Tendo recebido uma carta de “Shizuru Satonaka” (Aoi Miyazaki), uma antiga colega de faculdade e o seu primeiro amor, “Makoto Segawara” (Hiroshi Tamaki) um jovem fotógrafo japonês viaja até Nova Iorque, tendo em vista encontrar-se com “Shizuru” e ver a primeira exposição desta que versa igualmente sobre fotografia. Durante a viagem, “Makoto” relembra memórias passadas, onde se deparou com “Shizuru” pela primeira vez. Ela tinha um aspecto de “nerd”, distante, com conversas estranhas e alienadas. “Makoto”, por outra via, era um rapaz tímido, com dificuldades de integração no meio universitário onde ambos deambulavam. O casal começa a partilhar experiências, e “Makoto” introduz “Shizuru” no mundo da fotografia, que exploram avidamente. O cenário é uma bela floresta, que parece um verdadeiro mundo à parte.
Quando parece que o casal partilha uma química inegável, “Makoto” demonstra ter uma paixoneta por “Miyuki” (Meisa Kuroki), uma linda jovem, bondosa e com um grande capital de popularidade. Quando parece que é esta relação que vai vingar, “Shizuru” sai de casa do pai e “Makoto”, devido a uma amizade sempre mantida, convida-a a viver com ele. Um sentimento mais forte desponta, mas quase inexplicavelmente, “Shizuru” parte sem avisar no fim da faculdade, e nenhumas explicações são dadas.
De volta ao presente, “Makoto” encontra-se deslumbrado com a urbe americana, e cada vez mais ansioso por estar frente a frente com “Shizuru”. No entanto, algumas surpresas estão reservadas…
Muitas vezes quando nos referimos ao melodrama do extremo oriente, actualmente a principal cinematografia que nos vem à cabeça será a da Coreia do Sul. Efectivamente, a cena deste país inevitavelmente acaba por fazer uso daquele aspecto, mesmo que as películas que estejam em causa sejam de outro género. Um filme de acção, épico ou comédia, a título meramente exemplificativo, não se furtará ao jogo de lágrimas se para isso tiver oportunidade. Ora não se pode ter uma abordagem tão empírica na análise deste prisma. Os japoneses sempre tiveram uma cinematografia admirável, com muitos anos de vasta experiência e passível de ser considerada por vezes inovadora. E isso traduziu-se em obras brilhantes, em realizadores competentes e actores de grande capacidade. Neste caso em concreto, o do melodrama, há que admitir que o espectro nipónico actual consegue debitar filmes tão dramáticos e apelativos como os sul-coreanos e com uma importante vantagem: não amiúde, aparentam ser mais credíveis e até realistas.
“Heavenly Forest” é uma película que vem na sequência da longa tradição do melodrama japonês, e navega nos temas do amor puro e inocente, que aposta imenso na simplicidade e ingenuidade adorável/sonhadora das personagens. Este tipo de abordagem autonomizou-se quase num subgénero, que tem se tornado popular nos últimos anos, principalmente no país do sol nascente e no sul da península coreana. Atendendo ao segmento onde se insere, o que torna “Heavenly Forest” numa boa proposta passará pelo facto de o romance central do filme quase nunca ser manipulador e fazer-nos efectivamente sonhar com tempos idos que a memória nunca apagará.
O que marca muitos pontos a favor de “Heavenly Forest” passa por esta longa-metragem não se focar apenas na história de amor, mas ter um enredo paralelo e ao mesmo tempo complementar, que analisa de uma forma emotiva, um tema que é caro a muitos (e a mim pessoalmente), a vivência universitária. Mas não se julgue que estaremos perante as corriqueiras tramas superficiais que grassam em muitos filmes, onde a superficialidade é rainha. Embora exista a clássica história dos “populares” e dos “geeks”, é-nos apresentada uma visão muito mais humanista, onde todos acabam por ter bom fundo, apenas agindo conforme as convenções e as aparências. Todos sabemos que isto se passa na realidade, e não há como negá-lo. Neste particular, apreciei “Miyuki”, a personagem interpretada pela lindíssima Meisa Kuroki. Trata-se de uma jovem, com todos os predicados físicos que uma mulher pode desejar, mas que verdadeiramente demonstra a sua grandeza através do afugentar do aparentemente palpável, e torna-se mesmo numa grande amiga de “Shizuru”, apesar de saber que esta é sua rival na disputa pelas atenções de “Makoto”. Como epílogo do enredo dito universitário, será a despedida dos amigos na entrada numa fase da vida completamente diferente. Trata-se de uma cena verdadeiramente de antologia e que constitui um dos momentos altos desta obra.
“Heavenly Forest” não foge ao inevitável “clímax” dramático, algo forçado e previsível é certo, mas que choca e enternece imenso. Aqui somos levados para o velho diapasão romântico “Será possível morrer por amor?” O poder destilado na forma como a situação é posta perante os espectadores , atinge-nos no âmago e não faz prisioneiros. E aqui é que os três actores principais da história, Aoy Miyazaki, Hiroshi Tamaki e Meisa Kuroki, fazem um trabalho de qualidade apreciável. Miyazaki, em particular, é adorável e derrete qualquer ser humano mais empedernido. A sua explanação de diversos estados emocionais enternece, e faz-nos imprecar contra a injustiça existente na vida, quando nos apercebemos que não podemos ter o que mais desejamos.
“Heavenly Forest” é um filme muito bonito visualmente, principalmente os momentos passados na floresta, com paisagens literalmente de arrepiar. O verde das árvores e da relva, alia-se muito bem ao azul cristalino das águas e os momentos de romance só ficam a ganhar com isso. A banda-sonora acompanha bem a aura que rodeia a película, e a título de curiosidade sempre se dirá que a música principal do filme, a balada “Renai Shashin”, da autoria da cantora e actriz Otsuka Ai, deu o título a esta película, tendo sido um grande sucesso no Japão.
Eivado de uma aura onde o amor, a amizade e a beleza se misturam de uma forma indelével e bem conseguida, “Heavenly Forest” é uma película inebriante de emoções, onde se elevam sentimentos a um nível de grandiosidade deveras apreciável. Aconselho vivamente!
Escrito por: Jorge Soares (http://shinobi-myasianmovies.blogspot.com)