termos a figura do durão e do esclarecido da vida. O portento visual é o que interessa!
“Sky High” é um filme de Kitamura, possuindo desta forma todos os predicados acima referidos, e talvez mais alguns. Um desfile de “katanas” lindíssimo e personagens simplistas, mas com um “appeal” acima de qualquer censura. Já agora, há uma coisa de extrema importância que carece, acima de tudo, de ser mencionada. “Sky High” reúne no seu elenco um conjunto de mulheres de pasmar a vista!!! É impressionante! Kitamura deve ter efectuado um “casting” de modelos, em vez de actrizes. Estamos ainda a apreciar a beleza de um belo exemplar de rapariga japonesa, e já estamos a levar com outra em cima (e revoltados com o mundo, pela não literalidade física da expressão)! Isto não é justo para o subscritor deste escrito, e serve para distrair dos aspectos mais cinematográficos…e é por isso que peço desde já desculpa pela falta de objectividade deste singelo texto…
“Sky High” visa constituir a prequela de uma bem sucedida série da TV Asahi com o mesmo nome, e que igualmente viria a dar origem a uma “manga”. Trata-se acima de tudo de uma longa-metragem que visa expôr uma estória de amor trágica, mas que acaba por ser uma mescla de elementos que fazem lembrar filmes (vamos nos ficar pelos ocidentais) que vão desde “O Sexto Sentido”, passando pelo “O Corvo” e “Sempre”, dando um salto até “O Silêncio dos Inocentes” e “Duelo Imortal”, e um tempero com pitadas de “Kill Bill” e umas batidas techno. Confusos?! Não se preocupem, pois a película não é nada de transcendental, embora lide com temas que se reconduzem àquele aspecto, tais como os espíritos. Há ainda que contar com as cenas de luta, algumas extremamente bem conseguidas. Kitamura parece conseguir com que a cena mais idílica e calma se transforme de um momento para o outro numa orgia de violência, acção e espectacularidade. É como estar a ver um concerto de música clássica e de repente os assistentes todos, sem explicação aparente, começarem no “mosh” e no “stage diving”.
Os efeitos visuais revelam em geral uma boa qualidade, a que o desafogado orçamento não será alheio. Também temos as cenas marcantes, das quais pessoalmente, elejo como a supra sumo a entrada da noiva “Mina” na igreja, a esvair-se em sangue, tendo por pano de fundo o branco do seu imaculado vestido e a santidade do ambiente em redor. A aura é bastante negra, e por vezes podemos encontrar alguns elementos de “thrillers” na película, que são em pouco tempo ofuscados pelos aspectos mais fantasiosos.
“Sky High” é uma proposta interessante, que merecerá uma espreitadela descomprometida. É um “Kitamura”, e quem conhece as obras do realizador, saberá muito bem com o que contar. O conteúdo é fugaz, mas as costuras não aguentam e explodem de tanto estilo! Um campeão da superficialidade, mas mesmo assim, um orgulhoso representante do género onde se insere!
Autor:Jorge Soares (http://shinobi-myasianmovies.blogspot.com/)