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Sumo do, sumo don’t

No Japão, a juventude actual está mais interessada nos desportos ocidentais tais como o basebol, o futebol ou o basquetebol. O professor Anayama (Akira Emoto), um antigo campeão universitário de Sumo chantageia o seu aluno “Shuhei” (Masahiro Motoki), fazendo depender a sua licenciatura da condição de se juntar ao clube da modalidade, existente na universidade. O rapaz não consegue ver como se irá sair bem da história, considerando que não percebe nada de Sumo, além de ser magro.

Juntamente com outras personagens pouco convencionais, entre as quais “Smiley” (Robert Hoffman), um ocidental que só aceita lutar com calças, a equipa universitária começa a ganhar forma, embora os resultados sejam desastrosos pois nenhum dos elementos percebe alguma coisa do desporto em causa. Contudo, e gradualmente, as coisas começam a mudar de figura.

O Sumo é o desporto tradicional do Japão, com uma comprovada existência superior a 2000 anos e cujas raízes são associadas à religião xintoísta. Trata-se de uma modalidade que representa muito da identidade nacional do país do sol nascente, e que faz parte do dia-a-dia do seu povo. Contudo, e à semelhança do que acontece por todo o mundo, as tradições por vezes são difíceis de manter. Muito disto acontece pelo facto de os jovens não serem tão atreitos a preservar o que transitou dos seus antepassados para o presente, estando os seus interesses mais orientados para a modernidade e a inovação. Parece ser um facto praticamente consumado que a juventude japonesa parece estar mais orientada para prosseguir um estilo de vida ocidental, abandonando aos pouco o que de mais tradicional tem o seu país. “Sumo Do, Sumo Don’t” é uma comédia do realizador Masayuki Suo que visa satirizar precisamente este aspecto, ou seja, a relação dos jovens do Japão com um desporto que acontece ser um poderoso símbolo da nação. À altura, esta película teve uma aceitação francamente favorável, tendo sido a grande vencedora da 16ª edição do certame dos “Japan Academy Prize”, ocorrido no ano de 1993.

Com uma linha argumentativa simples, “Sumo Do, Sumo Don’t” é um exercício bem sucedido, onde não se envereda pela comédia fácil, mas sim por uma reflexão bem humorada não apenas acerca da relação dos jovens com o Sumo, mas igualmente por outros dois importantes temas.

O primeiro prende-se com a mensagem de as diferenças culturais entre o Ocidente e o Oriente serem perfeitamente (re)conciliáveis. Neste particular, a personagem de “Smiley”, interpretada por Robert Hoffman, é o catalisador da acção. O “gaijin” (expressão que designa “forasteiro” para os japoneses), não tem uma atitude favorável para com o Sumo. Isto é exemplificado pelo facto de se recusar a envergar a indumentária tradicional do Sumo, querendo combater com calças. No final, e como seria de prever, “Smiley” muda a sua atitude e acaba por agradecer aos seus colegas o facto de finalmente ter entendido o espírito japonês.

A segunda premissa adicional importante, reconduz-se ao papel da mulher no Sumo. É ponto assente, que este desporto é um domínio dos homens. “Sumo Do, Sumo Don’t” é considerado o primeiro filme, onde podemos ver não apenas uma mulher entrar no ringue, mas igualmente combater (disfarçada e através de um estratagema, é certo). Isto acontece quando “Masako” (personagem a cargo da actriz Masako Mamiya) combate em substituição de “Haruo” (Masaaki Takarai), um membro da equipa que se tinha lesionado.

O elenco, liderado por Masahiro Motoki que tivemos oportunidade de ver na obra-prima do cinema japonês “Okuribito – Departures”, comporta-se à altura. Não existem momentos de antologia a nível de interpretação, mas sim uma fluidez saudável que se aplaude. No que concerne aos momentos mais cómicos, e existem bastantes, estaremos perante um filme inteligente e despretensioso, que nos sensibilizará em alguns momentos. Pense-se apenas na constituição física de alguns dos membros da equipa, autênticos “trinca-espinhas”, que nunca na vida deteriam corpo para praticar um desporto como o Sumo, que exige, entre outras coisas, peso e robustez.

“Sumo Do, Sumo Don’t”, é um filme com uma grande dose de entretenimento, que aborda de forma interessante a juventude japonesa, as relações entre diferentes culturas e o papel importante da mulher na evolução da sociedade japonesa. Diverte sem ofender, e transmite uma série de mensagens significativas que perduram na nossa memória. Face ao exposto, e parabenizando Masayuki Suo pela competente realização, resta-me apenas aconselhar esta obra que já detém 18 anos de existência, mas com uma actualidade vibrante.

Autor: Jorge Soares (http://shinobi-myasianmovies.blogspot.com)

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