Considerado um dos grandes mestres do cinema japonês e mundial, Yasujiro Ozu é tem uma vasta filmografia. Realizou o seu primeiro filme em 1027 e em 1929 já tinha realizado mais de uma dúzia de filmes.
Reza a história que em Novembro de 1929 realizou um filme, ou melhor uma curta metragem em três dias. A história original foi escrita por Nozu Chuji, pseudónimo de quatro colaboradores: o próprio Ozu, Noda Kogo, Okubo Tadamoto e Ikeda Tadao. Segundo Ozu e Noda contaram, eles receberam um adiantamento de Kido Shiro, o chefe do estúdio, com a promessa de escrever um argumento para um filme. Mas o que eles fizeram foi ir beber cerveja alemã num bar chamado “Fledermaus” em Higashi-Ginza. Enquanto bebiam e conversavam, criaram a história. Ikeda escreveu o argumento e depois Ozu realizou em tempo recorde.
Tokkan kozo (突貫小僧) que na língua de Camões significa um rapaz simples, é um filme mudo a preto e branco de 38 minutos, que permanece perdido, como muitos filmes japoneses gravados antes da Segunda Guerra Mundial, mas que foi possível ser recuperado e restaurar 14 minutos desse filme.
Foi produzido nos estúdios Shochikiu Kamata e tem como actor principal Aoki Tomio, uma criança que Ozu quis dar-lhe um protagonismo especial depois de também ter sido actor no seu filme anterior, A Vida de um Trabalhador de Escritório (Kaishain seikatsu) também em 1929. Devido a este filme, Aoki Tomio foi chamado de “Tokkan Kozo” e tornou-se muito popular nos filmes mudos de Ozu em especial no filme conhecido como Eu nasci, mas… (mas que na sua versão original tem este extenso nome de 大人の見る絵本 – 生れてはみたけれど, leia-se Otona no miru ehon – Umarete wa mita keredo ou seja Um livro de imagens para adultos – Eu nasci, mas…), tornando-se um actor regular nos filmes de Ozu até o final da guerra.
O filme conta-nos o “infeliz” dia de um sequestrador que rapta Tetsubo, uma criança com um apetite insaciável por doces. Incapaz de mantê-lo sob controle, Bunkichi, o sequestrador decide levá-lo ao seu chefe. Este recusa e diz-lhe que tem que o levar de volta para o sítio onde o encontrou.
Apesar de ser uma curta a preto e branco, sem som e de terem partes em falta como a cena em que os sequestradores tentam, sem sucesso, devolver o rapaz, Tokkan kozo é uma comédia leve e agradável, que vale a pena assistir se forem fãs do cinema do grande mestre Ozu ou do seu elenco.
Se não acreditam podem ver a curta aqui ou na NIJI TV.
Escrito por: Fernando Ferreira