As personagens do filme Versus A Ressurreição não possuem nomes que as identifiquem, e apenas o herói da estória, interpretado por Tak Sakaguchi, tem uma breve referência como o prisioneiro KSC2-303. Tal poderá levantar dificuldades na leitura da sinopse, mas tentaremos dar o nosso melhor, como de costume.
Há 500 anos atrás, na Floresta da Ressureição, um jovem samurai luta contra um bando de zombies, conseguindo leva-los de vencida com a sua katana. A vitória não dura muito, pois o guerreiro depara-se com uma estranha personagem (Hideo Sakaki) que o assassina impiedosamente. Tudo isto é assistido com atenção por outro samurai (Tak Sakaguchi).
De volta ao presente, dois condenados fogem da prisão, e embrenham-se numa estranha floresta, tendo em vista alcançarem um grupo de yakuzas que os ajudem a completar a fuga. Os gangsters esperam pelos foragidos, mas recusam-se a arredar pé, enquanto o chefe não chega. Um dos prisioneiros, KSC2-303 (de novo Tak Sakaguchi), envolve-se numa altercação com os yakuzas, devido a uma rapariga (Chieko Misaka) que estes raptaram e decide, sem mais, fugir com ela pela misteriosa floresta. Os yakuzas não se deixam ficar e resolvem ir no encalço dos jovens.
Cedo o casal descobre que a floresta tem os seus tenebrosos segredos, encontrando-se infestada de zombies sedentos de sangue. O número de mortos-vivos aumenta exponencialmente, à medida que a matança grassa, e os falecidos acordam completamente alterados.
Quando o chefe Yakuza (outra vez Hideo Sakaki) finalmente chega ao local, segredos imemoriais começam a ser desvendados, e a verdade começa a vir à tona, estando intimamente ligada a um portal para um mundo paralelo que se encontra na floresta, e a um verdadeiro duelo imortal em que são intervenientes principais KSC2-303 e o líder dos gangsters, constituindo a rapariga a chave essencial para a resolução da trama.
Com um misto de litros de sangue a jorrar, toneladas de violência gratuita, comédia q.b., zombies, uma floresta sinistra e misticismo a rodos, chega-nos um dos verdadeiros itens cinematográficos de culto do reino do sol nascente, Versus A Ressurreição. Sob a chancela do competente realizador Ryuhei Kitamura, responsável, entre outros, por Aragami, Azumi, a Assassina e Godzilla: Final Wars, obtemos um filme que nos deixa sem fôlego quase do princípio ao fim.
Versus tem o condão de congregar os amantes de vários estilos cinematográficos distintos, que vão desde o puro gore, a acção, as artes marciais, ao chambara, o oculto, etc. No entanto, devido à sua grande versatilidade e porventura a uma perigosa e pouco ortodoxa fusão de géneros, poderá afastar os mais tradicionalistas do seu visionamento. Quanto a mim, tenho a dizer que agradou de sobremaneira!
As cenas de luta são de ver e chorar por mais, quer se consubstanciem em trocas de golpes de espada ou de pancada à moda antiga (com auxílio de alguns guindastes admita-se), ou duelos infernais de tiroteio à John Woo em que as balas parecem nunca acabar. Não amiúde acontece tudo ao mesmo tempo, ou seja, katana, punhos, pés e balas! Estamos pois, de certa forma, perante um verdadeiro Gun-fu, se me é permitida a designação.
A caracterização das personagens encontra-se bastante boa, e só não vai mais além, pois em certos momentos podemos nos aperceber que estamos perante um filme que não teve um orçamento desafogado. Mesmo assim, os zombies estão aterradores quanto baste, e o dinheiro que havia deve ter ido metade para comprar litros e litros de sangue falso!
O guarda-roupa está muito cool, com o negro e o cabedal a marcarem a presença dominante, num registo que se assemelha a uma trilogia dos irmãos Wachowski que todos nós bem conhecemos. O cenário resume-se praticamente a uma floresta que parece ter sido retirada de Blair Witch, e que se assume como um fundo verdadeiramente claustrofóbico, apesar de ser um espaço aberto e ao ar livre. A certa altura ficamos com a sensação que só existe a vegetação, as personagens e absolutamente nada mais!
A banda-sonora consiste sobretudo em música electrónica, muito estilo techno, rápido o suficiente para acentuar as partes de acção. As melodias tradicionais marcam igualmente a sua presença, nos recuos da estória até ao Japão feudal. Contudo, o realce aqui vai para os sons de fundo que acompanham o deambular das personagens pela Floresta da Ressurreição, que fazem aumentar o sentimento de reclusão e de suspense.
O fim revela uma grande surpresa, e mais não digo! Este misto de Evil Dead, Highlander, Matrix e sei lá mais o quê, convém não perder!
Autor:Jorge Soares in My Asian Movies (shinobi-myasianmovies.blogspot.com/)