As noites de Tóquio são bastante movimentadas e escondem vidas duplas das pessoas mais banais, A Stranger of Mine (título original Unmei janai hito) é um filme que nos diz que ninguém está sozinho, mesmo quando estamos no nosso quarto com a porta fechada.
O filme começa com a primeira meia-hora seguindo as vidas de dois habitantes comuns da cidade de Tóquio. Maki (Reika Kirishima, que participou em Kagen no tsuki, que teve a sua versão em português com o título de A Última Fase da Lua e Versus) deixa o seu noivo por suspeitar que ele o traíra e vagueia pelas ruas a tentar decidir o que irá fazer da sua vida no futuro. Takeshi Miyata (Yasuhi Nakamura, que entrou também nos filmes Ju-On 2 e Chakushin ari – Uma chamada perdida em português) é um “salaryman” que gastou o seu dinheiro para comprar um apartamento novo à sua namorada, Ayumi (Yuka Itaya) e que esta o deixou ainda antes da tinta ter secado. O encontro dos dois num restaurante inicia uma nova relação amorosa entre ambos.
Mas fazendo um “rewind” do dia, apercebemonos que estamos perante uma história de detectives que envolve o detective particular Yusuke Kanda (Sou Yamanaka) amigo dos tempos de liceu de Takeshi Miyata, e a fuga e a vida parelala de Ayumi (Yuka Itaya). Mas quando estamos a pensar que seguimos toda a sequência da história, eis que o filme dá uma volta, e depois outra e a seguir mais uma volta. As mesmas cenas são baralhadas e tornadas a baralhar como de um baralho de cartas se tratasse, mostrando-nos os vários pontos de vista de cada personsgem. Enquanto o dinheiro é roubado, várias situações acontecem, acidentes de carro são evitados, chamadas de telefone são feitas, pessoas que se escondem atrás das portas e debaixo das camas, o realizador Uchida mostra-nos um mundo onde tudo o que fazemos pode ter consequências imediatas e ninguém vive sozinho.
A Stranger of Mine pode ser dividido em três partes. A primeira meia-hora é a típica história do rapaz procura rapariga. A segunda meia-hora é uma história de detectives, e por fim um film post-moderno de gansters onde a yakuza procura os culpados de um pequeno desvio monetário.
O interessante do filme é a sua narrativa não-linear e com histórias encadeadas a fazer-nos lembrar o clássico “Pulp Fiction” de Tarantino. Ou seja, o amigo do rapaz que procura rapariga na primeira parte do filme “transforma-se” em detective na segunda parte, e a Yakuza está mais perto deles do que toda a gente suspeita.
O filme foi galardoado em vários festivais, entre os quais o Festival de Cannes de 2005 e o de Hochi (Japão) onde Kenji Uchida ganhou o prémio de melhor realizador. Desde os tempos de liceu que Uchida Kenji aspirou a ser realizador de cinema.
Nasceu em 1972 e estudou cinema na San Francisco State University em 1992. Depois de se ter formado em 1998, Uchida regressa ao Japão e realiza “WEEKEND BLUES” com os seus próprios meios, e é recompensado por isso. Ushida recebe uma bolsa como prémio em 2004 para criar o seu primeiro “grande” filme “A Stranger of Mine”. Já em 2006, A Stranger of Mine foi presenteado com dois prémios para melhor actores secundários Kisuke Yamashita e Yuka Itaya no Mainichi Film Concours (Japão).
A Stranger of Mine é um filme inteligente mas ficamos com a sensação de dejá-vu, o que nos leva a pensar que o filme tinha potencial para ser uma coisa ainda melhor.
Escrito por: Fernando Ferreira